O Clube de Leitura Negra, projeto de extensão originado no curso de Pedagogia do Câmpus de Arraias, no Núcleo de Pesquisa e Extensão Artesania, é um dos habilitados para a etapa final da 9ª edição do Prêmio VivaLeitura, na categoria “Práticas Continuadas em Espaços Diversos”. Os vencedores do Prêmio serão conhecidos em 2026, mas criadores, colaboradores e integrantes do projeto já comemoram o resultado.
A divulgação da lista dos projetos habilitados foi feita pelos ministério da Educação (MEC) e da Cultura (Minc), em parceria com a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação (OEI), na última segunda-feira, 8 de dezembro. Serão distribuídos R$ 550 mil em premiações, reconhecendo 25 práticas inovadoras que incentivam a leitura e a escrita em escolas, bibliotecas e outros espaços culturais de todo o país. O primeiro colocado de cada categoria receberá R$ 50 mil e os quatro selecionados, R$ 15 mil.
Acesse a lista dos projetos habilitados para a etapa final – Prêmio Vivaleitura 2025
Iniciativa na graduação
O embrião da iniciativa no Câmpus de Arraias foi gestado como projeto de extensão no Núcleo de Pesquisa e Extensão Artesania, vinculado ao curso de Pedagogia. O hoje pedagogo e mestrando em Educação (UFU), Olavo Lisboa dos Santos, contou à reportagem do Portal da UFT que “o Clube nasceu em meio às inquietações com o silenciamento das vozes negras na formação docente. Ele surge como projeto de extensão, devidamente cadastrado e aprovado para funcionamento durante o ano de 2023”.
Montagem com prints da primeira reunão on-line do Clube de Leitura Negra (Imagens: Divulgação)
Ele relembra que inicialmente o projeto havia sido pensado para envolver exclusivamente estudantes do Câmpus de Arraias. Em diálogo com a professora do curso de Pedagogia, Elisabete da Silveira, e com a estudante do curso Fabiana Dias, decidiram migrar para o formato on-line. “Isso possibilitou que pessoas de diferentes lugares pudessem participar. Essa decisão transformou completamente o Clube. Três anos depois, já ultrapassamos 60 inscrições ao longo da trajetória e contamos, atualmente, com 41 membros ativos, distribuídos em 13 estados brasileiros com todas as regiões do país representadas”, contou Santos, que hoje é integrante do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais.
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Identidade negra
A docente Elisabete, que registrou o projeto de extensão dando início ao Clube e coordena o Núcleo Artesania, destacou a presença do clube em vários estados, interligando a juventude negra tanto em cursos de graduação quanto da pós-graduação. “Nós temos hoje uma entrada bem importante de juventude negra nas universidades. E o Clube de Leitura Negra ajuda a fortalecer a identidade desses jovens negros, tanto do Tocantins quanto de outros lugares do Brasil. Então, é muito importante essa leitura, esse debate, porque não é só uma leitura, mas uma leitura com debate, com reflexão, e tudo isso vai fortalecendo a identidade negra da juventude. Acho que algo que é importante ressaltar também é o protagonismo de um graduando jovem, tocantinense, negro, de um curso de Pedagogia”, pontuou.
Outro docente Leonardo Rodrigo Soares, do colegiado do curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental do Câmpus de Arraias e integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão Artesania, conta que o projeto tem grande força transformadora, e que “nasce do enfrentamento ao apagamento histórico de autoras e autores negros nos espaços acadêmicos. Por meio da leitura, do debate e da valorização dessas produções, é promovido o letramento racial, a consciência crítica e o fortalecimento identitário dos participantes”. Ainda segundo o docente, “para além da universidade, o clube atua diretamente na sociedade, contribuindo para o combate ao racismo estrutural, para a valorização de saberes historicamente silenciados e para a construção de uma educação comprometida com a justiça social, a equidade racial e o cuidado coletivo”.
A acadêmica e também integrante do Núcleo Artesania, Fabiana, frisou a importância do destaque do projeto na premiação. “Ser finalista do Prêmio VivaLeitura 2025 reafirma a relevância e o impacto dessa iniciativa na promoção da educação antirracista e da justiça social”. Ela afirmou ainda que o Clube é um potente espaço de formação, escuta e pertencimento. “Ao promover a leitura de autores e autoras negras, o projeto fortalece entre os jovens arraianos o reconhecimento e a valorização de sua ancestralidade, fundamental em um município marcado por uma expressiva população negra. Mais do que incentivar a leitura, o Clube constrói identidade, consciência crítica e orgulho da história afro-brasileira local”, afirmou.
Transformação por meio da leitura
Criado em 2006, o VivaLeitura já premiou diversas iniciativas que transformaram comunidades por meio da leitura. É o caso do projeto “Jegue Livro”, no Maranhão, que levou acervos literários a zonas rurais em cestos de jegue, e da “Borrachalioteca”, biblioteca criada em uma borracharia na periferia de Sabará (MG), que virou ponto de encontro para leitores da região. Esses são exemplos de como a leitura, quando acessível e próxima do cotidiano das pessoas, pode mobilizar territórios e criar redes de troca e aprendizado. A iniciativa foi recriada pela Portaria Interministerial nº 4, de 26 de maio de 2025.
Segundo as informações do Ministério da Cultura, e conforme o edital do certame, são contempladas cinco categorias: bibliotecas públicas, comunitárias e privadas; escolas públicas, privadas e bibliotecas escolares; práticas continuadas em espaços diversos; escrita criativa; e projetos realizados em unidades prisionais e centros socioeducativos. Serão premiadas 25 iniciativas, com um vencedor e quatro finalistas por categoria. Os vencedores receberão R$ 50 mil e os finalistas, R$ 15 mil.
Nesta edição do VivaLeitura foi registrada o maior número de inscritos dos últimos dez anos. Foram 1.848 projetos vindos de 782 cidades, com participação de todas as regiões do país. Em cada categoria foram habilitadas cinco experiências; projetos que mostram a diversidade e a riqueza de iniciativas que se espalham nesse Brasil Leitor. (Com informações do MEC e do Minc).






