O estudante Gustavo Aguiar da Silva, de 15 anos, está encantado com as descobertas que tem feito sobre as abelhas. “É muito legal aprender mais sobre elas. Eu não sabia, por exemplo, que as abelhas brasileiras não têm ferrão, diferente das africanas. É interessante pensar que nós temos nossas espécies de abelhas, que são dóceis e que produzem o melhor mel”, ressalta.
Gustavo é aluno do 1º ano do Colégio Leôncio Correia, em Curitiba, capital paranaense. O colégio é uma das escolas estaduais do Paraná em que as abelhas sem ferrão deixaram de ser apenas tema de aula para se tornarem protagonistas da aprendizagem.
As colmeias instaladas nos pátios, nas árvores e até nas paredes viraram parte da rotina dos alunos. Entre as atividades que integram as ações nas escolas está a alimentação das colmeias, o estudo do comportamento das espécies e o equilíbrio da natureza.
A iniciativa surgiu da proposta de Educação Socioambiental Interdisciplinar, que usa a criação de abelhas nativas como porta de entrada para o ensino sobre biodiversidade, sustentabilidade e ciência. Segundo o professor Gabriel Portugal, do Colégio Estadual Leôncio Correia, o projeto tem mobilizado meninos e meninas em prol da preservação ambiental e do conhecimento da natureza.
“Nós temos 12 caixas de abelhas na escola e já mapeamos seis colmeias ocorrendo naturalmente no terreno do colégio. São cerca de quatro espécies diferentes”, explica. Ele conta que a criação das abelhas teve início há cinco anos e visa o ensinamento, de maneira didática e pedagógica, dos benefícios e importância ecológica do inseto para o planeta.
Segundo Gabriel, os estudantes aprendem na prática a importância da preservação da espécie e, além disso, provam o mel produzido dentro da instituição. “Eles aprendem a cuidar delas, manejar, alimentar no inverno, reconhecer as espécies e perdem o medo dos insetos e abelhas”, relata.
“No ano passado, conseguimos fazer algumas divisões de enxames, para gerar novas colmeias a partir de uma matriz e neste mês de outubro estamos começando estudos mais aprofundados sobre elas”, acrescenta o estudante.
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Abelhas nativas
As abelhas, todas nativas e sem ferrão, como jataí, mandaçaia e mirim, convivem com os alunos em colmeias feitas de madeira e material reciclável. A cada semana, grupos de estudantes alimentam os enxames com xarope e proteína natural e observam a atividade das operárias. Os espaços também viraram abrigo de pesquisas, desenhos e redações sobre ecologia.
No Colégio Júlia Wanderley, onde a proposta também é desenvolvida, a professora Rafaela Caroline Bartolamei, que coordena os projetos de sustentabilidade, detalha que as espécies de abelhas estão espalhadas pela instituição, com colmeias em árvores, nas paredes e até no cimento. “A gente tem uma sala verde e estamos começando a implantar o nosso Jardim de Mel”, observa.
Educação ecológica
Os colégios Júlia Wanderley e Leôncio Correia fazem parte de uma rede de escolas estaduais do Paraná que desenvolvem projetos próprios de meliponicultura educativa, inspirados em ações como o Poliniza Paraná e os Jardins de Mel de Curitiba, mas com foco direto no ambiente escolar e no protagonismo dos alunos. A meliponicultura é o nome dado à criação de abelhas nativas sem ferrão, prática tradicional sustentável que visa conservar espécies vegetais e o equilíbrio biológico.
As iniciativas incluem desde a instalação de jardins com plantas nativas a oficinas sobre polinização, alimentação saudável e reciclagem. As atividades envolvem professores de biologia, geografia, artes e até matemática, num trabalho interdisciplinar. O resultado é visível: as escolas relatam maior engajamento estudantil, melhora no clima escolar e fortalecimento da educação ambiental como prática permanente.
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Sustentabilidade
O Paraná tem hoje mais de 30 espécies de abelhas nativas sem ferrão catalogadas, fundamentais para a polinização da Mata Atlântica e para a produção de alimentos. Ao levar essas espécies para dentro das escolas, os coordenadores acreditam que os projetos transformam e melhoram a relação dos estudantes com o território onde vivem.
“A experiência na prática ajuda muito no nosso aprendizado sobre questões ligadas à sustentabilidade socioambiental. Não são só lições, são sentimentos e memórias”, salienta Gustavo.







