Especialistas reunidos em evento sobre comércio de carne bovina entre Brasil e China apontaram desafios para dar escala às boas práticas de produção e à rastreabilidade da produção pecuária brasileira.
Cada vez mais demandadas por mercados consumidores, as informações de conformidade ambiental dos imóveis rurais podem ser acessadas gratuitamente e gerar certificações de sustentabilidade, como o Selo Verde, elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e adotado em alguns Estados.
Felipe Nunes, diretor do Centro de Inteligência Territorial (CIT) e pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG, disse que o custo sempre é uma preocupação, principalmente porque essas medidas precisam alcançar milhões de pequenos imóveis rurais de agricultores familiares.
“Sempre baseamos a plataforma Selo Verde em integração de bancos de dados que já existem. Para ter conformidade com dados pessoais e comerciais não era problema de falta de tecnologia, mas de a informação ser cruzada”, disse no evento. “Hoje, para a originação, a conformidade é custo zero para o produtor. O produtor tem informação de forma gratuita e verificável e pode bater com o frigorífico”, completou.
Ele apontou que o desafio de custo é para a implementação de boas práticas de produção e restauração florestal nas propriedades. “O Brasil precisa de escala, de políticas públicas focadas em pequenos e médios produtores, dentro de visão de inteligência territorial, unificando informações de paisagem para ter ganho de escala de restauração e proteção ambiental”, completou.
Lisandro Inakake, gerente de Desmatamento Zero e Políticas Públicas do Imaflora, disse que vários instrumentos, públicos e privados, podem ser usados para incentivar a adequação socioambiental da produção e mecanismos de rastreabilidade. Ele pontuou, no entanto, que a busca por essa conformidade é impulsionada se houver a percepção de ganhos financeiros por parte do produtor.
“A partir do momento que se começa a associar novos atributos de acordo com mercados específicos, é preciso fazer reconhecimentos, inclusive financeiros, para que na cadeia seja possível financiar a adoção de rastreabilidade com tecnologia”, afirmou no evento.
“Existem formas de fomento até pelo Plano Safra que financia as boas práticas”, indicou.
Ele citou o exemplo do Estado do Pará, que implementou a rastreabilidade individual bovina, o que gera possibilidades de investimentos para realizar a transição para esse modelo mais transparente.
“O caso do boi-China [abatido com, no máximo, 30 meses de idade] é exemplar. O quanto se conseguiu melhorar o tempo de abate e obter de externalidade, com a redução de emissões ou de intensidade de emissão por animal. Houve essa redução por demanda do mercado. É um elemento que pode apoiar o financiamento”, apontou.