O Ministério da Agricultura espera consolidar em breve as aberturas de mercado da China para os pescados e o DDG (subproduto do etanol de milho), afirmou nesta terça-feira (22/4) o secretário de Comércio e Relações Internacionais da Pasta, Luis Rua. Esse será um dos temas debatidos com a vice-ministra da Administração Geral da Alfândega chinesa (GACC), Lyu Weihong, ainda nesta terça-feira, em Brasília.
“São mais de 50 tópicos de parte a parte de discussão na pauta bilateral. Obviamente, não passaremos pelos 50 itens, mas pescados e DDG estão nas discussões. É difícil dizer que vai se concretizar até que se concretize, mas temos expectativas alvissareiras para esses produtos, senão agora no curto prazo”, afirmou Rua.
A possível habilitação de novos frigoríficos também estará na pauta, disse Rua. Ele salientou, porém, que esses pedidos são feitos em todas as reuniões com os chineses.
Recentemente, a China reprovou 28 frigoríficos brasileiros produtores de carne bovina que pleiteavam habilitação para exportar para lá. Rua disse que esse é um procedimento “normal e corriqueiro”. O tema também será debatido com Weihong na sede do Ministério da Agricultura.
“É algo que vamos discutir para ver encaminhamento a esse tipo de situação, aquilo que as empresas terão que colocar no processo como os pontos de melhoria se for apontada alguma não conformidade em relação às normas chinesas, o plano de ação ou se isso já está sendo sanado”, disse. “Não me parece nada muito complexo”, minimizou.
Ampliação de exportações
O Brasil poderá ampliar as vendas de soja e carnes de aves e suína para a China após o movimento de tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra Pequim, na opinião de Rua. Ele evita citar eventos específicos, mas salienta que o Brasil tem se posicionado, com a China e demais importadores, como um parceiro “seguro, estável e confiável” nas relações comerciais em momento de turbulência no mundo.
A Pasta não tem levantamentos específicos sobre possíveis aumentos dos fluxos comerciais com os chineses, mas já observa algumas espaços que poderão ser ocupados. Rua observou, porém, que tudo dependerá do “apetite” da China pelos produtos.
Sobre a soja, Rua disse que o Brasil terá disponibilidade de produto com a confirmação da safra recorde neste ano e que o aumento das vendas para Pequim dependerá da demanda de lá pela oleaginosa.
“O Brasil tem a característica de poder apoiar os chineses e qualquer país com qualquer problema. O Brasil tem disponibilidade de soja, vai ter boa safra e [o aumento da exportação] dependerá do chinês, se terá apetite para comprar. Isso vale também para as carnes”, disse.
“Os EUA são um grande produtor e fornecedor de soja e milho. Não comentamos posição de um país ou outro. Reforçamos o papel do Brasil como provedor seguro, estável, com qualidade, sanidade. O Brasil está disponível para atender as demandas do país que for. O país que precisar do Brasil, o Brasil apoiará na medida do possível, não há qualquer definição de destino”, pontuou.
Rua disse que as principais “oportunidades” de ampliação de mercado são para carne de frango e suína. Atualmente, os Estados Unidos são responsáveis por quase 40% de toda carne de aves que a China consome e 16% do market share de carne suína importada pelos chineses, números parecidos com os do Brasil.
“Vejo maior possibilidades no caso da carne de aves, mantidas as condições atuais [de tarifas], e de carne suína também. O Brasil pode apoiar se assim a China desejar”, afirmou. “É óbvio que os EUA saindo desse mercado, o Brasil se coloca à disposição”.
No caso da carne bovina, o cenário é diferente, destacou, mas também “há oportunidade”, segundo Rua. Atualmente, os EUA exportam 8% da carne bovina importada pelos chineses enquanto o Brasil já detém cerca de 50% do mercado. A China não renovou a habilitação de quase 400 frigoríficos norte-americanos recentemente.
“Com as tarifas fica impraticável [a venda dos EUA para a China], e é um produto que o Brasil pode ter algum espaço”, apontou. “Em negociação comercial sempre depende das suas partes. Fui explícito e colocarei na reunião da tarde [com a vice-ministra da Administração Geral das Alfândegas da China (GACC), Lyu Weihong] que o Brasil está pronto para apoiar naquilo que for necessário”, completou.
Rua não quis comentar declarações oficiais da China sobre possível retaliação a países que priorizarem acordos comerciais com os norte-americanos, mas disse que o Brasil não mudará sua estratégia de negociação. “Nessa disputa entre duas grandes super potências, cabe-nos o papel de ser promotor da geopolítica da paz. É o que faremos com EUA, China ou qualquer outro país”, disse.
Rua disse ainda que a relação do Brasil com a China tem atingido um “nível de maturidade, transparência e clareza” nunca antes visto. Ele comentou que avançaram as negociações com Pequim para a implementação da certificação eletrônica para as exportações.
No início de maio, representantes do Ministério da Agricultura e empresários de sete setores exportadores vão para uma missão na China. O ministro Carlos Fávaro também estará em Pequim entre os dias 10 e 14 do próximo mês, acompanhando a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os empresários vão participar da Sial e de eventos no interior da China.
Efeitos das tarifas
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura disse que ainda é “prematuro” avaliar eventuais impactos da imposição de tarifas adicionais de 10% dos Estados Unidos aos produtos brasileiros desde 2 de abril. Segundo ele, não houve reclamações dos setores exportadores até agora e será necessário aguardar o fechamento dos dados oficiais deste mês para mensurar possíveis soluços nos fluxos comerciais com os norte-americanos.
“Ainda é prematuro comentar sobre os Estados Unidos, uma vez que ainda não tem dados fechados de abril. Precisamos esperar para avaliar eventuais impactos”, afirmou Luis Rua.
A cesta dos principais produtos agropecuários brasileiros para os Estados Unidos inclui suco de laranja, carne bovina, açúcar, café e produtos florestais. Para a carne bovina, que ganhou espaço no mercado norte-americano recentemente, a tarifa final se aproximou de 39%, disse Rua.
“Não foi algo pensado contra o Brasil, todos os países estão na mesma situação. Apenas a China está em situação piorada nessa contenta”, apontou o secretário.
“Acompanhamos os setores que podem ter impactos. Ainda não ouvi nenhum comentário, eles ainda não reclamaram de nenhum impacto negativo. Veremos o avanço com o passar dos dias”, completou.