O depoimento do lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, não rendeu tanto quanto esperavam os integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social, escândalo revelado pelo Metrópoles.
A audiência desta quinta-feira (25/9), considerada a mais importante da CPMI até agora, foi marcada por embates e poucas respostas de Careca aos questionamentos dos parlamentares.
Antônio Carlos Camilo Antunes
- O lobista é apontado como um dos principais operadores do esquema que desviou milhões de aposentados e pensionistas.
- Antunes está preso desde o último dia 12 de setembro na superintendência da Polícia Federal.
- Além de representar entidades, é dono de call centers que prestavam serviços na captação de associados das entidades da farra dos descontos indevidos sobre aposentados
- Segundo investigação, por força de contrato, ganhava 27,5% sobre descontos de novos filiados.
- Ganhou o apelido de “Careca do INSS” porque as pessoas consideravam que era tão próximo de dirigentes do órgão que poderia ser até servidor ou gestor dele.
O lobista depôs ao colegiado protegido por habeas corpus, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que o desobrigou de responder às perguntas dos parlamentares. Durante o depoimento, no entanto, “Careca” afirmou que somente deixaria de responder aos questionamentos do relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL).
Antunes negou ter ligação com o governo ou participação em fraudes contra aposentados e pensionistas. Questionado sobre ganhos, bens de luxo de mais de 20 empresas em seu nome, tentou justificar dizendo ser “um empresário próspero”.Play Video
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23/4 e que culminou nas demissões do presidente do INSS e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Embates
A audiência durou cerca de 10 horas e, ainda pela manhã, precisou ser suspensa após uma discussão entre o advogado de Antunes, Cleber Lopes, e parlamentares do colegiado.
Depois de “Careca” afirmar que não responderia às perguntas do relator, a fala foi recebida com protestos dos congressistas, e o advogado demonstrou aparente irritação.
O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) se levantou e caminhou em direção ao defensor, gritando: “Cala a boca, você não tem direito de falar”.
A confusão gerou reação da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), que informou que acionará a Comissão de Ética e a Justiça contra os parlamentares envolvidos.
Mesmo assim, à noite, antes do encerramento da CPMI, o deputado Delegado Caveira (PL-PA) mandou o advogado “calar a boca”.
Em seguida, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), pediu desculpas ao advogado.
“Quero pedir ao advogado desculpas, se em algum momento houve aqui algum tipo de… O senhor, por favor, não leve em consideração, porque há aqui um respeito muito grande pelo trabalho dos senhores”, disse o parlamentar.
Cleber Lopes de Oliveira respondeu que não guarda mágoas.
“Estou acostumado com embate. Isso aqui, com todo respeito, ‘passa na urina’. Não tenho nenhuma mágoa de ninguém”, declarou o advogado.