O empreendedor Luiz Zolet trabalhava em sua corretora no Paraná, com compra e venda de gordura animal e farinha de vísceras para indústrias de biodiesel e de ração animal. Em 2019, enquanto levava o lixo para descarte, teve a ideia de reaproveitar a borra de café, dando a ela uma nova destinação.
“A ideia inicial era extrair o óleo da borra de café, mas o processo de separação é economicamente inviável”, diz Zolet. Ele prosseguiu com as pesquisas e desenvolveu pellets de borra de café para substituir cavacos de madeira como fonte de energia em caldeiras. Os pellets são chamados de “lenhas ecológicas”, porque substituem a lenha evitando o desmatamento.
“Comecei fazendo com uma prensa manual em casa. Começou a dar certo, aí desenvolvi o projeto do negócio e passei na seleção do Biopark de Toledo (PR) para desenvolver lá o projeto por seis meses”, diz Zolet.
O empreendedor recebeu R$ 300 mil do Sebraetec para desenvolver o projeto industrial do pellet de borra de café. A empresa Bricoffee foi criada em 2022, com produção média de 200 quilos por hora, em Tupãssi (PR). Zolet adquiria borra de café de cooperativas e estabelecimentos comerciais, mas decidiu transferir a produção para Varginha (MG), onde tinha mais acesso a resíduos de café gerados por indústrias de torrefação. Atualmente, ele processa de 12 a 13 toneladas por dia de resíduos de café para produzir os pellets.
Zolet diz que negocia hoje com grandes torrefadoras a aquisição da borra de café gerada a partir da produção do café solúvel, para ampliar a sua produção. A meta é atingir uma produção diária de 25 toneladas por dia em 2026.
“Tudo que eu produzo hoje vendo para um cliente da agroindústria, mas a demanda está muito alta. Estou investindo entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão na instalação de uma nova linha de produção para ampliar a oferta”, diz Zolet. Um dos motivos para a demanda dessa espécie de “lenha ecológica” é a sua capacidade de reduzir emissões de carbono do ambiente, oferecendo uma fonte de energia limpa e renovável.
“A decomposição da borra de café leva de 50 a 60 dias. Com os pellets, tiramos do ambiente um passivo ambiental enorme, gerando uma fonte de energia limpa e renovável”, diz Zolet. Ele estima que cerca de 8 mil toneladas de borra de café sejam descartadas por dia no Brasil.
De acordo com cálculos do empreendedor, cada tonelada de resíduo de café retirado do aterro permite remover em torno de 200 quilos de carbono equivalente do ambiente, o equivalente a 200 créditos de carbono. A Bricoffee atualmente busca certificação internacional para negociar créditos de carbono.
Zolet diz ainda que o pellet de borra de café chega aos clientes custando entre R$ 0,95 e R$ 1 o quilo. Os pellets de pinus são vendidos na mesma região de atuação da fábrica a R$ 1,40.
Biomassa na Nestlé
O uso da borra de café como fonte de energia é adotada pela Nestlé, na fábrica de Araras (SP), desde a década de 1980, mas de uma maneira um pouco diferente. Segundo a companhia, a borra é prensada e armazenada em silos, e posteriormente é misturada a cavacos de madeira, formando um mix usado nas caldeiras para gerar vapor.
“Atualmente, cerca de 97% da borra de café gerada nos processos produtivos da fábrica é reaproveitada como biomassa, contribuindo para reduzir o consumo de fontes fósseis e as emissões de gases de efeito estufa. O restante, aproximadamente 3%, segue para compostagem e é utilizado como fertilizante orgânico em lavouras da região”, informou a Nestlé em nota.






