Uma nova tecnologia com desenvolvimento 100% brasileiro chega ao mercado ainda neste segundo semestre, com a promessa de avaliar grãos de café com mais precisão e agilidade. O dispositivo eletrônico, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em parceria com a startup OptikAI, utiliza luz e sensores para analisar a cor dos grãos de café, ajudando a distinguir entre espécies como arábica e robusta.
“Atualmente, a forma mais comum de avaliar o café ainda é pela análise sensorial, em que especialistas avaliam aroma, sabor, textura e cor a partir da degustação da bebida. Embora seja importante, esse processo é subjetivo e depende da experiência de quem analisa. O novo aparelho, por outro lado, oferece uma avaliação objetiva, padronizada e confiável, baseada em dados precisos de cor”, afirma Bruno Pereira de Oliveira, CEO da Startup OptkAI e doutor em física pela USP e pesquisador da instituição.
“A análise de cor é uma das formas mais importantes de avaliar a qualidade do café verde (ainda não torrado), já que pequenas variações podem indicar diferenças na maturação, no armazenamento ou na espécie da planta”, continua.
O desenvolvimento do protótipo levou três anos, e contou com financiamento de bolsas de pesquisas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
Segundo Oliveira, a OptkAI já tem encomendas dos aparelhos, que serão entregues para exportadores, torrefadores e produtores de Estados brasileiros como Paraná, Espírito Santo e São Paulo. Além disso, já interesse por parte de compradores de outros países, não revelados pelo pesquisador. Hoje, 11 pessoas trabalham na startup em São Carlos (SP).
Como funciona o novo dispositivo?
O sistema usa sensores de cor (RGB) e um conjunto de lâmpadas LED brancas que iluminam o grão com intensidade controlada. Essa luz, que reflete nos grãos, é captada pelos sensores, que registram com exatidão os tons da amostra.
O controle da luz é feito por meio de um circuito eletrônico inteligente, que garante que cada medição seja feita sob as mesmas condições. Isso evita variações que poderiam comprometer os resultados. O sistema ainda conta com um pequeno motor que gira a amostra, permitindo que ela seja analisada de vários ângulos.
Todos os dados são processados por um microcontrolador e, em seguida, analisados por um programa de computador, que transforma os valores de cor em informações que ajudam a identificar o tipo de café.
“Os testes mostraram que o dispositivo tem alta precisão. Mesmo quando amostras diferentes eram analisadas por sensores em posições distintas dentro do equipamento, os resultados se mantiveram consistentes e isso é essencial para que o aparelho seja usado em ambientes industriais ou em cooperativas agrícolas”, comenta Oliveira.
Como é um sistema baseado em componentes simples, como LEDs e microcontroladores, seu custo tende a ser muito mais acessível do que os grandes equipamentos laboratoriais usados atualmente. A ideia é que, no futuro, o aparelho possa ser utilizado até mesmo no campo, ajudando o agricultor a tomar decisões com mais segurança.