As cooperativas de crédito que atuam no Norte do país têm tentado usar a proximidade com os cooperados para entender a realidade e a necessidade de cada pessoa para apresentar soluções de financiamentos sustentáveis para a vida e os negócios no campo e nas cidades da Amazônia.
O movimento acompanha estratégia adotada em outras partes do país e colabora para a expansão da “carteira verde” dessas instituições. Informalidade e questões fundiárias ainda atrapalham a expansão do apoio financeiro à bioeconomia na terra da COP30, que será realizada em novembro deste ano, em Belém (PA).
Já são quase R$ 7,5 bilhões de recursos na carteira verde das 410 agências do Sicredi nos nove Estados da Amazônia Legal e cerca de 20 mil associados. Em 19 municípios do bioma, a cooperativa de crédito é o único agente financeiro com presença física.
Só para o financiamento de projetos de energia solar foram R$ 324,5 milhões em mais de 9,1 mil operações em 2024. A nível nacional, o Sicredi alcançou R$ 57,8 bilhões de portfólio sustentável na sua carteira de crédito nacional em julho deste ano, a maior parte aplicada em financiamentos para agricultores familiares (R$ 17,6 bilhões), agricultura de baixo carbono (R$ 7,6 bilhões) e mulheres do agro (R$ 6,7 bilhões).
Pedro Ramos, superintendente de Tesouraria do Sicredi, disse que é crescente a demanda por crédito para agricultura de baixa emissão de carbono, o que tem contribuído para a expansão da carteira verde. Por outro lado, a bioeconomia local ainda carece de esforços educacionais para sair da informalidade, uma barreira para a concessão de crédito, explicou.
“Nas regiões da Amazônia, temos dificuldade relacionada à formalização da atividade econômica, é uma das maiores dificuldades de penetrar”, afirmou. Segundo ele, alguns grupos não têm CNPJ ou mesmo área com regularização fundiária. “A informalidade torna a levada de recurso para a bioeconomia mais complexa”, completou.
A Sicredi Norte, que atua na região metropolitana de Belém e em municípios próximos, tem uma carteira de R$ 63 milhões destinados para crédito verde. A meta é ultrapassar R$ 70 milhões até o final de 2025. Cleomar Abreu, diretor-executivo do Sicredi Norte, disse que uma das estratégias é formar parcerias com instituições, como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), para a pré-análise do crédito.
“É fundamental que o esforço seja conjunto, com foco na construção de uma base de informações estruturada para identificação e classificação das operações, além de um apoio efetivo aos pequenos e médios empreendimentos na geração de evidências”, disse Cleomar Abreu, diretor-executivo do Sicredi Norte. Ele disse que o movimento pode ajudar as instituições financeiras a modelar estratégias de mitigação de riscos para viabilizar o aumento de concessão de recursos a esses setores.
O Sicoob Cooesa tem seis agências no Pará, distribuídas entre a capital, Ananindeua e Castanhal, e 8,2 mil cooperados com um “atendimento humanizado”. A carteira de linhas de crédito verde somaram R$ 3,2 milhões em 2024. O carro-chefe é o financiamento de usinas fotovoltaicas, disse Michel Brito, diretor de mercado da cooperativa financeira.
Segundo o diretor de operações da Cresol Amazônia, Douglas Barbosa, disse que as cooperativas de crédito têm um “olhar especial principalmente para aqueles que precisam” e por isso tem expandido a presença física em mais municípios, em movimento oposto aos dos bancos tradicionais.
A Cresol Amazônia atua com pequenos produtores em Rondônia e extrativistas de açaí no Amazonas. “A agenda da COP30 traz o olhar de algo que o cooperativismo já tem na essência, que é olhar para a inclusão, a cidadania e o futuro sustentável”, afirmou.
A expansão do cooperativismo e o alcance de novos públicos, disse ele, deve ser centrada na intercooperação, com auxílio mútuo de cooperativas de ramos diferentes. No Brasil, a carteira de economia verde da Cresol é de R$ 11,9 bilhões.