O agronegócio brasileiro terá à frente um cenário desafiador em 2026, principalmente no âmbito macroeconômico, segundo Cesar Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA. “Os juros altos são um grande complicador para o agronegócio. A gente enxerga um cenário bem desafiador, em que a gestão de risco vai ser muito importante”, afirmou o analista nesta quinta-feira (27/11).
Alves observou que há uma tendência de queda na taxa básica de juros (Selic) de 15% para 12,75% no ano que vem, mas o custo financeiro ainda continuará elevado. “Quem tem área arrendada vai ter um ano difícil. Dependendo do rendimento da safra pode ter prejuízo”, destacou.
O analista ponderou que a perspectiva é de uma relação confortável de oferta e demanda global de grãos, o que ajuda a manter os preços das commodities pressionadas, enquanto os custos de produção subiram, principalmente de fertilizantes.
Alves acrescentou que há uma tendência de fortalecimento do dólar em relação a outras moedas, com o ambiente internacional mais benigno depois que os Estados Unidos fecharam acordo com a China e avançou nas negociações com o Brasil. O Itaú BBA estima que o dólar chegará a R$ 5,50 no fim de 2026, ante R$ 5,35 neste ano. “Em tese, haverá uma desvalorização do real, o que é bom para commodities, mas vai ser um ano eleitoral, o que traz mais incertezas”, disse o analista.
O analista citou ainda como fator de atenção o clima. “O cenário para o milho safrinha está bastante indefinido. As chuvas ficaram aquém do esperado no começo da safra de verão, o que afetou as culturas permanentes, como café, laranja e cana-de-açúcar, e também trouxe um cenário mais difícil para o milho safrinha”, afirmou Alves.
Apesar do risco climático, o Itaú BBA espera, no geral, uma boa safra de grãos, mas com pouco espaço para elevação nos preços. “O produtor vai precisar aproveitar momentos de alta nas bolsas para travar preços”, disse Alves.
Fertilizantes
O atraso na comercialização de fertilizantes para a próxima safra merece atenção. Segundo Lucas Brunetti, analista da Consultoria Agro dio Itaú BBA, a necessidade de compra em períodos curtos e as margens pressionadas podem afetar negativamente os produtores, aumentando o risco logístico e dificultando a chegada dos insumos no momento ideal.
O setor também segue sensível a riscos geopolíticos, que podem novamente desestabilizar os fundamentos do mercado. Em 2025, observou o analista, o mercado global de fertilizantes começou o ano com alta de preços, impulsionada pela demanda aquecida e por restrições na oferta global.
Os fosfatados lideraram as altas com a ausência da China no mercado exportador por meses. A crescente demanda da indústria de baterias e do aumento do preço do enxofre, matéria-prima desses fertilizantes, também influenciou nos preços.
Os preços dos nitrogenados tiveram mais volatilidade por conta do agravamento das tensões entre Israel e Irã, que respondem por cerca de 40% das exportações globais.
Os potássicos tiveram alta sustentados pela demanda firme e pela queda das exportações da Rússia e Belarus, devido a manutenções em minas.
Brunetti ponderou que a retomada das exportações chinesas no meio do ano trouxe alívio para os preços dos fosfatados. Já os nitrogenados seguem valorizados, devido aos riscos geopolíticos. No caso dos potássicos, houve recuo nos preços com o alívio nos riscos geopolíticos. Para os próximos meses, a expectativa é de continuidade na correção dos preços, que devem se acomodar em níveis elevados.
No Brasil, observou o analista, nem os preços elevados, nem a piora nas relações de troca, reduziram significativamente os volumes comercializados, mas houve impacto na qualidade dos insumos adquiridos, com maior uso de produtos de menor concentração de macronutrientes.







