O Centro de Inovação do Cacau (CIC) desenvolveu, em parceria com a startup Trace Tech, uma ferramenta de rastreabilidade que pretende dar mais transparência ao chocolate brasileiro. Batizada de Sistema Brasileiro de Rastreabilidade do Cacau (SBRC), a tecnologia utiliza georreferenciamento e etiquetas com identificação por radiofrequência para monitorar a produção e garantir que o cultivo do fruto não ocorreu em áreas em que houve desmatamento ilegal.
No momento, 51 pequenos agricultores familiares de Rondônia já usam a tecnologia. Para fazer o cadastro, cada produtor paga R$ 750, mas, a depender do tamanho da propriedade, o custo pode chegar a R$ 4.280.
O CIC, uma iniciativa do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, faz análises de amêndoas de cacau para ajudar no desenvolvimento do mercado. A oferta do serviço em Rondônia foi possível ocorreu graças a uma parceria entre a Dengo Chocolates, que utiliza a ferramenta desde 2024, e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Segundo Cristiano Villela, diretor científico do CIC, uma das prioridades, agora, será a busca de novas empresas parceiras. “Queremos atrair Cargill, Olam e Barry Callebaut, que processam 95% do cacau brasileiro. Vamos conseguir ganhar escala se elas enxergarem valor na ferramenta”, diz Villela.
As tratativas já começaram, afirma. “Estamos vendo o interesse de chocolateiras e processadoras em custear porque, no fim das contas, o benefício também é para elas”, avalia. O próximo passo é aumentar para 150 o número de produtores que utilizam a ferramenta no polo cacauicultor do sul da Bahia — antes de chegar a Rondônia, a iniciativa teve um projeto-piloto na Bahia — e, na sequência, levar a tecnologia a novos Estados.
A Dengo não investiu na operação de Rondônia, mas firmou acordo para pagar um prêmio sobre o cacau dos produtores que utilizassem a tecnologia. Andresa Adami, gerente executiva de redes da Dengo, conta que, só em Rondônia, a empresa vai desembolsar até R$ 1 milhão em 2025 nas compras de matéria-prima.
O acréscimo sobre o valor do cacau será de 25%. “Com isso, serão cerca de R$ 200 mil em prêmio por qualidade e sustentabilidade do cacau rondoniense neste ano”, afirma a gerente executiva.
Já o Sebrae Rondônia fez um aporte de R$ 85 mil, por meio do Projeto Cacauicultura Sustentável de Espécies Nativas das Amazônia de Rondônia. Os recursos destinaram-se ao mapeamento dos produtores e ao desenvolvimento do plano de ação para cada cacauicultor que entrou no projeto.
Segundo os criadores, o SBRC é a primeira plataforma de rastreamento dedicada ao cacau no mundo. A tecnologia também atende às exigências da lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês), que deve entrar em vigor em 2026.
“Dentro da EUDR, é necessário mostrar que aquele pedaço de terra não foi desmatado depois de 2020. É importante mapear as propriedades e as áreas produtivas de cacau, e o aplicativo permite isso”, explica João Kuhlmann, o principal executivo da Trace Tech, startup responsável pela tecnologia.
O sistema mapeia as áreas de cultivo de cacau e integra as informações coletadas em bancos de dados públicos e privados. A rastreabilidade ocorre por meio de etiquetas distribuídas para os produtores. Elas são coladas nos sacos de amêndoas e contêm as informações de origem.
A tecnologia de radiofrequência que a ferramenta utiliza é similar às de pedágios, diz Kuhlmann. As informações de cada muda são armazenadas em um banco de dados e compartilhadas com a Sette, uma startup de tecnologia também parceira do negócio.
O SBRC pode ser conectado à Plataforma AgroBrasil+Sustentável, do Ministério da Agricultura. A Sette é responsável por sincronizar todas as informações sobre agricultor, fazenda e produto com as bases de dados públicos, como as de Ibama e Incra. “Aí podemos checar se tem trabalho escravo, embargo do ICMBio ou do Ibama, por exemplo”, relata Kuhlmann.