Por estarem em fase de crescimento e transformação, crianças e adolescentes demandam cuidados de saúde constantes e integrados. Os hábitos, experiências e vínculos construídos nesse período têm impacto direto sobre o desenvolvimento físico e emocional na vida adulta, tornando essencial a atenção contínua e o acompanhamento multiprofissional.
A saúde infantojuvenil abrange ações de proteção, prevenção e recuperação que visam ao pleno desenvolvimento físico, mental e social até os 19 anos de idade. Além dos cuidados médicos, envolve também fatores culturais, familiares e sociais — todos determinantes para reduzir a mortalidade e garantir direitos básicos, como acesso à saúde e educação de qualidade.
De acordo com a Psicóloga e Coordenadora do curso de Psicologia da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas, Dra. Viviane Lessa, o cuidado deve ser pensado de forma ampla e articulada.
“Quando diferentes profissionais olham para o mesmo paciente, o cuidado se torna mais completo. O clínico geral observa o corpo, a rotina, o sono e a alimentação; o psicólogo entende os aspectos emocionais e comportamentais; e, juntos, conseguem identificar precocemente situações de risco”, explica.
Escuta, vínculo e prevenção: o tripé do cuidado
É comum acreditar que crianças e adolescentes têm “saúde de ferro”, mas a especialista alerta que eles também adoecem com frequência — e reconhecer sinais precoces faz toda a diferença.
“Muitas vezes sintomas físicos, como dores de cabeça, fadiga ou alterações de peso, estão ligados a questões emocionais. Ao unir psicologia e medicina, conseguimos promover não só o tratamento, mas a prevenção, fortalecendo hábitos saudáveis e ensinando o jovem a reconhecer e cuidar das próprias emoções”, complementa Viviane.
A integração entre profissionais e familiares é considerada um dos pilares da atenção integral. Segundo a médica, o diálogo e a escuta ativa dos pais ajudam a detectar mudanças sutis de comportamento, que podem indicar sofrimento físico ou psicológico.
Desafios da era digital e saúde emocional
Viviane também chama atenção para os impactos do uso excessivo das redes sociais e das pressões contemporâneas sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.
“Vivemos um período de muitas exigências emocionais. A constante pressão por boas notas, aparência ou aceitação social aumenta os riscos de ansiedade e depressão, que têm se tornado cada vez mais comuns nessa faixa etária”, explica.
A especialista destaca que o ambiente virtual pode intensificar sentimentos de comparação e inadequação.
“Essa pressão, somada ao uso intenso das redes sociais, cria um estado de cobrança quase permanente. A falta de interações presenciais e de espaços seguros para expressar sentimentos agrava o quadro, tornando urgente o fortalecimento de redes de apoio e acolhimento”, alerta.
Sinais de alerta e papel da família
A atenção dos pais é fundamental para identificar sinais de que algo não vai bem. Segundo a Dra. Viviane Lessa, mudanças comportamentais persistentes merecem cuidado e acolhimento.
“Os pais podem ficar atentos a alterações no sono e no apetite, irritabilidade frequente, isolamento, queda no rendimento escolar e perda de interesse por atividades antes prazerosas. Esses comportamentos, quando persistentes, merecem escuta, não julgamento. Procurar ajuda profissional logo no início faz toda a diferença”, orienta.
A especialista reforça que acolher e ouvir é o primeiro passo para garantir que crianças e adolescentes cresçam com saúde integral — física, emocional e social.
“Mais do que tratar doenças, precisamos formar gerações que saibam reconhecer seus sentimentos e buscar ajuda quando necessário. Esse é o verdadeiro sentido do cuidado em saúde”, conclui.