Os conflitos recentes no Oriente Médio, em particular o confronto entre Irã e Israel, muito provavelmente serão assunto de questões dos próximos vestibulares, segundo docentes das disciplinas de História e Geografia.
A CNN ouviu cinco professores que apontaram ainda a possibilidade de o conflito Irã x Israel ser cobrado como tema de redação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e em processos seletivos como Fuvest, que dá acesso à USP (Universidade de São Paulo), e Unicamp, da Universidade Estadual de Campinas.
Veja, a seguir, os comentários dos professores sobre quais e como os conteúdos poderão ser cobrados, bem como ideias para direcionar os estudos:
Contexto geopolítico e interpretação de dados
“Em geral, a temática do Oriente Médio é bastante cobrada nos exames. O conflito entre Irã e Israel poderá ser explorado levando em conta as motivações históricas e religiosas, bem como as dinâmicas de poder regional e a interferência de potências externas. As provas podem apresentar fontes como mapas, gráficos de gastos militares ou trechos de discursos diplomáticos, exigindo análise crítica e interpretação de dados por parte do estudante.
O papel de Israel, após sua formação em 1948, e a influência dos Estados Unidos e da Rússia na região, são pratos cheios para boas reflexões dos candidatos, que precisam ter a habilidade de compreensão e a competência de transformar informações dos meios de comunicação em sólidos argumentos, visando a boa análise do contexto.“
Raphael Augusto de Abreu, professor de História do colégio Progresso Bilíngue Cambuí
Debate sobre questão nuclear e cronologia do conflito
“O conflito entre Irã e Israel se insere no contexto mais amplo do Oriente Médio. Curiosamente, as questões sobre o tema nos vestibulares não costumam ser difíceis, pois a complexidade faz com que as perguntas sejam mais estruturais.
A disputa territorial é uma possibilidade, mas no caso de Irã e Israel, que não têm fronteiras terrestres, o conflito assume outra natureza — diferente, por exemplo, de conflitos em Gaza, Síria ou Líbano.
No caso do Irã, o foco recai sobre a questão nuclear e os debates internacionais sobre seus objetivos e possíveis implicações para a região. Os vestibulares podem usar o conflito atual como ponto de partida para explorar temas estruturais, como: quais países possuem armas nucleares? O que é o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares? Qual a história da criação do Estado de Israel?
A dica é acompanhar a cronologia do conflito, mas concentrar-se nos aspectos estruturais – históricos e geográficos – pois é isso que costuma ser cobrado nas provas, mais do que os eventos imediatos.”
João Felipe Ribeiro, professor de Geografia da Escola Eleva Urca
Guerras Híbridas e sanções econômicas
“Considerando que os conflitos ocorreram neste ano e que vivemos uma nova era de comunicação, fortemente pautada pelos avanços tecnológicos, é possível que a temática Israel-Irã seja usada como contextualização para questões sobre Guerras Híbridas, exigindo que os alunos compreendam como ataques cibernéticos, proxies, discursos midiáticos e sanções econômicas também desempenham um papel importante, para além do uso de armamentos e ataques convencionais. Guerras Híbridas podem, inclusive, ser tema de proposta de redação.
Na perspectiva da economia global, o conflito traz à pauta o uso de sanções econômicas como instrumento geopolítico. Nesse cenário, é importante que os alunos compreendam o conceito e conheçam diferentes exemplos de sua aplicação.
O conflito também pode ser abordado em questões sobre Direitos Humanos e a crise humanitária na região, com foco nas consequências para a população civil, no aumento do número de refugiados e nos impactos sobre a nação palestina.”
Mariana Prudenciatto Ortelani, coordenadora editorial do COC (disciplinas de Humanas) e Geógrafa
Raízes históricas e impacto no preço do petróleo
“O conflito Irã x Israel pode desdobrar em questões que explorem as raízes históricas da guerra, como a Revolução Iraniana de 1979 e a percepção do Irã como ameaça à segurança de Israel, além do papel dos Estados Unidos na região. As provas podem pedir também a identificação e as influências dos principais aliados no conflito, como a relação do Irã com grupos como Hezbollah e o Hamas e o apoio dos EUA a Israel.
Além disso, questões relacionadas ao programa nuclear iraniano também podem aparecer por conta das atuais tensões. As perguntas podem explorar como esse conflito impacta o equilíbrio de poder no Oriente Médio, afeta o preço do petróleo, com a possibilidade do fechamento do Estreito de Ormuz, gera crises humanitárias e interfere na política externa de países.
O tema ainda pode ser cobrado em associação com conteúdos clássicos de História, como colonialismo, disputas territoriais e nacionalismo.”