Uma combinação de demanda mais fraca e expectativa de safras maiores derrubou os preços futuros do suco de laranja, do cacau e do açúcar na bolsa de Nova York em outubro, ampliando as perdas no acumulado do ano. Seguindo tendência oposta, os contratos futuros de soja, na bolsa de Chicago, e de café, em Nova York, subiram no mês, sob o impacto da política de tarifas imposta pelos Estados Unidos a produtos importados.
O suco de laranja liderou as quedas em outubro, com o valor médio dos contratos de segunda posição caindo 17,9% na comparação com o mês anterior, segundo cálculos do Valor Data, para US$ 2,021 por libra-peso. A safra maior de laranja no Brasil neste ano e a queda na demanda global pressionam as cotações, diz Andrés Padilla, analista de suco de laranja do Rabobank.
Segundo ele, o consumo caiu por volta de 8% nos Estados Unidos e na Europa. “Havia uma leitura de que os preços ao consumidor iriam cair, acompanhando as quedas na bolsa, mas os preços continuam altos, desestimulando o consumo”, afirma.
Cacau também teve baixa em outubro
A retração na demanda também derrubou os preços do cacau. Além disso, a expectativa de uma safra marginalmente melhor no Oeste da África — que concentra a produção mundial —, contribuiu para a queda, diz Lucca Bezzon, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Conforme o Valor Data, o valor médio dos contratos de segunda posição do cacau caiu 15,5% em outubro, para US$ 6.142 por tonelada. “Os dados de moagem reforçam a perspectiva de queda da demanda industrial no último trimestre do ano”, afirma Bezzon.
Levantamento da StoneX que agrega dados de processamento de América do Norte, Europa, Brasil, Ásia e Costa do Marfim, indica moagem de 792 mil toneladas de cacau no terceiro trimestre, queda de 12,9% na comparação anual. “As indústrias de confeitaria estão comprando menos das processadoras porque têm dificuldade de manter os custos com os preços altos do cacau”, observa.
Preço do açúcar refletiu alta na oferta
No mercado de açúcar, o aumento da oferta global foi o principal fator para a baixa. “Estamos saindo de um déficit global na safra 2024/25 e entrando na safra 2025/26 com previsão de superávit global, de 2 milhões a 4 milhões de toneladas”, diz Andy Duff, estrategista global do setor açúcar e álcool do Rabobank. Há expectativa de aumento de produção na Índia, na Tailândia e no Brasil.
Para o analista, considerando atuais preços do açúcar no mercado “surpreende não haver interesse dos compradores em recompor os estoques que estão baixos”. De acordo com o levantamento do Valor Data, em outubro, o preço médio dos contratos de segunda posição caíram 7,81% em relação ao mês anterior, para 15,10 centavos de dólar por libra-peso.
Café permaneceu quase estável
No mercado de café, após dois meses de forte alta, houve grande oscilação em outubro, mas os contratos encerraram o mês praticamente estáveis. Conforme o Valor Data, os papéis de segunda posição subiram 0,21%, para US$ 3,7291 por libra-peso. A rolagem de posições dos contratos de dezembro para março contribuiu para ampliar as oscilações, diz Gil Barabach, analista-chefe de café da Safras & Mercado.
“As indústrias americanas pressionam o governo Trump para fazer um acordo com o Brasil de isenção de tarifas para importação de café. Isso pode pressionar os preços em novembro”, afirma Barabach. O produto brasileiro tem sobretaxa de 50% nos EUA.
Mercado de soja de olho na China
Na bolsa de Chicago, a soja fechou em alta em outubro, impulsionada pela perspectiva de retomada das compras do grão americano pela China. Na quinta-feira, Pequim concordou em adquirir 12 milhões de toneladas de soja dos EUA até dezembro, e 25 milhões de toneladas por ano, nos próximos três anos. Segundo cálculos do Valor Data, os contratos de segunda posição encerraram outubro com alta de 1,34%, para US$ 10,5209 por bushel.
Luiz Carlos Pacheco, analista sênior da TF Consultoria Agroeconômica, observa que a China compra cerca de 100 milhões de toneladas de soja por ano, sendo cerca de 60 milhões de toneladas do Brasil. “O Brasil vai continuar vendendo bastante soja para a China, mesmo com o acordo americano”, diz.
Milho subiu e trigo caiu
O milho fechou o mês com leve alta em Chicago, influenciado pela demanda aquecida pela chegada antecipada do inverno no Hemisfério Norte. “O inverno dá sinais de que pode ser mais forte, isso aumenta a demanda por grãos”, diz Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Segundo o Valor Data, os contratos de segunda posição encerraram outubro com alta de 0,41%, a US$ 4,3947 por bushel.
Já o trigo teve uma pequena queda. A oferta global maior que a demanda pressiona, embora na última sessão do mês, os preços tenham subido, com preocupações sobre o impacto do clima seco nas lavouras americanas.
Preço do algodão refletiu alta na oferta
Os preços do algodão recuaram em Nova York em outubro, com o aumento da oferta global e o consumo fraco da pluma. Mas o cenário de preços pode mudar, diz Fernando Berardo, diretor de Commodities América Latina da Barchart.
“As restrições impostas pelos EUA ao petróleo da Rússia têm impacto nos preços das fibras sintéticas, e, em consequência, nos preços do algodão”, afirma. Soma-se a isso a expectativa de redução de 2% na produção mundial de algodão na próxima safra, e a queda nos juros dos EUA, que pode estimular o consumo, atuando como fator altista nos próximos meses.







