O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completa, neste sábado (4/10), dois meses de prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão ocorreu após ele aparecer, por meio de uma chamada de vídeo com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), de um ato político, descumprindo uma das medidas cautelares estipuladas em 18 de julho. Ele está preso no âmbito do inquérito que investiga suposta coação e que também inclui o seu filho Eduardo, deputado autoexilado nos Estados Unidos.
Há dois meses Bolsonaro está em silêncio para o grande público, pois também não pode usar redes sociais e nem concedeu entrevistas, mas segue articulando politicamente por meio de conversas com aliados que o visitam quase diariamente.
Essa articulação gira em torno do debate pela anistia para o próprio Bolsonaro e para os envolvidos nos atos de 8 de Janeiro e do planejamento para a eleição de 2026. Nesta semana, o ex-presidente recebeu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e cotado para ser o substituto de Bolsonaro nas urnas na disputa pelo Planalto.
O ex-presidente cumpre a prisão domiciliar em uma casa no Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, em Brasília (DF). A área externa da casa é monitorada 24h pela Polícia Penal do Distrito Federal e todos os veículos que deixam a residência passam por vistorias, incluindo nos porta-malas.
Ainda durante o primeiro mês de domiciliar, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela Primeira Turma do STF sob a acusação de liderar uma trama golpista para tentar manter-se no poder após a derrota eleitoral de 2022. Ele ainda pode recorrer ao próprio STF com embargos e sua defesa planeja pedir para que a pena dessa condenação seja cumprida também em casa, devido aos problemas de saúde do ex-presidente.
Saúde de Bolsonaro
Ao longo desse período de prisão domiciliar, Bolsonaro tem enfrentado uma série de problemas de saúde que exigiram idas ao hospital e atendimento médico particular em casa.
Em 16 de agosto, Moraes autorizou a primeira saída do ex-presidente para exames no Hospital DF Star, em Brasília. A equipe médica investigava refluxo e crises de soluço persistentes.
No dia 14 de setembro, após novo pedido da defesa, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia para retirada de lesões na pele. Os exames identificaram anemia por deficiência de ferro.
Poucos dias depois, em 16 de setembro, o ex-presidente voltou a ser internado às pressas após sofrer fortes soluços, vômitos e queda de pressão. O senador Flávio Bolsonaro relatou que o pai chegou a ficar sem ar por quase 10 segundos. O laudo médico confirmou carcinoma, um tipo comum de câncer de pele.
A piora no quadro, segundo o filho mais velho de Bolsonaro, teria ligação direta com o desgaste emocional causado pela vigilância constante de policiais penais em sua casa. Já no fim de setembro, o médico Cláudio Birolini voltou a ser acionado de forma emergencial, após Bolsonaro apresentar novos episódios de vômito e crises intensas de soluço.
Vigília em prol do ex-presidente
Durante três semanas, apoiadores de Bolsonaro organizaram vigílias diárias na entrada do condomínio Solar de Brasília. O movimento reunia deputados, senadores e militantes vestidos de verde e amarelo, que entoavam hinos, cânticos cristãos e exibiam bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e de Israel.
O grupo também levava faixas, bíblias e até um carro alegórico para reforçar a mobilização. As manifestações ocorriam sempre entre 20h e 21h, como forma simbólica de apoio ao ex-presidente durante o julgamento que resultou em sua condenação a mais de 27 anos de prisão.
Nas últimas semanas, porém, o movimento de apoiadores praticamente cessou.
Visitas
Durante o segundo mês de prisão domiciliar, vários aliados políticos foram autorizados pelo STF a visitar o ex-presidente.
Confusões e presença intensa da PMDF
Durante o 1º dia de julgamento do ex-presidente no STF, intengrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), realizaram um ato em frente à casa de Jair. Os manifestantes inflaram um boneco de Bolsonaro usando tornozeleira eletrônica e vestido com a roupa de presidiário e identificação de “171”, em referência ao crime de estelionato.
Apoiadores e críticos de Bolsonaro discutiram em frente ao condomínio, e a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) já estava no local e conteve o desentendimento. Além disso, a presença da corporação foi intensa durante esses dois meses.
Anistia x Dosimetria
No Congresso, a discussão sobre como lidar com a condenação de Bolsonaro divide parlamentares. Enquanto parte da oposição pressiona por uma anistia ampla, que inclua o ex-presidente e seus aliados, o relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), defende o PL da Dosimetria, uma proposta mais restrita que prevê apenas a redução de penas.
Em 30 de setembro, Paulinho se reuniu com lideranças do PL, incluindo o presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, e o líder na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ). Eles reforçaram que não abrirão mão de tentar aprovar uma anistia.
O relator, no entanto, sustenta que não há clima político para um perdão total e afirma que apresentará um texto que reflita a média de opiniões da Câmara.
A expectativa é que o projeto seja levado ao plenário até 7 de outubro.