O ceratocone é uma doença ocular que afeta a córnea, parte transparente do olho que funciona como “um vidro de relógio”, recobrindo a área colorida do olho, a íris. No ceratocone a córnea fica “irregular”, causando um abaulamento e adquirindo o formato de um cone, o que dá o nome à doença, que está entre as principais causas de transplante de córnea no Brasil.
A pessoa que desenvolve o ceratocone passa a ver as imagens de forma embaçada e distorcida, como se os objetos estivessem deformados. Outros sintomas são sensibilidade excessiva à luz, perceber círculos brilhantes ou reflexos ao redor de fontes luminosas e dificuldade para enxergar, mesmo com óculos, principalmente à noite.
O Ministério da Saúde estima que 150 mil brasileiros desenvolvem ceratocone a cada ano. De acordo com a oftalmologista do Instituto de Olhos de Belo Horizonte (IOBH), Alice Purri, “a maioria dos casos surge em crianças, adolescentes e adultos jovens e, embora a doença ocular tenha componente genético, o principal fator de risco é o hábito de coçar os olhos com frequência, já que isso fragiliza e a ajuda a deformar as fibras da córnea, agravando o quadro”.
A médica alerta para quatro importantes fatores de risco para o ceratocone:
– história familiar da doença
– atrito ocular ao coçar ou esfregar os olhos
– alergias, como conjuntivite alérgica, rinite, asma e dermatite
– Síndrome de Down e doenças do colágeno (Síndrome de Marfan, por exemplo)
A doença ocular pode afetar os dois olhos em graus diferentes e o diagnóstico precoce é fundamental para evitar seu rápido avanço e a piora na deformidade da córnea, que muitas vezes é irreversível e pode levar a uma importante baixa de visão. O ceratocone tende a se tornar mais estável após os 35 anos de idade e, para que o paciente enxergue melhor, podem ser indicados óculos, lentes de contato ou cirurgias.
A oftalmologista esclarece que o objetivo principal é impedir a progressão da doença. Em caso de evolução do ceratocone, para prevenir um quadro mais grave é indicado o crosslinking corneano, um procedimento minimamente invasivo que combina riboflavina (vitamina B2) e aplicação de luz ultravioleta na córnea, a fim de fortalecer e estabilizar as fibras de colágeno do olho. Depois, o paciente fica por cerca de uma semana com uma lente terapêutica, que age como uma espécie de curativo sobre a córnea.
“Hoje temos muitas opções para reabilitação visual do paciente com ceratocone. Desde lentes de contato com tecnologia avançada até procedimentos como o implante de anel intraestromal, também chamado de anel intracorneano, um dispositivo rígido que é posicionado dentro da córnea para regularizar a superfície irregular, e o implante de lente fácica, que consiste no implante de uma lente intraocular e que pode ajudar nos casos de pacientes com ceratocone e alta miopia”, afirma Alice.
O transplante de córnea é indicado para os pacientes com ceratocone em fases graves, principalmente aqueles que desenvolveram cicatrizes na córnea. Além das técnicas tradicionais, há abordagens mais modernas que possibilitam substituir camadas específicas da córnea e preservar ao máximo a estrutura original do olho, além de reduzir o tempo de recuperação.
“Uma técnica é o transplante lamelar anterior profundo, em que as partes externas da córnea são substituídas por tecido doador, enquanto a camada mais interna é preservada, o que mantém a funcionalidade da estrutura e reduz o risco de rejeição. Outro tipo de transplante é o penetrante, em que toda a córnea é substituída pela de um doador”, esclarece a especialista.
Descobrir a doença precocemente é fundamental para evitar seu avanço e agravamento. O ceratocone é diagnosticado em uma consulta de rotina e o oftalmologista poderá solicitar exames complementares, como a topografia ou tomografia de córnea, para um melhor detalhamento da severidade e do estágio da alteração. Esse exame deve ser repetido com frequência, para monitorar sua progressão e orientar a escolha do tratamento.