A dieta cetogênica — caracterizada pelo baixo consumo de carboidratos e alto teor de proteínas e gorduras — pode ajudar na perda de peso, mas, por outro lado, pode aumentar os níveis de colesterol ruim e reduzir a quantidade de bactérias intestinais benéficas para a saúde. Os achados são de estudo feito por pesquisadores da Universidade de Bath, do Reino Unido, e publicado no Cell Reports Medicine na segunda-feira (5).
Essa dieta é definida pela baixa ingestão de carboidratos, ou seja, é um tipo de dieta low carb. O consumo desse macronutriente — presente em alimentos como batata, arroz, mandioca e massas — é limitado a 20% da alimentação diária. Os outros 80% devem ser compostos por proteínas e gorduras boas, como peixe, frango, ovo, óleo de coco, castanhas, azeite e abacate.
Para entender se a dieta cetogênica era realmente benéfica para a saúde, pesquisadores do Centro para Nutrição, Exercício e Metabolismo da Universidade de Bath acompanharam 53 adultos saudáveis por 12 semanas.
Os participantes foram divididos em diferentes grupos conforme a dieta que foram instruídos a seguir: dieta moderada em açúcar (controle), dieta com baixo teor de açúcar (menos de 5% das calorias vindas do ingrediente) ou uma dieta cetogênica com baixo teor de carboidratos (menos de 8% das calorias vindas desse macronutriente).
De acordo com o estudo, a dieta cetogênica aumentos os níveis de colesterol, particularmente em partículas LDL (o colesterol “ruim”) de tamanho pequeno e médio. Além disso, esse tipo de alimentação aumentou a concentração de apolipoproteína B (apoB), que causa acúmulo de placas de gordura nas artérias. Por outro lado, a dieta com baixo teor de açúcar reduziu significativamente o colesterol ruim.
A dieta cetogênica também reduziu a quantidade de bactérias intestinais benéficas, como as Bifidobactérias, que são frequentemente encontradas em alimentos probióticos e são responsáveis pela produção de vitamina B e por inibir patógenos e bactérias nocivas à saúde. A dieta com restrição de açúcar não impactou significativamente a composição do microbioma intestinal.
Em contraste, o estudo descobriu que a dieta cetogênica reduziu a intolerância à glicose, e, consequentemente, o risco de diabetes tipo 2. Além disso, ambas as dietas levaram a uma perda de peso: a cetogênica resultou a uma perda de peso média de 2,9 kg de massa gorda por pessoa, enquanto a dieta com restrição de açúcar resultou em uma perda média de 2,1 kg de massa gorda por pessoa em 12 semanas. Os pesquisadores também notaram que a dieta cetogênica causou mudanças no metabolismo de gordura.
No entanto, apesar de a dieta cetogênica poder contribuir para o emagrecimento, os pesquisadores consideram as descobertas preocupantes, principalmente no que diz respeito ao colesterol.
“Apesar de reduzir a massa gorda, a dieta cetogênica aumentou os níveis de gorduras desfavoráveis no sangue de nossos participantes, o que, se mantido por anos, pode ter implicações de saúde a longo prazo, como aumento do risco de doenças cardíacas e derrame”, afirma Aaron Hengist, pesquisador principal do estudo, em comunicado à imprensa.
Além disso, Russell Davies, líder da pesquisa sobre microbioma, explicou que a dieta pode causar impacto na saúde intestinal. “A fibra alimentar é essencial para a sobrevivência de bactérias intestinais benéficas como a Bifidobacteria”, afirma. “A redução dessa bactéria pode contribuir para consequências significativas de saúde a longo prazo, como um risco aumentado de distúrbios digestivos como doença do intestino irritável, risco aumentado de infecção intestinal e uma função imunológica enfraquecida”, completa.
Os pesquisadores concluem que é importante considerar o tipo de dieta que está sendo realizada ao buscar a perda de peso. Na visão dos autores do estudo, uma alimentação com baixo teor de açúcar será mais benéfica para a maioria das pessoas. No entanto, são necessários mais estudos para entender como cada pessoa pode se beneficiar por cada tipo de dieta.
“A dieta cetogênica é eficaz para perda de gordura, mas vem com efeitos metabólicos e de microbioma variados que podem não ser adequados para todos. Em contraste, a restrição de açúcar apoia as diretrizes governamentais para reduzir a ingestão de açúcar livre, promovendo a perda de gordura sem impactos negativos aparentes à saúde”, afirma o professor Dylan Thompson, que também supervisionou o trabalho.