O café continua a pesar no bolso dos consumidores brasileiros. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou hoje (11/4) que o preço da bebida moída subiu 8,14% em março, enquanto o café solúvel teve alta de 3,52%.
A inflação na bebida não é uma novidade e vem há mais de um ano sofrendo reajustes para cima. No campo, os custos de produção praticamente dobraram da safra de 2024 para a de 2025. Em um ano, o produto ficou 77,78% mais caro para o consumidor. A alta foi de 66% ano passado e ultrapassa os 30% no acúmulo do primeiro trimestre de 2025.
Entenda o que está acontecendo
De acordo com analistas ouvidos pela Globo Rural, a tendência para abril e maio é que o consumidor continue pagando mais pelo grão torrado e moído, nas gôndolas de mercado ou nas cafeterias. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) monitora mensalmente os valores do varejo no país, e em março, o preço do café tradicional atingiu a média de R$ 64,80 o quilo do grão torrado e moído.
Esse valor apresentou uma queda de R$ 1,33 em relação à cotação do mês de fevereiro, que fechou em R$ 65,53. Contudo, em janeiro deste ano, o quilo do café ainda não tinha sofrido os reajustes mais fortes por causa da falta de estoques no mercado e estavam a R$ 56,68.
A última vez que o brasileiro pagou menos de R$ 30 o quilo de café foi exatamente há um ano, em abril de 2024, quando o custo no varejo foi R$ 29,18. Antes disso, a menor cotação do café nos últimos cinco anos ocorreu em maio de 2020, quando o quilo era R$ 14,08.
De maio de 2020 até março deste ano, houve oscilações no valor da bebida, com tendência de alta e acúmulo de 365,45% nos preços. Pavel Cardoso, presidente da Abic, explicou que a indústria de café segurou aumentos em períodos anteriores, mas que com a oferta limitada e a alta do grão que vem do campo, os reajustes foram inevitáveis e isso pode respingar no valor da gôndola em mais alguns meses.
Mesmo que haja um recuo leve, como o de fevereiro para março, o café ainda está em valores que o consumidor não pagava há alguns anos, como mostram os dados da Abic.
Além disso, as principais marcas preveem reajustes que podem ultrapassar 40% entre o final de 2024 e o início de 2025.
A alta do café tem volta?
A resposta de analistas do setor de café é de a alta de café não tem volta a curto prazo. Ainda que haja influência do tarifaço do governo Donald Trump, da incidência de chuvas no parque cafeeiro do Brasil e do início da colheita da safra 2025/26 em maio, esses fatores não serão suficientes para uma queda forte nas bolsas internacionais e, consequentemente, no varejo, como apontaram os boletins dos últimos três meses do escritório e corretora de café Carvalhaes.
Para o produtor, o alerta é para dimensionar a colheita, preparar a manutenção de máquinas e manejo de solo para a próxima safra, de 2026/27, que é o período que analistas apontam como um ano de recuperação dos volumes de produção.
Para se ter uma ideia, em março, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou os preços mínimos da saca de café no mercado físico para esta temporada: ficou estabelecido R$ 662,04 para a saca de 60 quilos do arábica, alta de 3,78% ao valor do ciclo passado. Para o conilon, o valor foi de R$ 498,79, quase 18% a mais do que o cobrado na temporada 2024/25.
Fontes do setor contaram à Globo Rural, inclusive, que estão segurando café para verificar o quanto irão colher para ainda testar valores maiores nas vendas. Há produtor que recebeu nos últimos meses para um café especial aproximadamente R$ 3,5 mil por saca.
Por que o café está mais caro?
- Condições climáticas adversas: Secas prolongadas e temperaturas elevadas nas principais regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo, prejudicaram a formação de grãos nos cafezais. O fator deve prejudicar o volume de produção, segundo as consultorias Safras & Mercado, Barchart e Trading Economics.
- Aumento da demanda global: O crescimento do consumo mundial de café, especialmente com a entrada de novos mercados como a China, tem pressionado a oferta, como mostram os dados mais recentes – de janeiro à março – do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
- Problemas logísticos e custos de transporte: Conflitos em regiões estratégicas, como o Oriente Médio, dificultaram a exportação e aumentaram os custos logísticos, de acordo com o Cecafé. Além disso, a saída do grão do Brasil, em especial do Porto de Santos – de onde saem os maiores volumes de sacas do grão do Brasil – vem registrando atrasos da saída de navios desde o ano passado, acrescentou a entidade.
- Redução dos estoques globais: A previsão de estoques mundiais de café para o final da safra 2024/25 é de 20,9 milhões de sacas de 60 kg, o menor nível em 25 anos, indicando uma oferta limitada, segundo a Tranding Economics.
No segundo semestre de 2025, o preço do café pode começar a cair se:
- Colheita da nova safra no Brasil: Os trabalhos de campo começam entre o final de abril e maio, entrando no segundo semestre. Se as perdas não forem tão graves, como explicam analistas do setor, pode haver uma inversão de tendência. As entidades não arriscam um número para não “testar” os mercados e gerar mais especulações entre demanda e oferta.
- Clima favorável até o final da colheita: Se não houver geadas, secas ou chuvas excessivas em regiões como o Sul de Minas, Mogiana e Cerrado Mineiro, o volume e a qualidade dos grãos melhoram, segundo os últimos informativos mensais da Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). Um café de melhor qualidade e em maior quantidade pressiona os preços para baixo.
- Recuperação dos estoques globais: Os estoques mundiais de café estão em níveis muito baixos na ICE Futures. Se o Brasil exportar bem e outros produtores (como Vietnã e Colômbia) também tiverem boas safras, o mercado poderá reconstruir estoques, mas isso é uma realidade incerta, de acordo com analistas, como Eduardo Carvalhaes.
Perspectivas para o futuro
Uma redução significativa nos preços só é aguardada a partir da safra de 2026/27, caso as condições climáticas sejam favoráveis e a produção se recupere, conforme analisou a Faemg.
A situação ficará mais clara assim que comecem e avançem os trabalhos de campo no Brasil, em maio.