Com três dias de programação, o II Encontro Nacional de Gestores da Cultura finalizou sua programação na sexta-feira, 25, com a realização de diversos diálogos temáticos sobre o setor. O evento aconteceu no complexo do Centro de Convenções da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, e contou com representantes de todos os estados brasileiros, Distrito Federal e de cerca de 700 municípios.
“Estarmos juntos de secretários e diretores de cultura de todo o Brasil em um evento como esse é essencial porque é uma oportunidade de dialogarmos sobre distintas realidades, tomarmos conhecimento de desafios em comum, discutirmos soluções e o fomento à cultura. Isso capacita as gestões para que desenvolvam ações mais qualitativas em prol do setor. Isso faz parte da orientação do governador Wanderlei Barbosa de fomentar e fortalecer a nossa rica cultura tocantinense”, disse o secretário Tião Pinheiro.
Debates
Com abertura oficial na noite do dia 23, os debates culturais tiveram início na quinta-feira, 24, com um longo dia de programação, que contou com mesas temáticas, laboratórios de gestão e atrações culturais, com shows de encerramento de Sandra Belê e Elba Ramalho. A primeira mesa de debate, com a temática “Virada de Chave: Um Novo Horizonte para as Políticas Culturais e o Papel dos Entes Federativos”, promoveu discussões sobre temas como os desafios para a implantação das políticas públicas de cultura enfrentados pelo Brasil e a articulação e estruturação de políticas públicas perenes.
A mesa contou com as presenças de Márcio Tavares, secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC); da deputada federal e presidente da Comissão de Cultura, Denise Pessoa; do diretor regional do Sesc São Paulo, Luiz Galina; da conselheira de Políticas Públicas da Paraíba, Ana Meira; da coordenadora de Cultura da Unesco Brasil, Isabel de Paula e de Igobergh Bernardo, presidente do Fórum de Gestores de Cultura da Paraíba. A mediação foi de Luísa Cela, secretária de Cultura do Ceará.
“Uma das dimensões fundamentais para que a gente possa fazer que essa articulação política entre os entes federados funcione, é superar o importante desafio da capacitação. À medida que a gente começa a ter uma territorialização maior das políticas, chegando em municípios, como por exemplo, no nosso sertão, que nunca tiveram políticas claras de forma continuada, a gente precisa também superar o desafio da formação”, enfatizou Márcio Tavares em sua fala.
A mesa foi seguida pelo painel “Cultura, Economia e Sociedade: O Poder dos Dados na Formulação das Políticas Culturais”, que tratou, entre outras coisas, da retomada do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC); do exemplo do Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC) e de outras pesquisas realizadas dentro da temática.
O painel contou com os pesquisadores João Neiva e Gustavo Portela; o superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa; a subsecretária de Gestão Estratégica do MinC, Letícia Schwartz; a representante da UFBA, Carol Fontinel, e o representante da UFPB, Alexandre Santos. O momento foi mediado pela secretária de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Daniele Barros.
“Os dados que geramos diariamente – o que consumimos, onde vamos, o que gostamos – são a moeda mais valiosa de nosso tempo”, destacou Letícia, enfatizando que os dados só têm poder quando viram informação e que é preciso pensar em como produzir conhecimento coletivo para fortalecer as políticas públicas.
No período da tarde, o encontro foi palco para diversos laboratórios temáticos de gestão, como o de editais aplicados à PNAB; construindo a segurança jurídica a partir do Marco Regulatório do Fomento à Cultura; uso de dados para o fortalecimento da gestão de políticas públicas e programas culturais, entre outros.
Encerramento
“Tem sido uma experiência fantástica receber cada um de vocês em João Pessoa, sobretudo pelos temas que temos debatido e os diálogos que eles têm proporcionado”, iniciou o secretário da Cultura da Paraíba, Pedro Santos, que abriu a programação desta sexta-feira, 25, com o painel “Arte, Cultura e Educação: Um Diálogo para o Desenvolvimento Humano”, que trouxe experiências e exemplos práticos sobre como as políticas culturais podem ampliar horizontes e transformar o processo de aprendizagem.
A mesa contou com as participações dos arte-educadores Mestra Doci e Escurinho; da coordenadora de cultura do Instituto Oi Futuro, Luciana Adão; do secretário de Formação, Livro e Leitura do Minc, Fabiano Piúba; da pró-reitora de extensão da UFPB, Bernardina Freire; do presidente do Fórum dos Secretários e Coordenadores de Cultura do Amazonas, Maick Soares; e novamente de Jader Rosa, superintendente do Itaú.
Fazendo uma referência ao livro do escritor Ailton Krenak, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, Fabiano Piúba destacou que “se tem um papel que a cultura e a educação possam estar colaborando, é nessa possibilidade de que a cultura cura, a cultura natura as almas e o espírito. […] Nesse tempo sombrio em que vivemos no mundo, temos um papel fundamental enquanto artistas, trabalhadores da cultura e gestores, de adiar o fim do mundo, cantando, contando histórias e fazendo chover”, disse.
A manhã foi encerrada com o painel “Políticas Culturais para Além do Fomento: Construindo Estratégias de Longo Prazo”, que teve a participação da presidente da Funarte, Maria Marighella; da CEO da Orquestra Sinfônica Brasileira, Ana Flávia Cabral; da presidenta da Comissão do Terceiro Setor – OAB/SP, Laís de Figueiredo; da deputada federal Jandira Feghali e do assessor da presidência do BNDES e ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira. A mesa teve a mediação de Fabrício Noronha, presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura e secretário de cultura do Espírito Santo.
Ao tratar do período de hiato sofrido pela cultura, Juca Ferreira destacou que “é necessário reconhecer que houve uma queda de importância da cultura no imaginário geral do país e é preciso recuperar urgentemente. Isso é papel dos artistas, dos criadores, dos intelectuais, dos gestores, dos técnicos, dos políticos que têm vinculação com os temas culturais. Esse evento contribui nessa direção, com um conjunto de discussões que são fundamentais”, disse.
“A Política Nacional das Artes é instrumento normativo, dialógico, de promoção de consensos do que é essa responsabilidade para promover a ação artística em cada território desse país, com o princípio fundamental de reconhecer a cultura brasileira como um bem artístico, um valor”, reforçou Maria Marighella ao relembrar o trabalho de Juca no MinC.
Finalizando o painel, a deputada federal Jandira Feghali destacou o potencial criativo do povo brasileiro e a importância da perenidade das políticas culturais. “O que é a economia sem falar da cultura? Não há desenvolvimento econômico, humano, sem desenvolver o potencial criativo do nosso povo. […] Nós precisamos afirmar a nossa brasilidade, nosso jeito, nossa gastronomia, nossa religiosidade e nossa capacidade criativa de produzir o que a gente sabe fazer. Nós não somos meros consumidores, nós somos protagonistas da nossa própria história, do nosso conhecimento, da nossa criatividade”, enfatizou.
A programação do encontro seguiu durante a tarde e a noite de sexta-feira, com mais laboratórios de gestão e mais atrações culturais, com shows de encerramento dos músicos paraibanos Escurinho e Chico César. À tarde também aconteceu a reunião do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, com pautas como a eleição da nova mesa diretora, com prazo de candidaturas até o próximo dia 30 e eleição no dia 5 de maio; a Política Nacional das Artes, com participação de Maria Marighella, presidente da Funarte; a PNAB, com Jandira Feghali e Márcio Tavares, e a parceria MinC-Mec, com Fabiano Piúba.