A aquisição de trigo em São Paulo pelos moinhos paulistas apresentou uma queda de 37,3% na safra 2024/25 em comparação ao ciclo anterior, segundo dados divulgados pelo Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo) durante reunião da Câmara Setorial do Trigo do Estado nesta quinta-feira (16/10). O volume comprado passou de 644 mil toneladas em 2023/24 para 403,5 mil toneladas no último ciclo.
O levantamento foi realizado com empresas associadas ao Sindustrigo, como Bunge, Moinhos Anaconda, Orquídea, entre outras.
De acordo com o presidente da Câmara Setorial, Nelson Montagna, a expectativa era de que as compras chegassem a aproximadamente 500 mil toneladas. Ele afirmou que os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam um volume menor do que o real, e que há possibilidade de distorções por respostas incorretas de participantes.
Qualidade do trigo paulista
A satisfação geral com o trigo paulista registrou uma média de 7,9, uma leve redução em relação à nota 8 da safra anterior. Já a avaliação da qualidade reológica do grão, que mede o desempenho da farinha em testes de panificação, teve melhora, com nota média subindo de 7,7 para 8,4.
“Além de pensar em aumento de produção no Estado para atender a nossa própria demanda, e por ser uma produção comparativamente pequena, temos que caprichar mais. O clima ajuda muito, mas São Paulo ainda tem muito a melhorar em termos de qualidade”, avaliou o presidente da Câmara Setorial.
A cor do trigo, que historicamente é um desafio na produção paulista, mais escura que em outras localidades, obteve uma nota de 6,6, enquanto na safra anterior era de 6,3. A homogeneidade manteve a média de 6,5, enquanto a sanidade do grão apresentou avanço, com nota média saltando de 6,3 para 8.
“O trigo paulista entrega o que se propõe para a moagem, mas, por enquanto, não substitui o trigo argentino”, comentou Montagna. O levantamento também comparou os indicadores do trigo argentino importado no Estado, com notas médias em qualidade reológica de 8,8, cor de 8,6, homogeneidade de 9,3 e sanidade em 8,8.
Montagna destacou ainda que há uma aparente incongruência entre as respostas dos moinhos, já que alguns apontaram desempenho pior do grão, embora os dados laboratoriais tenham mostrado evolução na qualidade.
Aplicações e uso industrial
A principal aplicação do trigo paulista continua sendo a panificação, que representou 66,4% do uso total nesta safra e foi a única categoria que cresceu em comparação com o ciclo anterior, com aumento de 9,8%.
O uso doméstico respondeu por 17,4% (queda em relação aos 21,5% anteriores), massas 10,8% (ante 12,6%), biscoitos 3,1% (queda de 4,8%) e outros usos somaram 2,4%. Segundo Montagna, o alto percentual de uso em panificação indica que o mercado paulista continua exigente, já que essa aplicação requer farinha de maior qualidade.
Perspectivas para a próxima safra
Para a safra 2025/26, a percepção é otimista. Montagna afirmou que as expectativas indicam uma das melhores safras dos últimos anos em São Paulo e no norte do Paraná.
Sobre o trigo argentino, Montagna destacou preocupações com a sanidade da próxima safra devido ao excesso de chuvas em algumas regiões do país. Segundo ele, há relatos iniciais de perda de qualidade, e o setor já se organiza para monitorar as cargas e evitar lotes provenientes dessas áreas. Apesar disso, a expectativa é de uma ampla produção argentina.
Produção e competitividade
O consumo paulista de farinha é atendido principalmente pelo Rio Grande do Sul e Paraná. No entanto, com uma equalização do ICMS entre os Estados, prevista para acontecer gradualmente em função da reforma tributária, Montagna acredita que os moinhos paulistas tendem a aumentar sua produção local.
“Em uma situação de igualdade de ICMS, os moinhos de São Paulo vão responder com um aumento de produção e vão demandar mais trigo. Aqui vamos poder moer mais, porque vamos parar de competir desigualmente com vantagens fiscais que vêm do Paraná e Rio Grande do Sul, e temos capacidade ociosa para produzir mais”, pontuou.
Cooperativas
Os cooperados da Capal Cooperativa Agroindustrial colheram 99,8 mil toneladas de trigo em São Paulo na safra deste ano, segundo informações apresentadas por Airton Luiz Pasinatto, engenheiro agrônomo e coordenador regional do Departamento de Assistência Técnica (DAT) da cooperativa, durante a Reunião da Câmara Setorial do Trigo. A colheita de trigo em São Paulo está praticamente encerrada, com a maioria das lavouras já retiradas do campo.
O volume representa um crescimento em relação às 55 mil toneladas colhidas em 2024, e também supera as 81 mil toneladas da safra de 2023. A produtividade média registrada foi de 3.800 quilogramas por hectare.
A área plantada também aumentou, chegando a 26,2 mil hectares, contra 21,2 mil hectares em 2024. Ainda assim, o número permanece abaixo dos 31,3 mil hectares cultivados em 2023. Segundo Pasinatto, o crescimento inesperado da área plantada foi impulsionado por um aumento do interesse dos produtores na reta final da janela de cultivo. “A nossa surpresa foi que aumentou. A corrida final foi interessante e acabou aumentando, o pessoal animou de plantar”, afirmou.
Do ponto de vista climático, o coordenador destacou que o inverno foi “muito característico”, com condições favoráveis ao desenvolvimento da cultura. “Há muitos anos a gente não via uma condição tão favorável”, disse. Apesar de geadas registradas no final de junho, que causaram perdas pontuais, especialmente em áreas irrigadas, o impacto geral foi limitado para a cooperativa.
Além da produtividade, a qualidade do grão também foi destacada como satisfatória, especialmente para a panificação.
Até o momento, cerca de 42% da produção já foi comercializada com a indústria paulista. No entanto, a rentabilidade da cultura segue como um ponto de preocupação. “O que pega é o resultado no bolso, que não está deixando”, comentou. Segundo ele, o cenário externo, com alta produtividade na Argentina e boa qualidade no Rio Grande do Sul, traz apreensão ao produtor, diante da possibilidade de excedente no mercado.
Já a Cooperativa Holambra se aproxima do encerramento da safra de trigo de 2025 com a expectativa de fechar o ciclo com 110 mil toneladas do grão recebidas. Segundo a cooperativa, cerca de 75% desse volume já foi negociado.
Apesar de adversidades climáticas no início do ciclo, especialmente geadas que afetaram parte das lavouras irrigadas, a produção conseguiu se recuperar ao longo da safra. A produtividade média registrada foi de 3.900 quilos por hectare.