Os problemas climáticos e também a disseminação de doenças em culturas importantes (caso do greening nos citros) têm dado combustível à escalada dos preços das frutas no país. A banana, a fruta mais consumida pelos brasileiros, ilustra o quadro: de acordo com o IPCA, o índice oficial de inflação, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço da banana-prata acumula alta de 26,6% neste ano e de 33,9% nos últimos 12 meses. O fenômeno ocorre também em outros itens, como tangerina (que subiu 63,5% nos últimos 12 meses), laranja-pera (+39,16%), manga (+26,41%) e melão (+18,71%).
Os preços subiram, mas o movimento não tem sido sinônimo de aumento de receita no campo. Em parte, isso ocorre porque as intempéries pioraram a qualidade dos frutos, o que afetou a demanda.
“A baixa qualidade é um problema porque existem mercados que exigem um produto com padrão de qualidade mais alto, e a gente acaba não tendo como atender”, afirma Helton Jun Yamada, diretor-presidente da Brasnica, a maior produtora de bananas do país, com dois mil hectares de cultivo em três Estados. A falta de chuvas fez a empresa registrar perdas de mais 50% em algumas regiões em relação à expectativa inicial de produção.
Tangerina e laranja, as frutas que mais encareceram nos últimos 12 meses, refletiram, além dos problemas climáticos, o avanço do greening nas principais zonas citrícolas do país. A doença foi responsável pela queda prematura de 8,16 bilhões de frutos nas regiões de São Paulo e Triângulo Mineiro, segundo estimativa da Fundecitrus medida em milhões de caixas de 40,8 quilos. Cada caixa tem 255 laranjas, em média.
No região Nordeste do país, foi a chuva acima da média que prejudicou a produção, o que teve impacto sobre os preços da manga e do melão. “No mercado de hortifrútis, as altas momentâneas de preços são comuns, mas, neste ano, houve a coincidência de vários produtos terem ficado mais caros ao mesmo tempo”, disse Lucas Gutierrez, gerente de vendas da Agrícola Famosa, a maior produtora de frutas do país.
A empresa do Rio Grande do Norte, a maior produtora nacional de melões, também enfrentou problemas climáticos neste ano. “Desde dezembro tem chovido constantemente na região, e isso tem causado perdas muito grandes de produtividade. Áreas que poderiam produzir perto de duas mil caixas não chegam a mil, e tem áreas que nem colhemos porque a chuva foi tanta que perdemos a roça”, conta.
Ainda não identificado pelo IPCA, onde aparece com queda acumulada de 26% em 12 meses, o mamão foi outra fruta cujo preço disparou nas últimas semanas. A caixa de dez quilos da variedade papaia chegou custar R$ 150 reais – um preço “absurdo”, segundo o próprio gerente de vendas da Famosa.
“O meu receio é que os preços se mantenham em patamares elevados por muito tempo, levando o consumidor a mudar de hábitos de compra e a migrar para outros produtos. Demora trazer essa pessoa de volta para consumir a fruta”, diz o gerente de vendas da Famosa.
Ele afirma que o aumento dos preços das frutas não se converteu, necessariamente, em renda a mais para o produtor. “Na hora em que a gente fechar a safra, mesmo com o preço alto, talvez a lucratividade seja até pior do que a da safra passada. Em algumas áreas a sequer conseguiu colher, e isso reduziu a produtividade”, comenta Gutierrez.
Para os próximos meses, a expectativa do segmento é de acomodação ou queda de preços, com a normalização do clima nas principais regiões produtoras e o consequente aumento da oferta. “No primeiro trimestre deste ano, as chuvas já começaram a se regularizar, então a tendência é que a gente venha a ter uma equalização no volume de produção. Estamos otimistas com o ano de 2024”, completa Helton Jun Yamada, da Brasnica.
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