O Brasil avançou na oferta de financiamento verde para o agronegócio, mas tem como desafios mostrar ao mundo as boas práticas agropecuárias já adotadas pelos produtores brasileiros e tornar mais acessíveis as informações sobre esses financiamentos e formas de acesso. A conclusão fez parte do painel “Financiamento verde: desafios e soluções”, apresentado durante o Fórum Futuro do Agro, promovido pela Globo Rural e pelo Valor Econômico, nesta terça-feira (18/6), em São Paulo.
Participaram do debate Fernanda Marcantonatos Nogueira, líder de negócio de Bovaer para América Latina na DSM-Firmenich; Ketlin Sfair Antunes, gerente executiva de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil; Márcio Nappo, vice-presidente de ESG e sustentabilidade da Bracell; e Taciano Custódio, líder de sustentabilidade do Rabobank.
Nappo disse que o mercado vive um momento de inflexão, com a cobrança direta das instituições financeiras sobre o cumprimento de metas de sustentabilidade pesando nos investimentos em iniciativas mais sustentáveis.
Custódio observou que há no Brasil espaço para financiamentos verdes. No caso do Rabobank, o banco desembolsou US$ 10 milhões nos últimos cinco anos em operações agropecuárias sustentáveis. Ele acrescentou que existe um esforço no Brasil para se implantar a taxonomia verde, um sistema de classificação que define atividades econômicas sustentáveis, e que esse sistema tem características distintas de outras áreas da economia.
Ele citou a adoção de insumos biológicos na agricultura regenerativa, que leva até quatro safras para começar a ter resultados efetivos. “Como eu consigo desenhar um instrumento financeiro que faça sentido para o produtor rural adotar? Estamos falando aqui de prazos mais alongados, de períodos de carência”, afirmou Nappo. Além da natureza do agronegócio, também é preciso levar em conta informações sobre solo, clima, sistema de chuvas, que dão mais complexidade à avaliação do risco desses projetos.
Nappo acrescentou como outro desafio o custo da medição dos resultados dos projetos verdes. “Às vezes, custa mais caro medir o impacto do projeto de sustentabilidade do que a implantação do projeto em si”, criticou. A falta clareza nos impactos dos projetos acabam aumentando o seu risco e, consequentemente, encarecendo o custo do financiamento. O executivo acrescentou que a mitigação desses riscos também ajudaria a atrair investimentos estrangeiros para financiar projetos verdes na agropecuária brasileira.
“Quando a gente fala de 3%, 3,4% de [propriedades com Cadastro Ambiental Rural] CAR validado no Brasil, isso é alto risco. Como atrair investimento estrangeiro para financiar o agronegócio com esse tipo de risco?”, questionou Nappo.
Sfair disse que o CAR oferece previsibilidade ao investidor. Ela disse que o Banco do Brasil liberou o ano passado R$ 580 milhões em financiamentos com redutor de taxa de juros para produtores com o CAR validado.
Sfair observou que a oferta de títulos verdes tem crescido no Brasil nos últimos anos. Em 2023, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou R$ 500 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) verdes para um programa de recuperação de áreas desmatadas. Em 2024, lançou títulos (bonds) de sustentabilidade voltados para projetos de energia limpa. Recentemente, foi lançado um título verde lastreado em Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs), voltado para agricultura regenerativa.
“A taxonomia verde vem ajudar a agregar. Essas novas regras vêm para garantir uma padronização para avaliação dos projetos”, afirmou a executiva. Sfair acrescentou que o Banco do Brasil tem uma Cédula de Produto Rural (CPR) para projetos de preservação e uma CPR para antecipar créditos de descarbonização (CBIOS).
Nogueira considerou que há quatro caminhos de remuneração da produção verde: geração de créditos de carbono, isenção fiscal pelo governo, financiamento verde e o recebimento de bônus pelos consumidores no preço final dos produtos.
“Suíça, França, Holanda e a Califórnia, nos EUA, têm fundos dedicados a mitigar as emissões de metano na produção pecuária. E há muitos incentivos para o produtor adotar tecnologia para isso. A Dinamarca tem incentivo do governo para uso das tecnologias até que os consumidores consigam se adaptar aos novos preços. Uma boa comunicação com os consumidores é fundamental para isso”, afirmou.
Custódio considerou que o Brasil tem questões de segurança jurídica ambiental que precisam ser endereçadas para que os investidores estrangeiros vejam o país como mais seguro para fazer investimento verde. Nappo também defendeu regras mais claras e avanços nos processos de mensuração dos impactos positivos dos projetos de sustentabilidade. Sfair demonstrou otimismo com o Brasil no médio prazo. Ela observou que, só no ano passado, o Banco do Brasil financiou R$ 5,6 bilhões em projetos de recuperação de áreas degradadas para 12 mil clientes.
“O Brasil tem lacunas de metodologias, de mensuração dos ganhos dos projetos, mas acho que o principal desafio é de comunicar o que tem de disponível em termos de financiamento e como os produtores podem evoluir. E comunicação para trazer visibilidade ao que vem sendo feito. Para mim este seria um grande resultado da COP30”, afirmou Nogueira.