Uma árvore consagrada a um orixá há 26 anos foi derrubada na manhã da última quarta-feira (22) por agentes da Secretaria de Serviços Públicos e Ordem Pública de Santo Amaro, no recôncavo baiano.
A ação ocorreu durante a demolição de uma barraca de acarajé vinculada ao Terreiro Ilê Axé Omorodé Loni Omorodé Oluayé e foi denunciada à Polícia Civil como um ato de intolerância religiosa. O caso foi registrado um dia após o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
A situação gerou indignação entre membros de religiões de matriz africana, especialmente em Santo Amaro.
Mabô Kayode, Omon Orixá de Ewa, iniciada no Ilê Axe Omorode Loni Oluaye e integrante do terreiro liderada pelo babalorixá Gilson da Cruz, fez um desabafo em um vídeo divulgado nas redes sociais denunciando o caso.
“No dia 22 de janeiro de 2025, a Prefeitura Municipal de Santo Amaro mandou arrancar uma árvore sagrada que tínhamos aqui na frente do nosso terreiro, sem nenhuma justificativa, sem nenhum tipo de comunicação prévia”, relata.
Segundo Mabô, os funcionários da prefeitura chegaram para demolir uma barraca ao lado da planta. “Foi comunicado que [a barraca] seria derrubada. Até aí, tudo bem. E em seguida, eles simplesmente arrancaram a árvore. Mesmo o irmão de santo nosso tendo gritado, informado que ali havia os Exus, que havia assentamento de Exu, eles não consideraram e arrancaram a nossa árvore sagrada”, denunciou a integrante do terreiro.
Em nota, a Associação do Bembé do Mercado, representada pelo Baba Pote, José Raimundo Lima Chaves, classificou o episódio como “uma afronta social” e “mais um capítulo da persistente intolerância religiosa”. A entidade cobrou responsabilização da Prefeitura e medidas que garantam o respeito às práticas religiosas.
A Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro também se manifestou, destacando que a árvore derrubada abrigava assentamentos sagrados e que já iniciou articulações para garantir ações reparatórias.
Nas redes sociais, a Prefeitura de Santo Amaro emitiu um comunicado pedindo desculpas à comunidade afetada e atribuiu o incidente a um erro da equipe designada. A gestão se comprometeu a apurar o caso com rigor e reforçou que está avançando na criação de uma Secretaria Municipal de Igualdade Racial e de Gênero, que terá como foco o combate à discriminação e a valorização da diversidade.
“Ressaltamos que a Prefeitura de Santo Amaro não compactua com nenhum tipo de intolerância religiosa. Reconhecemos a relevância do candomblé e das demais manifestações religiosas em nossa cidade e reafirmamos nosso compromisso com o respeito, a valorização das diversidades e a preservação do patrimônio cultural e religioso”, informou a administração municipal, em nota.
O caso é investigado pela Delegacia Territorial de Santo Amaro. Segundo a Polícia Civil, testemunhas serão ouvidas para esclarecer os fatos.