O dispositivo intrauterino (DIU) é um dos métodos contraceptivos mais usados globalmente. Porém, um novo estudo, publicado na revista científica JAMA Network na última quarta-feira (15/10), assustou usuárias do mundo inteiro.
Segundo o levantamento dinamarquês feito com cerca de 157 mil mulheres, há um risco 1,4 vezes maior de desenvolver câncer de mama entre as participantes que usam o DIU hormonal com levonorgestrel (conhecido, no Brasil, como Mirena).
“É um estudo importante, pois usa um banco de dados grande. Porém, clinicamente, um risco abaixo de dois não é considerado relevante e não mostra que há uma relação clara entre o câncer e o DIU”, explica a presidente da comissão de anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ilza Maria, em entrevista ao Metrópoles.Play Video
Ela aponta que, em casos de ligação consolidada, como o do câncer de pulmão com o tabagismo, há um risco 15 ou 16 vezes maior de ter a doença entre os fumantes — esse número, sim, é considerado relevante e suficiente para apontar uma relação direta.
Ilza explica que o estudo não considerou vários outros fatores que estão relacionados com o desenvolvimento de câncer de mama, histórico familiar, ganho de peso após a menopausa, consumo de álcool, sedentarismo e ter tido filhos, por exemplo. Na ponta do lápis, inclusive, o grupo que não usava métodos contraceptivos teve mais casos da doença do que o de usuárias do DIU.
“A conclusão da pesquisa é que não é possível estabelecer uma relação causal entre o DIU e o desenvolvimento de câncer. O estudo tem muitas limitações e, por isso, não muda condutas e nem gera preocupações além das que a gente já tem. Não mudou nada: o DIU continua sendo seguro”, afirma a ginecologista.
DIU pode ajudar a evitar cânceres
A especialista da Febrasgo explica que tumores ginecológicos em geral estão muito ligados aos hormônios — o de mama, por exemplo, cresce com estrogênio e progesterona. Porém, o DIU está ligado à diminuição do risco de câncer de endométrio, colo de útero e até de ovário.
“Sem contar os outros benefícios: muitas mulheres conseguem controlar hemorragias menstruais com o DIU, e outras não morreram no parto por terem usado um método contraceptivo eficaz”, explica Ilza. Ela lembra que, se houver prova científica que o dispositivo pode trazer malefícios para a usuária, a Febrasgo tem compromisso e obrigação de ser a primeira a alertar a população.
Em um artigo publicado na plataforma de divulgação científica The Conversation, o professor Brett Montgomery, da University of Western Australia, lembra que existem outros estudos que analisaram a relação entre o DIU hormonal e o câncer de mama — um levantamento muito maior e recente feito na Suécia chegou à mesma conclusão do estudo dinamarquês e mostrou um aumento de 1,46 vezes na chance de ter a doença.
“A ligação entre o DIU hormonal e o câncer da mama é provavelmente muito pequena e pode ser mais uma ilusão estatística do que algo real. Os DIUs hormonais não são a escolha contraceptiva certa para todas as mulheres, porém, eles merecem ficar no topo do cardápio de opções”, afirma o professor.