A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as fraudes no INSS ouve, nesta quinta-feira (18/9), o advogado Nelson Wilians. Logo no início da sessão, ele se negou a assinar o termo de compromisso de falar a verdade na CPMI e foi confrontado pelo senador relator Alfredo Gaspar (União-AL).
“Qual é a dificuldade de assinar um termo de falar a verdade?”, questionou Gaspar.
De acordo com Wilians, a escolha de não assinar o termo se deu pelo fato da possibilidade de cometer equívocos. Além disso, Wilians está desobrigado a falar a verdade por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
“É muito simples: eu assino o termo e de repente você me pergunta algo que me dá um equívoco, que eu me engane. […] Você faça uma pergunta que eu não me lembre, ou pior, que eu me arrisque um palpite e dê uma resposta e essa resposta não é a verdade, o que acontece comigo relator?”, argumentou o advogado.
Wilians ressaltou que, se tivesse representando um cliente, daria a mesma recomendação, ou seja, para que não fosse assinado o termo.
Em resposta, o relator afirmou que, até o momento, nenhum depoente da CPMI do INSS, até o momento, foram penalizados por conta de equívocos. “Aqui nós temos a sensibilidade de entender o momento e compreender quando há má fé ou quando há um equívoco com ausência de intenção.”
O advogado, que aparece em transações financeiras que estão nos relatórios da Polícia Federal movimentando R$ 4,3 bilhões em “operações suspeitas”, resistiu a responder as demais perguntas feitas pelo relator.
Wilians é o primeiro a participar hoje do colegiado criado no Senado para investigar as fraudes bilionárias que prejudicaram aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A fraude foi relevada pelo Metrópoles.
Mais depoimentos
A CPMI também ouvirá os empresários Rubens Oliveira e Milton Salvador de Almeida Jr., sócios de Carlos Camilo Antunes, mais conhecido como Careca do INSS, além do advogado Nelson Wilians. Além de Tânia Carvalho dos Santos, esposa do Careca do INSS.
A CPMI do INSS também aprovou a convocação de Romeu Carvalho Antunes, filho de Tânia e o Careca do INSS.
Os parlamentares ainda convocaram Cecília Montalvão Simões, esposa do empresário Maurício Camisotti, que alegou não ter dinheiro para comparecer ao colegiado — Camisotti foi preso em São Paulo pela Polícia Federal, suspeito de integrar o esquema de descontos indevidos.
A CPMI rebateu, dizendo que o custeio dos deslocamentos estava previsto nos requerimentos de convocação, mas aceitou marcar nova data para o depoimento dos três, anteriormente previsto para esta quinta (18/9).
Nessa quarta-feira (17/9), o ministro André Mendonça, do STF, negou o pedido de Romeu Carvalho, Cecília Montalvão e do advogado Nelson Wilians para não comparecerem à CPMI. Dessa forma, eles terão de ir ao colegiado, mas, como foram convocados na condição de testemunhas, não serão obrigados a falar.
Entenda a participação dos convocados
- Nelson Wilians
O advogado Nelson Wilians aparece em transações financeiras que estão nos relatórios da PF. Em relatório da Coaf, anexado às investigações que basearam a operação Sem Desconto, Wilians movimentou R$ 4,3 bilhões em “operações suspeitas”. Wilians pagou R$ 15 milhões a Maurício Camisotti. Ele também fez uma doação para a campanha do senador Rogério Marinho (PL-RN), integrante da CPMI.
- Romeu Carvalho Antunes
Filho de Antonio Antunes, Romeu Carvalho Antunes atuou de forma intensa no esquema. Segundo registros do governo federal, Romeu é sócio direto de ao menos quatro empresas do Careca do INSS e ainda tem participação indireta em outros três negócios do pai, por meio de outros CNPJs dos quais Romeu consta como um dos sócios.
“Todas as empresas supracitadas cuja sociedade Romeu Carvalho integra foram utilizadas para envio de valores a pessoas físicas e jurídicas relacionadas a servidores do INSS”, diz a PF no relatório da Operação Sem Desconto.
