O azeite de oliva se transformou em artigo de luxo no carrinho de compras e também na mesa do consumidor entre 2023 e 2024. Foram meses seguidos como um dos principais vilões da inflação no levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
No entanto, o jogo virou. Depois de registrar aumento de 50,74% entre maio de 2023 e junho de 2024, o óleo vegetal extraído da azeitona e utilizado em diferentes preparações da gastronomia teve queda de -4,42% desde janeiro.
O recorte também é positivo no acumulado dos últimos 12 meses após picos – 0,97% – e na variação mensal entre abril e maio, com -2,78% (veja nas tabelas).
Como evoluiu a inflação do azeite
Mês | Variação em 12 meses | Variação mensal |
Maio/24 | 49,42% | 2,05% |
Junho/24 | 50,74% | 1,77% |
Julho/24 | 46,54% | 0,72% |
Agosto/24 | 44,22% | 1,34% |
Setembro/24 | 38,68% | 0,95% |
Outubro/24 | 32,30% | 0,48% |
Novembro/24 | 25,15% | 0,32% |
Dezembro/24 | 21,53% | -0,06% |
Janeiro/25 | 17,24% | 0,36% |
Fevereiro/25 | 14,16% | -0,45% |
Março/25 | 10,01% | -0,09% |
Abril/25 | 5,99% | -1,51% |
Maio/25 | 0,97% | -2,78% |
Fonte: IPCA/IBGE
No dinamismo que é o comportamento dos preços dos alimentos da cesta básica, o azeite de oliva foi, aos poucos, trocando de lugar com outro produto indispensável à mesa: o café.
Atualmente, o grão moído pressiona a inflação e é destaque na escalada dos preços, registrando alta significativa e apreensão nos apaixonados pela bebida. Nos últimos 12 meses, por exemplo, subiu 82,24%, com variação de 4,59% no IPCA de maio.
O que elevou o preço do azeite em 2024?
Alguns fatores culminaram para transformar o óleo em um dos vilões da inflação brasileira. E o principal deles foi a diminuição da oferta em escala mundial.
Conforme Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio (FGV Agro), a redução ocorreu por problemas climáticos que atingiram os principais países produtores de azeitonas: Grécia, Itália, Espanha e Portugal.
“A atmosfera esteve sob os efeitos do El Niño no início do ano passado e, naquela região, o fenômeno causa estresse hídrico (seca). Além disso, as temperaturas foram acima da média. Por um lado, as oliveiras produziram menos frutos e alguns até defeituosos. Por outro, os frutos tinham uma quantidade menor de óleo, afetando a produção e o preço final”.
Outro detalhe que explica o aumento no Brasil está ligado à importação. Isso porque, a produção nacional não consegue atender a demanda. Enquanto o país produz 750 mil litros anuais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), o consumo ultrapassa 100 milhões de litros.
E com mais de 99% do azeite comercializado proveniente do exterior, o produto também sofreu influência do câmbio.
“O que aconteceu foi que começamos o ano com algo em torno de R$ 4,91 na média mensal e encerramos com taxa máxima de R$ 6, ou seja, tivemos uma forte desvalorização do real. E os produtos importados que têm o preço formado lá fora, ao serem convertidos, foram reajustados para cima. A quebra da safra mundial foi, sim, o principal fator, mas a depreciação da nossa moeda teve parcela”.
O que causou a queda no preço em 2025?
Basicamente, os fatores que causaram a alta do azeite de oliva em 2024 – problemas climáticos e desvalorização do real – estabilizaram, o que, como consequência, aumentou a oferta do produto.
No caso dos principais países produtores de azeite, o El Nino, fenômeno que prejudicou a produção entre 2023 e 2024, foi substituído pelo período de neutralidade e, depois, por um La Niña de fraca intensidade e também duração. A mudança foi positiva e favoreceu a produção nas lavouras europeias.
Em Jaén, na Espanha, Chania, na Grécia, e Bari, na Itália, por exemplo, áreas que respondem por quase 60% produção mundial, a colheita em 2025 se recuperou e está próxima da normalidade, destaca Flávio Obino Filho, presidente do Ibraoliva.
“O preço internacional aumentou 80% em 2023, teve uma queda de 29% em 2024 e agora chega a 53%. O movimento foi no mesmo sentido aqui no Brasil, mas com uma escala de aumento e recuo um pouco menor”, completa.
Além do clima, Serigati, pesquisador da FGV Agro, pontua também a influência do dólar na redução destacada pelo IPCA ao longo dos últimos 12 meses. “Aqui no Brasil, o fator câmbio teve a sua importância. Começamos o ano operando acima de R$ 6 e hoje (13/6) está abaixo de R$ 5,60”.
O que esperar dos próximos meses?
A tendência é que o azeite de oliva comercializado no Brasil diminua ainda mais o preço no segundo semestre de 2025, projeta Flávio Obino Filho. E motivo é a queda observada na Europa do produto importado pelas distribuidoras que abastecem o território brasileiro.
Diante desse cenário positivo, o dirigente reforça a necessidade de que os órgãos nacionais, como o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), intensifiquem a fiscalização para evitar fraudes.
“Que sejam cada vez mais eficientes para que azeites impróprios para consumo ou misturados com óleos vegetais não cheguem ao balcão. E também que as análises sensoriais sejam feitas em maior escala para que azeites de oliva com defeito não sejam comercializados nos supermercados como se fossem azeite extravirgem e da mesma qualidade dos nossos produtos”, diz o dirigente.
A expectativa é a mesma da Associação Paulista de Supermercados (APAS). De acordo com o economista-chefe Felipe Queiroz, a retomada da safra europeia, prejudicada pelo clima nos últimos anos, culminou com a redução no preço do alimento e deve se manter desta forma no Brasil.
“Entendemos que o valor do azeite vai continuar caindo e deflacionando, só que num patamar um pouco maior. Nós até produzimos azeite, mas a maior parte, inegavelmente, é importada. Nesse sentido, o comportamento da produção agrícola da Europa é determinante para o mercado doméstico e a cotação internacional. E como lá a produção está recuperada, vai refletir aqui”.
A redução no preço do azeite também contribuiu para a trajetória de queda da subcategoria dos óleos, destaca a APAS. Em São Paulo, por exemplo, o produto teve recuo nos últimos meses no Índice de Preços de Serviços (IPS), produzido pela APAS em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômica (Fipe): -1,01% (fevereiro), -1,26% (março), -2,34% (abril) e -2,52% (maio).
Saiba como evitar fraudes na compra
O azeite de oliva é o segundo produto mais fraudado do mundo, atrás apenas do pescado, em razão do valor agregado, da alta apreciação e da demanda superior à oferta. E para evitar ser enganado, o consumidor deve seguir as dicas abaixo:
- Os azeites são melhores quando jovens. Por isso, compre o mais novo;
- O limite para um azeite ficar fechado é de até dois anos;
- O azeite deve estar longe da luz e do calor;
- Observe se a parte em volta da tampa está vedada e sem entrada de ar;
- O azeite deve estar dentro de uma garrafa de vidro escura;
- Desconfie de preços muito baixos;
- Confira a lista de produtos apreendidos em ações do Mapa;
- Não compre azeite a granel.