Em janeiro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu sua equipe de ministros para dar o tom do que esperava para o ano que antecede as eleições presidenciais: disse que era o momento da “colheita”, ou seja, chegava a hora das pastas entregarem resultados. Ao final do terceiro ano de mandato, a gestão federal conseguiu concluir promessas de campanha, mas esbarrou em entraves na relação com o Congresso e a crise causada pelas tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos.
Também foi o ano em que o presidente mais promoveu mudanças no alto escalão do governo. Ao todo, foram oito trocas — algumas por crises envolvendo auxiliares, outras por motivos estratégicos. O titular do Executivo trocou, por exemplo, o comando da Secretaria de Comunicação Social (Secom), com a saída do então ministro Paulo Pimenta (PT-RS) para a entrada do marqueteiro Sidônio Palmeira. O objetivo era modernizar a comunicação do governo e ampliar a presença nas plataformas digitais.
O petista também fez mudanças em três outras pastas estratégicas: o Ministério da Saúde, trocando Nísia Trindade por Alexandre Padilha (PT-SP); a Secretaria de Relações Institucionais, com a chegada de Gleisi Hoffmann (PT-PR) no lugar Padilha; e, por fim, a nomeação de Guilherme Boulos (PSol-SP) em substituição ao então ministro Márcio Macêdo (PT-SE) na Secretaria-Geral da Presidência.Play Video
As alterações buscaram “arrumar a casa” para que medidas vistas como fundamentais para a reeleição do petista saíssem do papel. É o caso do programa Agora tem Especialistas, do Ministério da Saúde, que pretende acabar com a fila por procedimentos e consultas no Sistema Único de Saúde (SUS) — uma promessa de campanha de Lula. A iniciativa chegou a ser lançada sob gestão de Nísia, mas não teve o alcance esperado. Ao assumir a pasta, Padilha repaginou o programa.
Promessas cumpridas
No “ano da colheita” a gestão federal conseguiu entregar outras promessas de campanha, entre elas, a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil. Aliados veem a medida como um trunfo eleitoral para 2026 — ano em que a medida passa a valer.
A nova lei também concede descontos para trabalhadores com renda até R$ 7.350 e aumenta a tributação para aqueles que ganham mais de R$ 600 mil por mês — os chamados super-ricos.
Na linha do combate às desigualdades, o governo também cumpriu a promessa de tirar o Brasil do Mapa da Fome. A meta inicial era alcançar o resultado até 2030, conforme o Plano Brasil sem Fome lançado em 2023, mas a saída foi anunciada já em julho de 2025. De acordo com a Organização das Nações Unidas para para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU), o país ficou abaixo do limite de 2,5% da população em risco de subnutrição ou de insegurança alimentar triênio de 2022, 2023 e 2024.
Tarifaço
Os últimos meses também foram marcados pela crise envolvendo as tarifas e sanções anunciadas pelo governo dos Estados Unidos, de Donald Trump, contra o Brasil. Em uma decisão justificada por uma suposta “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — à época, alvo de julgamento pela trama golpista —, a Casa Branca impôs tarifas extras de 40% sobre exportações brasileiras.
Autoridades brasileiras, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e auxiliares do presidente Lula, também ficaram na mira de sanções, que restringiram vistos e atividades econômicas.
O cenário só mudou no final de setembro, quando Lula e Trump se encontraram rapidamente nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Na ocasião, o republicano revelou que os dois tiveram “uma química excelente” e, a partir daí os governos trabalharam em uma reunião entre os líderes para negociar as sobretaxas impostas.
Após isso, Lula e Trump mantiveram uma reunião presencial — na Malásia, em outubro — e dois telefonemas. Nas discussões, o presidente brasileiro ressaltou a necessidade da revogação das tarifas e das sanções aplicadas contra autoridades.
O primeiro recuo ocorreu em novembro, quando o governo norte-americano anunciou a retirada das taxas de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros. Já no último 12 de dezembro, a Casa Branca revogou as sanções impostas ao ministro do STF Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky. Apesar de publicamente os EUA associarem a mudança de postura ao avanço do PL da Dosimetria, nos bastidores auxiliares de Lula atribuem a vitória às negociações diretas entre os presidentes.
Resta negociar ainda a redução de tarifas como pescados, cereais, mel e industrializados, que ficaram pendentes. Estimativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços projeta que 22% das exportações seguem sujeitas à sobretaxa.
O governo também defende a revogação das restrições a vistos aplicadas contra ministros do STF, integrantes do governo e familiares de autoridades. Na lista, estão por exemplo o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, e servidores envolvidos na implementação do programa Mais Médicos.
Dificuldades no Congresso
Se por um lado a gestão Lula conseguiu contornar a crise do tarifaço, na política nacional, a situação se acirrou no final do ano, com divergências entre Executivo e o Legislativo. Ao longo do ano, o governo já havia enfrentado dificuldades no Congresso Nacional, sobretudo no episódio envolvendo a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O ápice do embate ocorreu em junho, quando parlamentares aprovaram a derrubada do decreto presidencial que aumentou as alíquotas do imposto — a primeira vez que isso aconteceu em mais de 30 anos.
Já no fim do ano a relação entre os poderes voltou a tensionar. As decisões do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de indicar o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o PL Antifacção — uma medida prioritária para Lula —, além de pautar o projeto de lei que reduz penas para envolvidos na trama golpista de forma relâmpago, desagradaram o Planalto.
No Senado, a parceria com o governo federal ficou deteriorada após Lula indicar o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, para uma vaga no STF. Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Casa, ficou contrariado pois defendia a nomeação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Apesar de toda a confusão, o petista tem evitado fazer críticas públicas ao Congresso. Em eventos oficiais recentes, o presidente fez elogios ao parlamento, ressaltando que todas as medidas econômicas enviadas pelo governo foram aprovadas. Lula também tem repetido que mantém uma boa relação com Hugo Motta e Davi Alcolumbre, e que está disposto a conversar com os chefes dos Poderes para “aparar as arestas”.
Agendas internacionais
Ao longo do ano, a agenda do presidente foi tomada por compromissos internacionais. O Brasil esteve à frente da presidência do Brics, da 30ª Conferência das Partes (COP30), e do Mercosul.
Realizada no Rio de Janeiro, em julho, a Cúpula de Líderes do Brics discutiu temas como combate às mudanças do clima, inteligência artificial, cooperação em saúde, além de conflitos mundiais. Apesar de divergências entre países do grupo, o encontro terminou com a aprovação de um texto final que citava questões como o conflito na Faixa de Gaza e a política tarifária dos Estados Unidos.
Já em novembro, o governo levou a Belém (PA) a maior conferência de discussão sobre questões climáticas do mundo, a COP30. O evento foi cercado de polêmicas, com dúvidas sobre a oferta de hospedagem na capital paraense. O texto final do evento destaca a ampliação do financiamento para nações pobres que enfrentam as consequências do aquecimento global, mas deixou de fora ações para o fim dos combustíveis fósseis.
Por fim, o Brasil também assumiu a presidência pro tempore do Mercosul, bloco que reúne países sul-americanos. Sob comando brasileiro, o grupo discutiu temas como fortalecimento do comércio entre os países, mudanças do clima, combate ao crime organizado, entre outros. Uma das marcas defendidas pelo governo Lula, a assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia foi adiado em meio à resistência de países europeus.