Romeu foi alvo de busca e apreensão. Sob posse do filho do Careca do INSS, foi encontrada uma frota milionária de seis carros e uma motocicleta, entre eles um Porsche e dois veículos da marca BMW.
A PF afirma que Romeu ficaria como sócio de um call center de Antonio Antunes caso o lobista conseguisse consumar um plano de fuga para os Estados Unidos. O Careca do INSS mantinha duas centrais de atendimento, chamadas “Truetrust” e “Callvox”, que tinham como clientes entidades associativas de aposentados, e montou uma terceira, chamada Amigo Center S/A, voltada a créditos consignados.
Ainda de acordo com investigações da Polícia Federal, os rendimentos mensais declarados pelo filho do Careca do INSS saltaram de R$ 1,6 mil para R$ 107,6 mil, entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024 – período em que Romeu começou a integrar a sociedade das empresas do pai.
- Tania Carvalho dos Santos
Esposa de Antonio Antunes, Tania e o Careca do INSS negociaram, em menos de seis meses, o mesmo imóvel sucessivamente, movimentando R$ 353 milhões. A PF suspeita que as transações foram feitas para “ocultar a origem dos recursos”.
Tania também é sócia do Careca do INSS na compra à vista de uma mansão de R$ 3 milhões, em abril de 2024, posteriormente demolida. Como mostrou o colunista Tácio Lorran, no terreno, a família começou a construir uma nova casa, avaliada em R$ 9 milhões, mas a obra ficou embargada após o aprofundamento das investigações da PF.
- Cecília Montalvão Simões
Esposa de Camisotti, Cecília Montalvão Simões é uma das sócias da Benfix, empresa que fez contratos milionários para modernizar a gestão de entidades associativas autorizadas pelo INSS a fazer descontos de mensalidade direto na folha de pagamento dos aposentados.
Sozinha, ou com parentes, ela movimentou R$ 295,2 milhões sob suspeita, segundo o Coaf. Ao todo, o “clã Camisotti” movimentou quase R$ 790 milhões em operações investigadas pela PF.
Ligado a três entidades da farra dos descontos (Ambec, Cebap e Unsbras), Camisotti teria recebido ao menos R$ 43 milhões dessas entidades por meio de suas empresas, segundo a PF.
- Rubens Oliveira Costa
De acordo com dados da PF, Rubens Oliveira Costa é o “carregador de mala” do Careca do INSS. Ele sacou R$ 919,4 mil de empresas de Antonio Antunes, Romeu Antunes e Thaisa Jonasson, companheira do ex-procurador do INSS, Virgilio Oliveira Filho, um dos receptores de propina do esquema.
Rubens também aparece como um dos sócios da empresa “Venus Consultoria & Assessoria Empresarial S/A”, junto com Alexandre Guimarães, ex-diretor do INSS, que participou de uma reunião com o atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), na sede do Ministério, durante a transição dos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O histórico societário de Rubens Costa o torna uma espécie de elo entre o lobista Antonio Antunes e servidores do INSS que receberam propina no esquema. Além da sociedade com Guimarães, ele foi sócio do Careca do INSS na “Brasília Consultoria Empresarial S/A” e de Thaisa Jonasson na “Curitiba Consultoria em Serviços Médicos”.
- Milton Salvador de Almeida Júnior
Segundo a PF, Milton Salvador ingressou em cinco sociedades com movimentações milionárias feitas em um mês – entre junho e julho de 2024. Antonio Antunes, o Careca do INSS, também aparece como sócio dessas empresas. São elas a “ACCA Consultoria Empresarial S/A”, “ACDS Call Center Ltda”, “Brasilia Consultoria Empresarial S/A”, “Camilo Comércio e Serviços Ltda” e “Prospect Consultoria Empresarial Ltda”. Milton Salvador, ou empresas relacionadas a ele, teriam recebido R$ 48,3 milhões de entidades associativas e empresas intermediárias investigadas pela PF.