O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, afirmou que 2026 deverá ser um ano bom para o setor produtivo, com um clima mais equilibrado e avanços nas colheitas. Ele indicou ainda que o campo passa por um momento de “ajuste” diante do aumento do endividamento e das restrições de crédito.
“Será um ano bom para a agricultura brasileira. O clima está sinalizando que teremos equilíbrio climático e vamos bater outro recorde de produção. Temos que mostrar rapidamente ao mundo que temos que passar de 400 milhões de toneladas de produção. Isso o produtor rural tem competência para fazer”, afirmou Martins em coletiva de imprensa nesta terça-feira (9/12).
A projeção para a safra 2025/26 é de colheita de mais de 350 milhões de toneladas novamente. Martins afirmou que o Brasil está “consciente da sua responsabilidade de ser grande produtor de alimentos para o mundo”.
Questionado sobre o cenário de endividamento no campo e de maior restrição na oferta de crédito rural, o dirigente avaliou que o setor agropecuário passa por um momento de ajuste, mas ressaltou a necessidade de garantia de recursos oficiais, com subsídios estatais, para que a produção possa ser ampliada.
“O produtor não tem disponibilidade de recursos dos bancos oficiais e tem maior aporte de capital dos próprios produtores, aqueles capitalizados de safras anteriores, por isso tivemos possibilidade de crescimento da produção mesmo com escassez de financiamento”, avaliou. “Está havendo um ajuste. Se continuar esse cenário de juros altos impostos ao produtor, veremos rapidamente uma nova agricultura no Brasil, quase autossustentável por parte do produtor”, apontou.
Segundo ele, essa autossustentabilidade em termos de financiamento não é interessante. “Até onde é interessante para produtor? Eu acho que não é. Precisava de aporte de recursos oficiais para ampliar a produção”, destacou.
Crédito mais restrito
Sem “bala de prata” para solucionar o alto endividamento rural e com aumento nos custos de produção, a CNA vê possibilidades de menor investimento no pacote tecnológico para plantio e manejo das lavouras, mas ainda sem impactos diretos no volume total a ser colhido no próximo ano.
Uma constatação da entidade é que, com crédito mais restrito nos bancos e empresas de insumos, o produtor rural capitalizado tem aplicado mais recursos próprios para financiar a safra. A “normalização” do ambiente de financiamentos para a agropecuária pode demorar mais um ano, disse Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.
“O crédito não vai se resolver de um ano para o outro, precisaremos de mais um ano para ter estabilidade maior desses financiamentos”, afirmou. “Tem aumentado o investimento de capital próprio, algo que tinha caído recentemente, e voltou a crescer, porque as taxas de juros atuais e a exigência de garantias levam os produtores a fazer a safra com recursos próprios”, completou.
Em outubro de 2025, o crédito rural com taxas livres registrou seu maior índice de inadimplência desde o início da série histórica, em 2011, com a marca de 11,4%. No mesmo período do ano passado, as operações de financiamento a juros de mercado com atrasos superiores a 90 dias eram 3,54% e em janeiro de 2023, 0,59%.
“Não tem bala de prata para resolver a questão do endividamento, mas tem algumas medidas que podem amenizar a situação, como reduzir os penduricalhos que existem hoje no acesso ao crédito e que encarecem a conta final”, disse o diretor. Estudos da CNA apontam que pequenos produtores chegam a pagar 22% sobre o valor financiado por conta de taxas cartoriais para registro de cédulas e “reciprocidades” com as instituições financeiras, como a compra de seguros.
Lucchi disse que a CNA tem discutido melhorias no acesso ao crédito privado. “Temos discutido como melhorar o arcabouço legal, para ter mais atratividade do crédito privado e amenizar as taxas e a falta de recursos do Plano Safra atual”, disse na coletiva.
Lucchi afirmou que os preços de algumas commodities devem reagir em 2026, como o milho, cuja cotação pode avançar até 15% em função da redução dos estoques mundiais. A situação da soja também deve melhorar para o produtor, mas não na mesma intensidade, pontuou.
“O que visualizamos é que, com exceção de algumas cadeias, teremos ajuste nos preços dos produtos. Soja e milho devem ter incremento nos preços”, ressaltou.
Por outro lado, a margem seguirá pressionada. “O custo de produção vai estar maior, em função de insumos e custo de financiamento da produção. Quando se fala de arrendamento, a situação é ainda mais grave, pois muitas vezes são contratos feitos com preços exorbitantes e que o produtor tem que desmobilizar capital para honrar compromissos”, concluiu Lucchi.
Desafios
Apesar dos desafios, João Martins disse que a agricultura nacional seguirá respondendo às demandas por alimentos, principalmente o interesse estrangeiro por produtos brasileiros. “A agricultura é encaminhada com demanda internacional. Na soja, por exemplo, cresceu e chegou a esse patamar por causa da demanda internacional, enquanto tiver demanda vamos produzir”, garantiu.
Reeleito para mais um mandato à frente da entidade, até 2029, Martins disse que cumpriu a meta de criar uma nova classe média rural, com alcance da assistência técnica e gerencial a 484 mil pequenos produtores que melhoraram de vida ao longo dos últimos oito anos. Agora, o foco é em inovação, disse o dirigente.
“A agricultura brasileira é muito dinâmica. Com certeza, o que eu pensava há oito anos não é a mesma coisa pelo dinamismo da agropecuária. Hoje o foco é inovação, inteligência artificial. A agricultura brasileira é de inovação. O produtor rural é mais exigente porque o mercado lá fora não dá trégua”, completou.
Um dos pontos de atenção da entidade ainda é a baixa competitividade da produção leiteira nacional. Com processo aberto no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para aplicação de direito antidumping contra importações de Uruguai e Argentina, a CNA vê a necessidade de aumentar a produtividade interna.
“Não é só problema da concorrência violenta do Uruguai e Argentina, eles são mais eficientes. O problema do Brasil é que somos um país desigual em termos de produtividade”, afirmou Martins. “Precisamos trabalhar, por enquanto estamos conseguindo parar a entrada do leite em pó, porque lá tem alta produtividade a baixo preço e conseguem colocar leite barato no Brasil. Temos que fazer com que a nossa produção seja eficiente e competitiva com o mundo todo”, concluiu.
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