Aos 25 anos, a brasileira Maria Gabriella Oliveira Costa acaba de alcançar uma das conquistas mais relevantes de sua trajetória: foi aprovada no Schwarzman Scholars, programa internacional de mestrado com aceitação inferior a 3% e currículo desenvolvido em parceria com universidades como Harvard, Yale e Oxford. Ela vai estudar Global Affairs (Assuntos Globais, em tradução livre) na Universidade de Tsinghua, em Pequim, com bolsa integral.
Moradora de Guarulhos (SP) e ex-aluna de escolas públicas, Maria Gabriella é a primeira da família a cursar uma universidade pública — a USP (Universidade de São Paulo), onde se formou em Relações Internacionais em 2022. Também estudou no IFSP (Instituto Federal de São Paulo), onde fez o Ensino Médio técnico. Agora, é a sexta mulher brasileira a ser aceita no programa asiático.
“Quando entrei na USP, senti que minha família inteira entrou comigo. Foi uma vitória coletiva, que mostrou para amigos e colegas da escola pública que esse espaço também pode ser nosso”, afirma. O impacto da conquista foi tão grande que inspirou outros membros da família: sua prima também ingressou na USP e o irmão no IFSP.
Pesquisa, voluntariado e impacto social
Durante a graduação, Maria Gabriella atuou como pesquisadora pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pelo ODEC USP (Observatório da Democracia no Mundo da Universidade de São Paulo), estudando como democracia e governança pública impactam o desenvolvimento da América Latina.
Também foi voluntária no atendimento a migrantes e refugiados em São Paulo — experiências que, segundo ela, plantaram a semente do propósito de vida: trabalhar com impacto social, especialmente por meio do acesso à educação e à informação. “Vejo na comunicação uma ferramenta poderosa para isso. É uma forma de construir pontes no Brasil e no mundo”, acredita.
Atualmente, Maria Gabriella atua como gerente de marketing e comunicação no setor privado. Ao longo da carreira, também acumulou vivências em direitos humanos e políticas públicas. “Quero comunicar e traduzir políticas públicas de forma clara, acessível e conectada à realidade das pessoas, especialmente nas áreas de educação, saúde e trabalho”, avisa.
Por que o Schwarzman Scholars?
Segundo Maria Gabriella, a decisão de se candidatar ao Schwarzman Scholars foi uma combinação de propósito e estratégia de carreira. “Construir uma carreira é como montar um quebra-cabeça, e esse programa era a peça que faltava”, diz. A sugestão partiu de um professor da USP, Yi Shin Tang, e logo fez sentido. “Era tudo o que eu buscava: estudar em uma das melhores universidades do mundo, com colegas de mais de 30 países, em um programa focado em liderança global e ainda na China, onde a comunicação é usada como ferramenta estratégica de posicionamento internacional”, celebra.
O programa começa no fim de agosto. Em Pequim, Maria Gabriella espera mergulhar nas aulas, no mandarim e nas vivências interculturais. “Quero aproveitar tudo: mentorias, eventos, viagens, e representar da melhor forma o nosso país e a nossa cultura. Estou animada para sair da zona de conforto e crescer em várias frentes”, afirma.
Planos e conselhos
A jovem brasileira quer usar tudo o que aprender para transformar a realidade de outros jovens — principalmente aqueles de origem periférica. “Quero que histórias como a minha não sejam exceção. Acredito que todas as pessoas devem ter acesso à educação de qualidade e saber que existem oportunidades muito além do que imaginamos”, ressalta.
Para meninas e jovens mulheres que sonham alto, mas têm dúvidas sobre se candidatarem a oportunidades como as dela, Maria Gabriella deixa um recado: “Acredite em você, se cerque de pessoas que te incentivem, mesmo quando você duvida de si mesma, e se candidate. A síndrome da impostora é real entre nós, mulheres, e muitas vezes desistimos por medo do ‘não’. Mas tudo que a gente precisa é de um único ‘sim’.”