Desde a fazenda até os produtos finais, o agronegócio tem empregado cada vez mais soluções tecnológicas relacionadas a Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), porém, o setor ainda enfrenta barreiras para acompanhar o ritmo de transformação digital de outros setores. É o que revela o Índice de Transformação Digital Brasil (ITDBr), conduzido pela PwC e Fundação Dom Cabral.
O estudo avaliou o nível de maturidade digital das organizações brasileiras com base em uma metodologia própria, desenvolvida para sistematizar a avaliação do progresso da transformação digital em um índice mensurável. O sistema monitora o processo e oferece diretrizes para a adaptação de empresas, governos e da sociedade em geral ao avanço tecnológico. Em 2024, pela primeira vez foi organizado um recorte setorial de agronegócio.
O levantamento mostrou que o índice de maturidade digital do agronegócio é de 3,1 em uma escala de 6, abaixo da média geral de 3,7 pontos. O resultado evidencia um contraponto em relação à adoção de tecnologias emergentes no setor. Segundo o estudo, a ausência de governança e de estratégia são as principais barreiras.
A menor pontuação foi registrada na dimensão pessoas e cultura, com 2,7 pontos, contra a média geral de 3,8, o que, segundo a pesquisa, aponta uma carência de treinamento e desenvolvimento cultural. Outras áreas críticas incluem processos digitais (2,9 versus 3,8) e decisões orientadas por dados (2,8 contra 3,5). A única dimensão próxima à média geral foi “clientes digitais”, com 3,4 pontos em comparação aos 3,8 da média.
Por outro lado, o agronegócio se destaca na adoção de IoT, com 45% das empresas que utilizam essa tecnologia, enquanto a média geral é de 9%. A Inteligência Artificial também apresenta índices relevantes, sendo aplicada por 36% das empresas, acima da média geral de 20%.
Ainda assim, a transformação digital no agronegócio ainda segue tímida. Aproximadamente, 75,8% das empresas do setor adotam uma postura seletiva em seus investimentos tecnológicos, acima dos 46,3% coletados na mídia geral.
Apenas 21,2% das empresas agrícolas são consideradas “otimizadoras” – aquelas que enxergam a transformação digital como essencial para seus investimentos –, percentual inferior aos 40,3% registrados em outros setores. Já as chamadas empresas “visionárias”, que priorizam estrategicamente a transformação digital, representam 3% no agronegócio, contra 13,4% na média geral.
Segundo o estudo, os principais desafios para o avanço da transformação digital no agronegócio incluem a necessidade de melhorar a estruturação dos processos de digitalização, apontada por 67% das empresas. Além disso, 42% mencionam a dificuldade em acompanhar as tendências tecnológicas, um percentual maior do que a média geral, que é de 31%.
Para o sócio e líder de agronegócio da PwC Brasil, Maurício Moraes, os indicativos servem como combustível para o setor se desenvolver mais tecnologicamente. “O desafio não está apenas na implementação dessas soluções, mas também em mudar a cultura organizacional e desenvolver uma visão de longo prazo que integre a jornada da transformação digital e as novas tecnologias de forma estratégica”, analisa Moraes.
Ainda de acordo com a pesquisa, pouco mais da metade das empresas do agronegócio consideram os impactos da transformação digital em sua estratégia ESG. Atualmente, 43% das empresas do setor utilizam tecnologias digitais para práticas ESG, abaixo da média geral de 52%. Porém, o setor apresenta um maior percentual de iniciativas em desenvolvimento (13% contra 7% em outros setores).