“Oh, my God”. Nos bastidores da Conferência do Clima (COP30), a expressão de surpresa em inglês para “Oh, meu Deus” era a mais ouvida quando os estrangeiros visitavam a área de demonstrações da produção agrícola sustentável do Brasil na Agrizone, espaço dedicado ao setor no evento.
Negociadores chave para as discussões realizadas em Belém (PA) puderam ver, no campo, práticas que contribuem no combate às mudanças climáticas e, com isso, o agronegócio acredita que cumpriu seu papel de ampliar a participação do setor nos debates globais.
“Cria-se uma nova camada na COP que não existia. Levamos de 20 mil a 25 mil pessoas à Agrizone, mais de 30 negociadores de agricultura passaram por lá de toda parte do mundo”, afirmou Marcelo Morandi, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa, durante evento sobre o legado do agro na conferência climática.
Morandi, que também é membro da delegação de negociadores do Brasil para agricultura na COP30, acredita que o país conseguiu mostrar como os processos funcionam no campo e o efeito causado nos visitantes surpreendeu positivamente.
“Acho difícil ter uma Agrizone em todas as COPs, mas na memória dos negociadores eles vão levar essa imagem, desse legado. Cabe a nós mostrar que a agricultura é parte do problema, mas pode ser parte da solução (para a crise climática)”, ressaltou.
Em contrapartida, ele observa que, agora, o setor também terá de saber como utilizar da melhor forma a imagem que deixou. “A gente precisa saber usar, isso pode virar outra coisa se não usar corretamente”, alertou.
Semente foi plantada
O diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e presidente do Instituto Equilíbrio, Eduardo Bastos, disse que o setor já pretende elaborar uma agenda estruturada sobre como irá atuar no ano que vem.
“A gente plantou uma ótima semente para a COP do ano seguinte”, comentou Bastos. A próxima conferência do clima terá como tema central os sistemas alimentares.
O executivo destacou que o setor só não estava mais presente neste ano nas discussões da Blue Zone, que concentra as autoridades das COPs, porque o Ministério da Agricultura conseguiu somente 16 credenciais, enquanto outras pastas tiveram mais de 300.
Na visão de Bastos, o número reduzido de credenciamentos da pasta agropecuária era um sinal de que o setor não era benquisto por lá, então a Agrizone foi uma forma de contornar o cenário, e isso nunca poderia ter acontecido se a COP30 não fosse no Brasil.
“A gente ocupou esse espaço e o desafio é: o que vamos fazer com o espaço que a gente conquistou?”, questionou.
Rodrigo Lima, sócio da Agroicone, que também teve participação ativa em debates e iniciativas globais na COP, concorda que um espaço do agronegócio foi conquistado com a apresentação de que existem diversos modelos de agriculturas sustentáveis no Brasil, mas agora será preciso correr atrás de projetos que financiem esse potencial. “O dinheiro, a gente vai ter que ir atrás”, disse.
A Agrizone foi criada em um espaço da Embrapa Amazônia Oriental. A vitrine de demonstração de campo contou com mais de 40 sistemas de produção e mais de 50 cultivares da Embrapa, que receberam, em média, 2 mil pessoas por dia durante a COP.





