Seguir a dieta mediterrânea reduz o risco de doença periodontal, que por sua vez diminui o risco de inflamação que pode levar a doenças crônicas e demência, segundo um novo estudo.
Embora possa parecer uma combinação estranha, ela faz sentido cientificamente, segundo Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar do National Jewish Health em Denver.
“Sabemos há muito tempo que a saúde periodontal ou das gengivas está associada a doenças cardiovasculares e vice-versa — elas estão interligadas. Também sabemos que pessoas com doença periodontal geralmente apresentam marcadores de inflamação”, diz Freeman, que não participou do estudo.
Como isso se conecta às doenças crônicas? A inflamação pode causar doença vascular — o estreitamento, enfraquecimento ou até bloqueio dos vasos sanguíneos — que pode danificar órgãos como rins, pulmões, fígado e, claro, o cérebro. A demência vascular é a segunda forma mais comum de deterioração cognitiva depois da doença de Alzheimer.
A inflamação também provoca o sistema imunológico, que pode sair de controle e atacar o coração e outros órgãos. A inflamação crônica também promove a resistência à insulina e a disfunção celular que podem levar ao diabetes tipo 2 e à doença hepática gordurosa, uma preocupação crescente.
“Certamente faz sentido que, se você está seguindo uma dieta muito limpa, predominantemente baseada em plantas, como a dieta mediterrânea, a inflamação diminui”, afirma Freeman.
“Mas não pode ser a versão americana da dieta mediterrânea — aquela com toneladas de cordeiro e queijo feta”, acrescenta. “Tem que ser a verdadeira — uma dieta genuinamente baseada em vegetais”.
O que é a dieta mediterrânea?
Estudos descobriram que a premiada dieta mediterrânea pode reduzir o risco de diabetes, colesterol alto, demência, perda de memória, depressão e câncer de mama. A dieta, que é mais um estilo de alimentação do que uma dieta restritiva, também foi associada a ossos mais fortes e um coração mais saudável.
A dieta apresenta uma culinária simples e baseada em vegetais, com a maior parte de cada refeição focada em frutas e vegetais, grãos integrais, feijões e sementes, com algumas nozes e uma forte ênfase no azeite de oliva extra virgem. Gorduras diferentes do azeite, como manteiga, são consumidas raramente, se é que são consumidas, e açúcar e alimentos refinados são reservados para ocasiões especiais.
A carne vermelha é usada com moderação, geralmente apenas para dar sabor a um prato. O consumo de peixes gordurosos saudáveis, ricos em ácidos graxos ômega-3, é incentivado, enquanto ovos, laticínios e aves são consumidos em porções muito menores do que na dieta ocidental tradicional.
As interações sociais durante as refeições e o exercício são pilares fundamentais do estilo mediterrâneo de alimentação. As mudanças no estilo de vida que fazem parte da dieta incluem comer com amigos e família, socializar durante as refeições, consumir conscientemente os alimentos favoritos, além de movimento e exercícios conscientes.
Alto consumo de carne vermelha também está ligado ao risco
A pesquisa, publicada nesta segunda-feira no Journal of Periodontology, incluiu 200 participantes no Reino Unido. Os cientistas realizaram exames dentários e coletaram amostras de sangue — os participantes também preencheram questionários alimentares.
“A baixa adesão à dieta mediterrânea e o maior consumo de carne vermelha foram associados à gravidade da doença periodontal”, afirma o autor sênior do estudo, Luigi Nibali, dentista e professor de periodontologia do King”s College London, por e-mail.
O estudo descobriu que as pessoas que comiam mais carne vermelha e não seguiam a dieta mediterrânea apresentavam níveis mais elevados de marcadores inflamatórios circulantes, como interleucina-6 (IL-6) e proteína C-reativa (PCR).
“Esses marcadores aumentam na presença de trauma ou inflamação em qualquer parte do corpo. No entanto, às vezes há uma resposta exagerada que pode levar a mais doença gengival. Níveis mais altos desses marcadores significam mais inflamação”, explicou Nibali.
“O maior consumo de vegetais, legumes e produtos lácteos foi correlacionado com menor marcador inflamatório proteína C-reativa, então eles parecem ser benéficos. Também foram observadas algumas tendências benéficas para frutas e azeite de oliva”, acrescenta.
Na verdade, pesquisas anteriores mostraram que mastigar vegetais folhosos verdes e crucíferos, legumes, maçãs e frutas cítricas — todos componentes essenciais da dieta mediterrânea — pode promover dentes e gengivas saudáveis. Esses alimentos benéficos fornecem “nutrientes e uma resposta salivar que melhora a saúde bacteriana, que por sua vez melhora a inflamação geral”, afirma Freeman.
Embora os resultados do estudo não sejam surpreendentes, Freeman afirma: “É certamente um bom lembrete para prestar atenção aos seus dentes. E quando você segue uma dieta mais alinhada com a saúde do corpo, tudo parece melhorar, incluindo seus dentes.”