Recentemente, uma análise da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, conhecida como Proteste, mostrou que duas fatias de pão de forma de três marcas podem conter teor alcoólico suficiente para não passar no teste do bafômetro. Segundo a entidade, isso acontece porque a fabricação de pães envolve a formação de álcool etílico que evapora no forno. Porém, as indústrias diluem conservantes na substância para evitar o mofo, o que faz com que haja etanol residual nos produtos.
Além dos pães de forma, já foram encontrados álcool em outros alimentos, tanto de forma natural quanto devido à forma como são produzidos. Estudos já mostraram que algumas bebidas fermentadas, como kombucha e kefir, podem ter um teor alcoólico maior que 1,15%. No Brasil, são considerados produtos não alcoólicos aqueles com menos de 0,5% de álcool por volume. O teste do bafômetro detecta o consumo de álcool a partir de 0,33 miligrama de álcool por litro de ar expelido.
A banana madura também pode conter uma concentração de álcool de 0,4%, segundo um estudo publicado em 2016 no Journal of Analytical Toxicology. O mesmo acontece com sucos de maçã, de uva e de laranja, com níveis mais altos encontrados no suco de uva (0,86 g/litro de etanol). O vinagre, principalmente o balsâmico, champanhe, xerez e de vinho podem conter entre 0,1% e 0,4% de teor alcoólico.
Mas, afinal, consumir alimentos que possuem álcool em sua composição podem trazer riscos à saúde? Segundo Andrea Sampaio, nutróloga do Hospital Sírio-Libanês, os níveis de álcool presentes em alimentos fermentados ou frutas maduras são muito baixos e não representam um risco significativo para a maioria das pessoas.
“No entanto, segundo um estudo, em gestantes, lactantes e crianças, mesmo com exposições mínimas, [esses alimentos] podem causar problemas psicomotores e anormalidades neurológicas ligadas à motilidade, depressão, ansiedade e dificuldades de desenvolvimento”, afirma.
A especialista se refere a um estudo publicado no Journal of Analytical Toxicology. Nele, foi observado que mesmo baixos níveis desses álcoois consumidos pela alimentação podem aumentar, a longo prazo, a vulnerabilidade a problemas crônicos de saúde, como câncer, cirrose hepática, Alzheimer, autismo, toxicidade ocular e alterações no desenvolvimento fetal.
Os riscos podem ser ainda maiores para os pequenos. “Segundo o estudo, mesmo essa pouca quantidade — consumo de 0,5 g/L por dia de álcool — pode ter riscos, especialmente para crianças que gostam de consumir sucos e fast food com maior frequência, bem como para adultos predispostos que consomem regularmente alimentos não alcoólicos, como sucos, frutas, legumes enlatados ou picles”, ressalta.
“Diante disso, estudos sobre o teor de álcool de vários alimentos não alcoólicos naturais e processados, juntamente com seus efeitos em humanos e criação de novas regulamentações sobre rotulagem de produtos alimentícios e consumo consciente de alimentos são de particular importância”, afirma a especialista.
Tem como evitar o consumo desse tipo de alimento?
Na visão da nutróloga, evitar o consumo desse tipo de alimento pode ser desafiador, mas algumas medidas podem ser tomadas. A especialista orienta:
- Ler os rótulos dos alimentos cuidadosamente;
- Optar por alimentos frescos e minimamente processados;
- Evitar alimentos e bebidas fermentadas;
- Preparar os alimentos em casa para controlar os ingredientes e processos de produção;
- Reduzir a quantidade de massas e açúcares;
- Obter orientação adequada do profissional da área de saúde.
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