O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu o repasse de R$ 500 milhões em crédito para a 3tentos após o resgate de trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão em um canteiro de obras da empresa em Mato Grosso. A companhia, que está construindo uma usina de etanol de milho em Porto Alegre do Norte (MT), busca alternativas para financiar o restante da construção e, com isso, inaugurar a planta no primeiro trimestre de 2026, como prevê o cronograma.
Luiz Osório Dumoncel, presidente do conselho de administração da 3tentos, disse em teleconferência para investidores e analistas de mercado que a empresa já enviou resposta ao pedido de esclarecimentos do BNDES . Agora, a companhia aguarda uma decisão do banco sobre o repasse.
“Dos R$ 500 milhões, o banco já havia liberado R$ 200 milhões, mas os outros R$ 300 milhões dependem da resolução do caso”, afirmou Dumoncel. Segundo ele, mesmo se houver atraso, a empresa vai inaugurar a indústria no primeiro trimestre de 2026.
Cristiano Machado Costa, diretor financeiro da 3tentos, acrescentou que a companhia buscou alternativas para dar andamento à construção. “Temos caixa e acesso a crédito para concluir as obras. Sabemos que tem uma diferença de juros em relação ao crédito do BNDES, mas é algo que a gente consegue administrar”, afirmou.
A 3tentos atua na originação e industrialização de grãos e na venda de insumos. A empresa fechou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 330,8 milhões, um resultado 127,2% maior do que o do mesmo período do ano passado. Todos os segmentos de atuação — insumos, grãos e indústria — contribuíram para o crescimento, disse a companhia no balanço, divulgado na quinta-feira (14/8).
Entenda o caso
Na semana passada, o Ministério Público do Trabalho resgatou 563 trabalhadores na obra, que está a cargo da Tao Construtora. O MPT deflagrou a ação após trabalhadores revoltados incendiarem o alojamento principal do canteiro.
Segundo o órgão, os trabalhadores viviam em condições degradantes, e os alojamentos eram “extremamente precários”. Os trabalhadores dormiam em quartos superaquecidos, sem roupas de cama adequadas. Por falta de camas disponíveis, alguns chegaram a dormir no chão.
A falta de energia no alojamento causava a interrupção no bombeamento de água dos poços artesianos para as caixas d’água, deixando os trabalhadores sem água para consumo e higiene pessoal. Também houve relatos de cargas horárias de até 22 horas consecutivas e jornadas de 90 dias consecutivos sem folgas, entre outras violações.
A 3tentos informou que não tem vínculo empregatício com a construtora ou seus empregados, não participa da gestão direta sobre a obra e não tem qualquer notificação que atribua responsabilidade à empresa nesse caso.
A empresa acrescentou que acompanha os desdobramentos do caso e colabora com as autoridades para assegurar a apuração transparente dos fatos.