As taxas de mortalidade por doenças crônicas, como câncer, doenças cardíacas e diabetes, caíram em quase 80% dos países no mundo na década que antecedeu a pandemia de Covid-19, de acordo com análise liderada por pesquisadores do Imperial College London, do Reino Unido, e publicada nesta quarta-feira (10) no The Lancet. No entanto, o progresso no combate a essas comorbidades está desacelerando em 60% dos países.
O relatório acompanhou o progresso na taxa de mortalidade por doenças crônicas ou “não transmissíveis” em 185 países, entre 2010 e 2019. O documento é considerado a avaliação mais abrangente já feita sobre o progresso global para reduzir a mortalidade por DCNTs ao nível nacional, comparando o desempenho dos países consigo mesmos e também em relação a nações vizinhas da mesma região.
Na maioria dos países, a redução nas mortes por doenças cardiovasculares, incluindo ataques cardíacos e derrame, foi o maior fator para a queda geral da mortalidade por doenças crônicas. Reduções em mortes por diferentes tipos de câncer (estômago, colorretal, colo do útero, mama, pulmão e próstata) também contribuíram.
Por outro lado, o aumento nas mortes por demência, transtornos neuropsiquiátricos e alguns tipos de câncer, como pâncreas e fígado, neutralizaram parte desses avanços.
Desaceleração global
Segundo a análise, apesar da redução no número de mortes por doenças crônicas na maior parte do globo, quase dois terços de todos os países — incluindo nações de alta renda da Europa, América do Norte, Australásia e Pacífico — experimentaram uma desaceleração na taxa de declínio da mortalidade entre 2010 e 2019 em comparação com a década anterior.
Além disso, de acordo com o relatório, os Estados Unidos tiveram um dos piores desempenhos entre os países de alta renda, experimentando a menor diminuição no risco entre 2010 e 2019.
Para os autores do documento, essas tendências mostram uma necessidade urgente de maior investimento no combate às doenças crônicas e na garantia de que as abordagens cheguem efetivamente às pessoas mais necessitadas.
“Nosso relatório mostra que, embora a maioria dos países esteja fazendo progressos para reduzir o risco de morte por doenças crônicas, em comparação com a década anterior, esse progresso diminuiu, estagnou ou até se inverteu em algumas nações”, afirma Majid Ezzati, professor da School of Public Health do Imperial College London e Imperial Global Ghana, e autor sênior do estudo.
“Em muitos países, programas de saúde eficazes, como medicamentos para diabetes, hipertensão e colesterol, além de rastreamento de câncer e tratamento oportuno de infartos, não estão chegando a quem mais precisa, deixando pessoas de fora do sistema de saúde”, completa.