O INCA (Instituto Nacional do Câncer) estima para os anos de 2024 e 25 a incidência de até 8 mil novos casos de câncer na faixa etária abaixo dos 15 anos. “Esses dados são semelhantes às estatísticas mundiais. Varia de 1 a 4% do total de câncer no país. É uma população que, embora no total seja pequena, para a população pediátrica, é bastante”, constata a oncologista pediatra Lilian Marian Cristofani, que trabalha no ITACI (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil) dentro do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
A especialista e o médico Vicente Odone, professor-titular do Departamento de Oncopediatria da Faculdade de Medicina da USP, conversam com o Dr. Roberto Kalil no “CNN Sinais Vitais” deste sábado (15), que vai ao ar às 19h30 na CNN Brasil.
Houve um aumento nos diagnósticos de câncer infantil nos últimos anos, o que os especialistas atribuem à maior atenção a doença e melhoria em exames e acesso a centros de referência, entre outros, uma vez que não há exatamente fatores de risco nesses casos. “Diferentemente do adulto, em que há uma série de situações em que você pode prevenir, ou pelo menos orientar para a prevenção, na criança isso não existe”, explica Odone.
“As situações hereditárias em câncer são muito raras, cerca de 4%, mais ou menos. A sintomatologia mimetiza situações pediátricas corriqueiras”, explica o professor. Ou seja, os sintomas em casos de câncer infantil podem sinalizar várias outras doenças e podem acabar não chamando tanta atenção.Play Video
Nas leucemias, por exemplo, um dos primeiros sinais é a febre. “A maioria das crianças tem febre, palidez, porque a criança torna-se anêmica, pode ter fenômenos de sangramento, podem aparecer gânglios e ínguas, a criança pode começar a ter aumento de volume abdominal, porque o baço fica comprometido e fígado também”, explica Cristofani.
O que pode ser um diferencial nesses casos é a dor, que geralmente é incapacitante. “ É diferente daquela dor pediátrica que a criança brinca o dia inteiro, pula, e no final do dia pede para a mãe fazer uma massagem que está doendo a perninha e daqui a pouco passa. É uma dor que é progressiva e a criança vai deixando de fazer as suas atividades”, reforça a médica.
Apesar de sintomas inespecíficos, câncer infantil é mais curável
Segundo Cristofani, hoje o câncer infantil é uma doença curável na maioria dos casos, e as crianças respondem melhor ao tratamento do que os adultos. Mas, apesar dos bons números – as chances de cura chegam a 80% – ela alerta que quando a doença é diagnosticada no início, a criança vai ter menos complicações.
“Não custa lembrar que a criança é um organismo em crescimento, os órgãos estão se formando e todos esses medicamentos que você usa vão afetar, tratar e destruir a células do câncer, mas as células normais também vão sofrer um pouquinho. Então se você puder abreviar e diminuir a toxicidade, é um grande benefício para a criança. Porque nós estamos tratando uma criança para ser curada e para seguir sua vida quiçá mais 70, 80 anos. Então, quanto menos sequelas ela carregar, melhor”Lilian Marian Cristofani, oncologista pediatra ITACI no HC-FMUSP
Os especialistas ainda elogiaram iniciativas que propõem trazer a brincadeira para perto da criança em tratamento, como projetos que levam palhaços para dentro dos hospitais, por exemplo. “Não dá para dizer de forma cartesiana que isso muda o prognóstico. Mas eu acredito que sim. É claro que há limitações, mas a criança quer viver a vida dela”, diz Odone. “Hoje, uma em cada 250 pessoas entre 15 e 45 anos é um sobrevivente de câncer infantil. Então, essa é uma luta que vale a pena ser lutada”.