As carnes foram destaque na leitura de inflação de setembro, com alta de 2,97% nos preços, a maior desde 2020, quando subiram 3,58%. Para Carlos Thadeu, economista da BGC Liquidez, o cenário sinaliza uma piora na dinâmica do grupo alimentação nos próximos meses.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que o preço dos alimentos subiu 0,44% em setembro, após recuo de 0,02% em agosto. Esse comportamento ajudou o grupo alimentação no domicílio a sair de -0,73% para +0,56% na virada do mês.
Veja quais carnes ficaram mais caras em setembro
- Contra-filé: 3,79%
- Carne de porco: 3,67%
- Patinho: 3,15%
- Costela: 3,1%
- Pá: 3,04%
- Alcatra: 3,02%
- Acém: 2,96%
- Lagarto redondo: 2,72%
- Lagarto comum: 2,67%
- Filé-mignon: 2,47%
- Chã de dentro: 2,44%
- Peito: 2,21%
- Músculo: 1,56%
- Fígado: 0,83%
- Cupim: 0,46%
- Picanha: 0,12%
Por que o preço da carne subiu?
Para entender a alta no preço das gôndolas é preciso entender o que está acontecendo no campo. A junção de uma das maiores secas da história com uma demanda por carne bovina firme, tanto no mercado interno quanto no mercado externo, causou uma elevação nos preços do boi gordo.
No fim de setembro, a arroba do boi estava sendo negociada a R$ 300, segundo a Safras & Mercado, na comparação com R$ 215 no primeiro trimestre. Em pouco mais de um mês, o preço do boi gordo subiu cerca de 24%.
O analista Fernando Iglesias afirma que a seca reduziu a oferta de pastagens e elevou o custo de produção. E diante de tais condições, “a oferta de animais criados em sistema extensivo só deve se recuperar a partir de 2025”.
A BGC vê alta de 4% a 6% no valor das carnes em outubro. Para o ano cheio, a projeção é de 4,80%, na esteira dos choques de oferta ligados à forte estiagem no Brasil. Nesse sentido, mesmo o alívio esperado nos preços de combustível acabou saindo do radar, já que os preços do petróleo voltaram a subir em meio a tensões geopolíticas no Oriente Médio e o furacão no Golfo da Flórida.
Frutas também puxam alta
Em relação a outros alimentos, as maiores altas foram registradas em frutas, como mamão (10,34%) e laranja-pera (10,02%). Ambas também subiram devido ao tempo quente e seco nas áreas produtoras.
Levantamento da Centro de Estudos em Economia Aplicado (Cepea) e divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou o valor de R$ 5,17 o quilo para o mamão no Sul da Bahia na semana passada, 82% mais que na semana anterior. No Espírito Santo, a elevação foi de 95%.
Segundo colaboradores do Hortifrúti/Cepea, essa valorização é resultante do baixo volume colhido ainda em agosto, que foi acentuado pela queda da temperatura em algumas regiões, sobretudo nos períodos noturnos, que desacelerou a maturação do fruto e o segurou mais tempo no pé. Apesar disso, já em setembro a oferta da fruta tem aumentado e deve voltar à normalidade.
No caso da laranja, além do calor, que tem prejudicado a produção no campo, a cultura enfrenta o crescimento de uma doença chamada greening, que reduz o potencial produtivo das lavouras. Ao mesmo tempo, as elevadas temperaturas aquecem o consumo de laranja no mercado in natura.
Assim, os preços da laranja seguem em alta no atacado e deve ser repassados ao consumidor no próximo mês. Na semana encerrada em 4 de outubro, a média da laranja-pera na árvore alcançou R$ 121,94 a caixa, aumento de 2,53% em relação à semana anterior.
Vale lembrar, no caso das frutas que elas têm um peso muito pequeno na inflação geral e na vida do consumidor. Enquanto as carnes chegam a 2,3% do IPCA geral, as frutas todas não passam de 1,2%. A laranja fica com 0,0052% do total e o mamão, 0,1223%