Prática adotada até os dias de hoje, se bem com menos intensidade, era muito comum nas décadas de 70 e 80 nas cidades interioranas do Brasil.
Lembro-me bem que na minha Miracema as campanhas eleitorais eram disputadíssimas, até porque, até então quase tudo era permitido, desde distribuições de brindes como dentaduras (uma das mais requisitadas), shows com sanfona, pandeiro e triângulo até os barracões ou ranchos onde os eleitores tinham à disposição acomodações em redes e comida à vontade.
A PROPÒSITO…
O candidato guardava as dentaduras em um saco e os interessados iam colocando na boca até achar uma que servisse, da mesma forma eram os óculos.
Quando chegava na semana da eleição uma das grandes preocupações era como atalhar a compra de votos do adversário feita na madrugada do dia anterior geralmente na parte mais periférica da cidade.
Cada candidato a prefeito montava uma verdadeira “operação policial” uma espécie de “swat tupiniquim” visando impedir a concretização do fato que poderia fazer a diferença no resultado.
O PIOR…
É que ao mesmo tempo que fiscalizava o adversário agia da mesma forma, quer dizer, comprava também.
O certo era que à noite o trânsito era gigantesco com um vai e vem de veículos infernal; a coisa era tão habitual que as pessoas já ficavam esperando deixando até as portas abertas, que depois eram trancadas para garantir o sigilo da negociação.
UM BELO DIA…
Ou melhor, uma bela noite, uma equipe fazendo seu “trabalho” avistou ao longe um vulto saindo do mato com um saco cheio de alguma coisa.
Um foi logo gritando – “Olha lá aquele já recebeu o saco tá cheio de dinheiro, já vai sair distribuindo”.
O companheiro retrucou – “Não, ali deve ser um sertanejo chegando de alguma chácara ou fazenda aqui perto, parece ser gente humilde, sandália havaiana, chapéu de palha, calça e camisa rasgada…”.
- Não rapaz, eu conheço esse pessoal aquilo é disfarce para dar uma de pobre e confundir a gente. Vamos cercar o homem, enquanto isso chama a polícia” retrucou o amigo.
Enquanto atalharam o pobre homem o carro da polícia já foi chegando com sirene ligada, policiais de arma em punho dando voz de prisão enquanto um dos amigos foi logo gritando.
- “Algema o homem, não deixa ele fugir!”.
“Seu policial o saco tá cheio de dinheiro, isso é flagrante tem que levar direto para a cadeia” esbravejou alguém.
Nessa altura da madrugada o barulho chamou atenção, quem estava dormindo acordou e logo uma pequena multidão se formou.
O policial em tom áspero pediu para o senhor desamarrar o saco e jogar o dinheiro no chão.
O coitado tremia mais que vara verde que não dava conta de abrir a boca do saco de estopa cujo nó não estava nem muito apertado.
AÍ…
Um dos integrantes da “swat tupiniquim” querendo fazer média com o policial e colaborar com a investigação disse:
- “Deixe comigo, continue segurando a arma que desato o nó e esparramo o dinheiro no chão”.
Bem rápido começou agir, mas, o nó não estava tão fácil de desatar como aparentava; nosso amigo foi logo metendo a boca usando os dentes, ao mesmo tempo em que reclamava que o saco não estava muito cheiroso, pois, geralmente eram guardados em poleiros ou em currais misturados a xixi e fezes de aves ou outros animais.
Mesmo assim insistiu, até porque agradaria seu candidato informando que impediu uma ação que o faria perder a eleição.
Depois de muito tentar, eis que o saco foi abrindo e derramando todo o conteúdo, que ao invés de dinheiro eram frondosos pequis que certamente alimentariam a família daquele homem.
“Desde ontem estou catando” disse.
O policial com raiva disparou…
“Puta que pariu nunca soube que pequi faz diferença em resultado de eleição”.