A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento para tratamento de tumores cerebrais. A decisão foi publicada na segunda-feira (11) no Diário Oficial da União.
O Voranigo (vorasidenibe) é um inibidor das enzimas IDH1 e 2 mutadas e foi aprovado para pacientes adultos e adolescentes a partir de 12 anos diagnosticados com glioma difuso de baixo grau, submetidos à intervenção cirúrgica prévia. O medicamento é disponibilizado pela farmacêutica francesa Servier.
O glioma é um tipo de tumor que se forma no cérebro ou na medula espinhal e é classificado em diferentes tipos, incluindo astrocitomas, ependimomas e oligodendrohliomas, a depender das células onde ele se forma. A condição pode afetar adultos e crianças.
O Voranigo é indicado para o tratamento de pacientes com astrocitomas ou oligodendrogliomas, de baixo grau (grau 2), com mutações na enzima IDH 1 ou 2, que já foram submetidos a um procedimento cirúrgico anterior e não tenham indicação de radioterapia ou quimioterapia imediata. O medicamento atua bloqueando essas enzimas mutadas, inibindo o crescimento de células tumorais.
A aprovação da Anvisa foi baseada nos resultados do ensaio clínico INDIGO, que demonstrou a eficácia e segurança de Voranigo como terapia-alvo no tratamento dos gliomas difusos de grau 2 com mutação de IDH. O estudo mostrou que o medicamento levou a uma redução de 61% no risco de avanço da doença, além de atraso no crescimento tumoral e redução do volume do tumor. Segundo os pesquisadores, isso pode aumentar o tempo até a necessidade de futuras intervenções terapêuticas, preservando a qualidade de vida dos pacientes.
Embora cresça mais lentamente, o glioma de baixo grau pode evoluir para tumores mais agressivos ao longo do tempo. Até hoje, as opções de tratamento eram limitadas à cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Por isso, a aprovação do Voranigo é considerada um avanço para alternativas de tratamentos mais personalizados e que permitam uma sobrevida com mais qualidade.
“O glioma é o tumor mais comum do cérebro e os tratamentos vêm evoluindo de modo muito importante. As técnicas cirúrgicas e a radioterapia melhoraram, assim como, mais recentemente, novas medicações que procuram atacar o tumor por mecanismos pelos quais eles crescem vêm sendo desenvolvidas com resultados extremamente importantes”, afirma o oncologista Fernando Maluf.
O que é glioma?
O glioma é um tumor que se forma no cérebro quando as células gliais, que circundam as células nervosas e as ajudam a funcionar, crescem de forma descontrolada. A doença também pode acometer a medula espinhal, de acordo com a Cleveland Clinic.
Existem três tipos de gliomas, classificados conforme o tipo de célula glial em que se originam:
- Astrocitomas: se originam em células chamadas astrócitos. É o caso do glioblastoma, um tipo de câncer cerebral muito agressivo;
- Ependimomas: se originam nos ependimócitos, se formando nos ventrículos do cérebro ou da medula espinhal;
- Oligodendrogliomas: se originam nas células gliais e tendem a crescer mais lentamente, mas podem se tornar mais agressivos com o tempo.
Segundo pesquisas, os gliomas podem surgir devido a alterações no DNA que fazem com que as células se multipliquem descontroladamente. Os sintomas incluem dor de cabeça, náusea e vômitos, confusão mental, perda de memória, mudanças de personalidade ou irritabilidade, problemas de visão, dificuldade de fala e convulsões.
“Os sintomas podem variar entre os pacientes, pois ocorrem pela agressão do tumor no cérebro, alterando a função dessa área acometida. Além disso, os sintomas podem ser diferentes a depender do tipo de tumor e da velocidade de crescimento”, afirma Camilla Yamada, líder da neuro-oncologia da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Segundo a Mayo Clinic, o tratamento, geralmente, começa com cirurgia, mas ela pode ser arriscada se o tumor estiver localizado em áreas importantes do cérebro. Outras opções incluem radioterapia e quimioterapia, associadas com medicamentos para controlar sintomas como convulsões, inchaço cerebral e problemas de memória.
“Depois de identificado, o tratamento começa com a cirurgia, tentando remover o máximo possível. Isso vai depender do tamanho e da localização do tumor”, explica o neurocirurgião oncológico do Hospital Sírio Libanês e professor pós-graduado em neuro-oncologia, Marcos Maldaun.
“A depender do resultado da análise do tumor retirado e do quanto foi possível ressecar na cirurgia, avalia-se a necessidade de tratamento complementar, que pode incluir sessões de radioterapia, quimioterapia e terapia alvo. Além disso, é fundamental para a classificação dos gliomas, segundo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), obter perfil molecular/genético para avaliação IDH. Saber o nome e o sobrenome da doença ajuda a equipe multidisciplinar a planejar a melhor estratégia de tratamento e seguimento”, explica o especialista.