Pesquisadores da Universidade de Franca (Unifran) estão decifrando como o uso de micro e nanogéis pode ajudar sementes a absorverem melhor os nutrientes, contribuindo, assim, para plantas mais saudáveis e com maior produtividade. Artigo publicado aponta que a aplicação de micro ou nano partículas de géis biocompatíveis em sementes pode aumentar em até 90% o crescimento inicial da planta.
O professor Eduardo Ferreira Molina, coordenador do projeto na Unifran, explica que o avanço no crescimento acontece porque o tratamento das sementes com esses nanopolímeros facilita o transporte e a absorção de nutrientes. “Esses polímeros formam hidrogéis à base de água, que geram estabilidade e facilitam a penetração na semente. São os mesmos polímeros utilizados nos medicamentos administrados em forma de adesivo, estabilizando e promovendo absorção da pele do paciente de maneira uniforme”, explica.
Num primeiro momento, foi testada a absorção de nutrientes à base de ferro, em cultivo de pepino. Na próxima etapa, serão testados magnésio e manganês, em cultivo de pepino e soja. “Testes já realizados com pepino e soja mostram que o tratamento promove raízes mais longas e plantas mais vigorosas nos primeiros 20 a 30 dias de desenvolvimento. Agora pretendemos ampliar o leque de aplicação, testando fertilizantes e outros nutrientes e culturas, inclusive na etapa foliar”.
O projeto de pesquisa iniciou em 2022 e deve acontecer até 2027, e conta com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A expectativa da equipe e que dentro de alguns anos a tecnologia do uso dessas nanopartículas em sementes esteja disponível no mercado. “Embora os estudos atuais estejam focados na soja — devido à sua relevância econômica para Brasil e Estados Unidos — a tecnologia pode ser adaptada para milho, tomate e outras espécies”, aponta o artigo da Unifran.
A equipe também fez testes de sustentabilidade, que mostram que o material não apresenta toxicidade para o meio ambiente. “Ensaios com minhocas, peixe-zebra e raízes de cebola, por exemplo, comprovaram que o produto não causa mortalidade nem alterações celulares, podendo ser aplicado diretamente em sementes ou no solo sem riscos ambientais”, destaca o material.
“Há ainda a perspectiva de que o sistema possa reduzir a quantidade de agrotóxicos necessária, ao permitir que pequenas doses sejam entregues de forma mais eficiente às plantas”, completa o professor Eduardo Ferreira Molina.
Para a equipe, as descobertas representam tanto um avanço científica quanto social. “Nossa pesquisa busca aumentar a eficiência da colheita de grãos e frutos, produzindo mais em áreas já cultivadas, sem ampliar o uso de recursos naturais”, finaliza Molina.