Com o avanço da era digital e o uso intensivo de smartphones, tablets e computadores, um novo problema de saúde tem preocupado especialistas: o “pescoço de texto” ou text neck. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% da população mundial sofre ou sofrerá com dores na coluna em algum momento da vida, e entre os principais fatores está o uso inadequado de dispositivos móveis.
O text neck, segundo Henrique Nogaroto, doutor em promoção da saúde e professor de fisioterapia da UniCesumar, é caracterizado pela sobrecarga da coluna cervical devido à inclinação frequente da cabeça para visualizar telas, o que tem levado a um aumento expressivo de queixas como dores, queimação e desconforto na região do pescoço. “O quadro pode evoluir para condições mais graves como alteração da posição anatômica da coluna, contraturas musculares crônicas, hérnias discais e dores crônicas que afetam a qualidade de vida”, explica o especialista, que tem um livro publicado sobre o tema, “Homo Smartphonicus – A saúde do indivíduo ultraconectado”.
O problema que já atinge crianças e adolescentes é, ainda, mais prevalente entre adultos jovens. “Com a necessidade cada vez maior de estarmos conectados, desde cedo, crianças e adolescentes já podem manifestar sintomas como desconfortos, dores e alterações posturais decorrentes do pescoço de texto. Mas a população mais atingida e com maiores problemas como hérnias discais é a classe trabalhadora ou na faixa etária dos 25 a 40 anos.”
Mais do que dores na cervical e alterações posturais, o professor destaca que a coluna vertebral é um segmento único, em que a alteração em uma de suas partes, leva à sobrecarga de outras. “Além disso, os movimentos da caixa torácica e sua mobilidade estão ligados à coluna e respiração, os quais também podem sofrer consequências”, esmiúça.
Como ficar sem usar celular é uma tarefa quase impossível nos dias de hoje, Henrique recomenda que o uso de telas seja ponderado, ou seja, com períodos de utilização e outros de descanso do seu uso para que não ocorra a sobrecarga. “Ao mesmo tempo, é importante dar atenção quanto à postura do pescoço na hora de utilizar principalmente os dispositivos móveis, como o smartphone.”
Tratamento
O tratamento clínico, conforme ele, aborda basicamente a utilização de analgésicos, associado em alguns casos aos anti-inflamatórios e relaxantes musculares. “Em associação, pode ser indicado o acompanhamento e tratamento fisioterapêutico, através de recursos e técnicas para reestabelecer a função muscular afetada, assim como a educação em saúde e ergonomia do indivíduo”, explica.
Concomitantemente, o próprio indivíduo pode também atentar-se a algumas recomendações de especialistas da área, como forma de prevenção ao aparecimento dos primeiros sintomas ou situações funcionais mais graves no futuro, como a atenção quanto à postura do pescoço durante a utilização de dispositivos móveis, por exemplo, e a determinação de períodos de uso e de descanso destes tipos de dispositivos ou telas. “Vale lembrar que o tempo de uso é o principal fator causal dos sintomas e, portanto, deve ser sempre controlado”, ressalta o professor.