A drástica redução nas vendas de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos, causada pelo aumento das tarifas americanas contra produtos brasileiros, pode gerar um impacto negativo entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões para o setor neste ano, estimou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, nesta terça-feira (9/9).
Desde o dia 6 de agosto, houve um incremento de 50% nas taxas dos EUA, que levou a tarifa da carne bovina para 76,4%. Somente poucos volumes de produtos específicos continuam sendo enviados aos americanos.
“Existem empresas que têm contrato para fornecer carne enlatada ao sistema prisional americano, por exemplo. Então, nesses casos, o próprio governo americano vai ter que pagar a tarifa”, citou Perosa.
Neste cenário, ele diz acreditar que as exportações de carne bovina do Brasil para os EUA devem cair de 20 mil a 30 mil toneladas por mês – que eram praticados no primeiro semestre – para uma média em torno de 5 mil toneladas por mês.
Se confirmada esta queda de volume de setembro a dezembro, o Brasil deixaria de ganhar US$ 700 milhões. No entanto, parte dos embarques continuarão sendo feitos para outros compradores, mas que pagam preços menores que os dos americanos. Por essa razão, a expectativa de impacto financeiro cairia para até US$ 400 milhões.
“Se houver novas habilitações de mercado, esse valor de perda vai diminuindo”, afirmou o presidente da Abiec.
O dirigente admite que a saída de um país que era o segundo maior cliente do Brasil no setor causa um impacto relevante. “Por isso temos reiterado ao governo brasileiro que continue as negociações para que a gente consiga retomar esse mercado”, disse.
Para Perosa, o plausível para que a exportação aos EUA continuasse a crescer era, no mínimo, voltar a tarifa aos 26,4% que vigoravam antes dos 50% adicionais.
Outro ponto foi a queda na cota isenta de tarifas americanas que o Brasil tinha acesso junto a outros países. Atualmente, esta cota foi reduzida de 65 mil toneladas para 50 mil e a diferença de 15 mil foi direcionada pelos EUA como cota para os exportadores do Reino Unido.
“Precisamos retomar esse trabalho de aliança com os EUA. Muita coisa está sendo feita e acho válido o setor privado se mobilizar para fazer negociações com suas contrapartes”, afirmou.
Miúdos bovinos para a China
A guerra comercial tem consequência para os exportadores brasileiros, mas os americanos também não saem ilesos. Além da escalada nos preços internos da carne nos EUA, os frigoríficos de lá deixaram de vender miúdos bovinos para a China devido à troca de taxações entre os governos de Washington e Pequim.
“O grande receio dos EUA hoje é que o Brasil tenha oportunidade de mandar miúdos para a China, isso está em negociação e é um sonho para o setor brasileiro. Pode ser que a gente tenha novidade nesse sentido também”, comentou Perosa.
“A demanda na China por miúdos é muito grande, hoje os EUA não estão exportando para a China isso e os EUA não sabem o que fazer”, acrescentou.
Exportações de carne bovina foi recorde em agosto
As exportações de carne bovina do Brasil somaram 299,45 mil toneladas em agosto, aumento de 20,7% no comparativo anual, informou a Abiec. O desempenho representou um recorde para o mês de agosto. Em receita, o país faturou US$ 1,60 bilhão no mês passado, avanço de 49,8% comparado ao mesmo mês de 2024.
O resultado foi positivo mesmo com o tarifaço dos EUA. Após a aplicação da medida, os americanos caíram para a 8ª posição entre os principais compradores, com 9,38 mil toneladas e US$ 64,4 milhões.
A China continuou na liderança, ao ser destino de 161 mil toneladas do produto brasileiro, gerando uma receita de US$ 894 milhões. Os chineses ampliaram em 48% as importações em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2024.
O segundo lugar ficou para a Rússia, que comprou 14,26 mil toneladas, seguida pelo México com 13,35 mil toneladas importadas.