O governo federal publicou, nesta quarta-feira (29/10), um vídeo nas redes sociais em que critica a megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, que deixou 119 mortos. A ação, voltada contra o Comando Vermelho (CV), é considerada a mais letal da história do estado e também do século 21 no Brasil, superando até o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, que deixou 111 mortos.
No vídeo, intitulado “Explicando a operação policial no Rio de Janeiro com inteligência”, o governo reconhece a gravidade do problema do crime organizado, mas critica o uso de operações de confronto como principal resposta.
A peça, publicada nos perfis oficiais do Planalto, afirma que o enfrentamento ao crime precisa “mirar na cabeça, mas não de pessoas”, em referência à necessidade de atingir as estruturas de comando e financiamento das facções.
“O crime organizado é um dos maiores problemas do Brasil. Ele destrói famílias, oprime moradores e espalha drogas e violência pelas cidades. (…) Só que operações como essa também colocam policiais, crianças e famílias inocentes em risco. E matar 120 pessoas não adianta nada no combate ao crime”, diz o vídeo.
A mensagem afirma que “mesmo se forem todos bandidos, amanhã tem outros 120 fazendo o mesmo trabalho”, argumentando que o combate efetivo exige inteligência e integração das forças de segurança. “Tem que atacar o cérebro e o coração dos grupos criminosos”, continua o texto narrado na publicação.
O governo cita, ainda, a operação realizada em agosto na Faria Lima, em São Paulo, conduzida pela Polícia Federal, que desarticulou um esquema de lavagem de dinheiro, adulteração de combustíveis e tráfico de drogas com ramificações no sistema financeiro nacional, envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo o Planalto, essa seria a forma de “atacar o crime onde ele realmente se fortalece”.
PEC da Segurança Pública
O vídeo também reforça a defesa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, enviada ao Congresso Nacional em abril pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
A proposta amplia o papel da União na formulação de políticas de segurança e cria mecanismos de controle, como corregedorias e ouvidorias autônomas, para supervisionar as forças policiais. O texto prevê, ainda, a integração das corporações por meio de um sistema nacional que inclui as guardas municipais, além de expandir as atribuições da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que passaria a patrulhar também ferrovias e hidrovias.
Na ocasião do envio da proposta, Lewandowski comparou o modelo ao funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), chamando-o de “SUS da Segurança Pública”. O objetivo seria garantir atuação coordenada em todo o território nacional.
A PEC, porém, está parada há seis meses na Câmara dos Deputados e enfrenta resistência de governadores, inclusive o do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que defendem maior autonomia dos estados na condução das políticas de segurança.
Lula fala sobre megaoperação
Nesta quarta-feira (29/10), Lula se manifestou pela primeira vez sobre a megaoperação. Em publicação no X (antigo Twitter), o presidente afirmou que o país precisa de “um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”.
Ele destacou que o crime organizado “continua destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades”, mas reforçou que o enfrentamento não pode colocar a população em risco. Lula também citou a operação de agosto, classificada como “a maior da história do país” contra o crime organizado, que mirou no “coração financeiro de uma grande quadrilha”.
O presidente mencionou ainda a reunião de emergência convocada por ele na manhã desta quarta-feira, no Palácio da Alvorada, para discutir a situação no Rio. Durante o encontro, determinou que o ministro Lewandowski e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, viajassem à capital fluminense para se reunir com o governador Cláudio Castro.
A reunião entre as autoridades federais e o governo estadual resultou na criação de um escritório emergencial de combate ao crime organizado, que funcionará no Rio de Janeiro. Segundo Lewandowski, o espaço servirá como um “fórum de decisões rápidas” e de diálogo permanente entre os órgãos envolvidos.
“Estamos iniciando um novo modelo de enfrentamento, que une forças federais e estaduais em tempo real para agir com mais precisão e menos letalidade”, disse o ministro após o encontro.







