Alergia alimentar não é frescura. É uma condição clínica séria, que exige atenção, cuidado e conhecimento. No Brasil, o dia 7 de maio marca o Dia Nacional de Prevenção das Doenças Alérgicas, e a terceira semana de maio foi oficialmente instituída como a Semana Nacional de Conscientização sobre Alergia Alimentar, conforme a Lei nº 14.731/2023. Essas datas reforçam a importância de ampliar a informação sobre um problema que afeta milhões de pessoas e que, muitas vezes, ainda é subestimado.
O que é alergia alimentar?
A alergia alimentar acontece quando o sistema imunológico reage de forma exagerada a proteínas específicas de certos alimentos, como leite, ovo, trigo, soja, amendoim, peixes e frutos do mar. Essa reação pode se manifestar por sintomas como coceira na pele, inchaço nos lábios, vômitos, dor abdominal e, em casos mais graves, dificuldade para respirar e risco de anafilaxia, que é uma emergência médica.
De acordo com a nutricionista clínica Jessica Kozaka, especialista em fisiologia e bioquímica da nutrição do laboratório IonNutri, muita gente confunde alergia com intolerância alimentar, mas são coisas diferentes. “A alergia é uma resposta do sistema imunológico – geralmente mediada por anticorpos do tipo IgE, mas também pode envolver outras vias imunes – e pode colocar a vida em risco. Já a intolerância alimentar, como a intolerância à lactose, não envolve o sistema imune e costuma provocar sintomas gastrointestinais por deficiência de enzimas. Existe ainda a sensibilidade alimentar, que não é totalmente compreendida e, embora bastante discutida, ainda carece de respaldo científico claro, especialmente no uso de testes de IgG como forma diagnóstica, que não são recomendados pelas principais sociedades médicas”, pondera a especialista.
Segundo Jessica, o diagnóstico da alergia alimentar deve ser feito por médico especialista, com base em histórico clínico detalhado, testes cutâneos, dosagem de anticorpos IgE específicos ou, em alguns casos, por meio do chamado teste de provocação oral, feito em ambiente hospitalar, com segurança e acompanhamento.
Como manter a nutrição do corpo?
Do ponto de vista nutricional, o acompanhamento com nutricionista é essencial para garantir que, ao retirar um alimento da dieta, o paciente continue recebendo todos os nutrientes necessários para sua saúde. Um bom exemplo é o caso da alergia à proteína do leite de vaca. “Ao excluir esse alimento da rotina, o risco de deficiência de cálcio e vitamina D aumenta, especialmente em crianças, mas também em adultos e idosos. Por isso, é necessário fazer ajustes cuidadosos na alimentação.”
Nesse caso, a nutricionista explica que é possível, por exemplo, incluir bebidas vegetais enriquecidas (como leite de amêndoas, aveia ou soja com adição de cálcio), vegetais verde-escuros como brócolis e couve, sementes como chia e gergelim, e oleaginosas como amêndoas. “Em relação à vitamina D, a exposição solar segura é importante, mas alimentos como peixes gordurosos (sardinha, salmão, atum) também são fontes naturais. Para quem segue uma alimentação vegetariana ou vegetariana estrita (vegana), a suplementação pode ser indicada, sempre com orientação profissional”, complementa.
Além disso, estudos mostram que uma alimentação variada, rica em fibras, antioxidantes e gorduras boas (como as encontradas no azeite de oliva e nas oleaginosas) pode ter um papel modulador sobre o sistema imunológico e auxiliar na prevenção de reações exacerbadas. Essa abordagem nutricional é conhecida como imunonutrição e tem ganhado relevância científica nos últimos anos, inclusive no manejo de doenças alérgicas.
Jessica apregoa que, mais do que excluir alimentos, o papel da Nutrição nesse contexto é incluir alternativas seguras, nutritivas e culturalmente adequadas, garantindo não só o equilíbrio nutricional, mas também o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa com alergia alimentar. Além disso, é fundamental educar a população sobre leitura de rótulos, prevenção de contaminação cruzada e acolhimento social, especialmente em ambientes como escolas, festas e restaurantes.
“A alergia alimentar é real, afeta crianças, adultos e também idosos, e pode mudar a vida de uma família inteira. Por isso, falar sobre esse tema é um ato de responsabilidade social. A informação, quando bem orientada, salva vidas”, alerta.