O conflito entre Israel e Irã pode elevar ainda mais os custos de produção e pressionar o poder de compra de fertilizantes do produtor rural brasileiro na safra 2025/26, de acordo com Mauro Osaki, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP). Na avaliação dele, a depender dos reflexos da guerra nos preços dos insumos, o setor produtivo brasileiro poderá ter margem ainda mais apertada na próxima temporada.
O movimento também pode determinar uma “seleção” de produtores, entre aqueles que vão prosperar e quem terá que diminuir investimentos e repensar a atividade, alertou o pesquisador.
“Em momento de sinais de arrefecimento dos preços, no fechamento do semestre, vemos conflito que aumenta a incerteza. Em meio a uma safra grande, com desvalorização do milho, o poder de compra fica menor, e é preocupação para 2025/26”, afirmou Osaki durante o evento de Abertura Oficial da Colheita de Milho realizado pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), em Sorriso (MT).
Segundo ele, o produtor rural já precisará de mais sacas de milho para cobrir os custos operacionais no próximo plantio. “Ter elevação de preços dos fertilizantes, é sinal de alerta. Podemos caminhar para um ano de margem mais apertada, como já presenciamos nos últimos três anos. Isso pode selecionar produtores entre quem vai prosperar e quem vai ter que renegociar e repensar pacote tecnológico”, completou.
A sequência de eventos em países produtores de insumos agropecuários, desde 2022, já pressionou os custos no Brasil e reduziu a rentabilidade, disse Osaki. Antes, porém, os preços das commodities em alta permitiram fazer frente à escalada dos fertilizantes. Agora, não.
“O Irã é um grande produtor de amônia, que impacta diretamente na oferta mundial de nitrogenados, além de ser um grande comprador de milho e estar no corredor logístico do Golfo de Omã. Nos preocupa bastante, pois vai encarecer o frete para a região”, disse Osaki.
Para ele, o novo conflito precisa servir de estímulo para o Brasil aumentar a produção de fertilizantes internamente. “O Brasil não fez lição de casa na questão dos nitrogenados. A Petrobras poderia ofertar, diminuir a dependência desse macronutriente. Hoje estamos extremamente expostos. Parte da lição de casa é ser menos dependente desse fertilizante para que esse tipo de conflito interfira menos na nossa soberania e rentabilidade”, completou.
Diogo Damiani, presidente do Sindicato Rural de Sorriso, afirmou que a margem de lucro da produção tem caído nos últimos anos e que o encarecimento de US$ 50 por tonelada de ureia, fertilizante nitrogenado que o Brasil importa do Irã e outras origens, torna a safra 2025/26 mais desafiadora.
“Estamos em jogo que temos que pular as fases, mas cada fase que avançamos é mais difícil. A safa 25/26 será desafiadora. Temos a guerra no Oriente Médio, responsável por 37% da produção de ureia, e que boa parte vem para o Brasil. A ureia já aumentou US$ 50, isso impacta nos custos de produção, assim como a alta do petróleo”, alertou.