Pesquisa do Observatório de Oncologia revela que 57% dos casos de câncer de mama no Brasil – um dos mais incidentes na população feminina – são flagrados em estadiamentos 1 e 2, ante 43% que já evoluíram para 3 e 4. Já no caso do pulmão, (o segundo mais incidente, com 2,2 milhões de casos novos por ano), 88% dos pacientes só descobrem a enfermidade quando ela está mais grave, nos estadiamentos 3 e 4.
Este cenário, além de tornar o tratamento mais difícil, também é mais oneroso: somente em 2022, por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou mais de R$ 3,8 bilhões em terapias contra o câncer e, segundo pesquisadores, parte significativa desse dinheiro poderia ser economizada se os tumores tivessem sido diagnosticados em fases iniciais. “Fazer diagnósticos cada vez mais precoces, quando o paciente ainda não tem nenhum sintoma ou alteração no exame físico, é, hoje, aliás, um dos maiores desafios da medicina na luta contra a doença”, destaca a oncologista Fernanda Brasil”.
Segundo a médica, que integra a equipe da Cetus Oncologia, clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem, grande parte das altas taxas de mortalidade pela doença está atrelada, inclusive, a diagnósticos tardios, quando o tumor já está em fase avançada ou metastática, ou seja, se espalhou para outras partes do corpo. “Melhorar o tratamento nesta fase, é outra luta da medicina oncológica no combate à enfermidade. Nos dias de hoje, as terapias para o câncer em estágio avançado ou metastático, infelizmente, ainda não têm taxas de cura tão expressivas quanto a doença inicial.”
Ainda de acordo com Fernanda, é até complexo falar sobre cura para cânceres mais avançados. Isso porque o tratamento nesse momento terá como objetivo o aumento do tempo de vida e o controle dos sintomas, sendo que a total superação da doença nem sempre é uma possibilidade. “Outro momento em que é difícil falar sobre a cura é no caso dos pacientes que tiveram a doença curável, foram tratados, mas tiveram recidiva, ou seja, o retorno do câncer. Nesses casos, terão que retomar às terapias, que passam a não ter mais o objetivo curativo”, explica.
Paralelamente, Fernanda enfatiza que a enfermidade, ainda precoce, pode corroborar para taxas de cura muito altas – dependendo do tipo de câncer, chegam perto dos 100%. “Esse cenário vai possibilitar tratamentos brandos e pouco invasivos.”
A perspectiva ideal, pontua a especialista, é evitar a doença com prevenção primária, ou seja, aderir a uma série de medidas relacionadas a comportamentos e estilo de vida. Isso inclui alimentação saudável, manter o peso e composição corporal adequados, fazer atividade física, não fumar, não consumir bebida alcoólica, não se expor ao sol e quando se expor estar protegido.
“Já para fazer o diagnóstico da doença na fase mais precoce e garantir maiores taxas de cura e tratamentos menos agressivos, o caminho é investir na prevenção secundária por meio dos exames de rastreio”, orienta. A médica cita que mulheres com mais de 40 anos, por exemplo, devem fazer mamografia para o câncer de mama.
Outros exames importantes, segundo a especialista, são a colonoscopia, avaliação que identifica lesões pré-cancerosas no intestino, é indicada para ambos os gêneros a partir dos 45 anos; o Papanicolau, que previne o câncer de colo do útero, e a tomografia de tórax de baixa dosagem, fundamental para os pacientes fumantes ou que pararam de fumar a pouco tempo. Fernanda também menciona o rastreio para o câncer de próstata, obrigatório para homens a partir dos 40 anos a depender de sua etnia e história familiar.