O Brasil vai submeter em agosto deste ano o pedido de reconhecimento internacional do status de país livre de febre aftosa sem vacinação à Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa). O resultado deverá ser divulgado em maio de 2025. Se positivo, poderá colocar a pecuária brasileira em outro patamar sanitário e abrir as portas de mercados mais exigentes mundo afora, como Japão e Coreia do Sul.
Essa foi a avaliação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que anunciaram, nesta quinta-feira (2/5), o encerramento oficial do ciclo de imunizações contra a aftosa no Brasil, com a conclusão da última etapa de vacinação em cinco Estados do Nordeste. O país se autodeclarou livre da doença e passará a pleitear o status a nível internacional.
A Omsa exige a suspensão da vacinação contra a febre aftosa e a proibição de ingresso de animais vacinados nas áreas livres por, pelo menos, 12 meses. O Ministério da Agricultura antecipou para abril a última campanha de imunização em Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A expectativa agora é que a organização realize auditoria no Brasil e divulgue o resultado em maio de 2025. Com isso, a meta de obtenção do status de país livre da doença sem vacinação, estimada para 2026, poderá ser antecipada em um ano.
Confiante na qualidade do sistema sanitário do Brasil, Fávaro acredita que o processo de reconhecimento será uma “mera formalidade”. Antes da auditoria, o governo federal e os órgãos de defesa agropecuária dos Estados deverão intensificar ações para concluir as outras etapas previstas no código de animais terrestres da Omsa para a substituição da vacinação.
Na lista, estão a necessidade de estruturar fundos de indenização, aprimorar os controles de fronteira e de trânsito, melhorar as estruturas de atendimento, garantir resposta rápida em caso de foco. “Muda-se a maneira de monitorar e eventualmente controlar em caso de surto de febre aftosa. Aumenta o nível de controle, exatamente porque fica conceitualmente mais vulnerável”, disse Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, à reportagem.
Fávaro também admitiu que o país ficará mais vulnerável sem a vacinação, mas ressaltou que os controles serão aprimorados para sustentar o novo “patamar” alcançado. Isso vai exigir reforço no sistema, como a contratação de agentes de fiscalização e a compra de equipamentos e veículos, principalmente nos Estados.
“É o início de um processo em que o Brasil troca de patamar com um grupo de elite sanitária mundial, que é muito mais difícil se manter nessa elite. Com toda a dedicação, com os estados, todo o sistema, envolvidos, vamos atingir mercados muito exigentes, mas muito recompensadores”, afirmou.
Um dos países na mira é o Japão, que só compra carne bovina e suína de países livres de febre aftosa sem vacinação. O novo status será um dos temas tratados com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, que estará em Brasília nesta sexta-feira. A abertura de mercado, no entanto, ainda deve demorar.
O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o encerramento da vacinação é histórico para o país. “O Brasil sempre sonhou em ser um país livre de febre aftosa sem vacinação, um estágio extremamente elevado de sanidade animal e de boa defesa agropecuária. Isso muda o patamar do Brasil, vai nos abrir novos mercados, elevar o preço das exportações e poder acessar mercados mais exigentes”, comentou.
O vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, disse que as empresas produtoras das vacinas têm se preparado para a retirada da vacinação ao longo dos anos e que, em caso de reintrodução da doença no país, serão fundamentais a ação rápida e a comunicação clara para evitar maiores danos. “O padrão sanitário obtido pelo rebanho brasileiro, o maior rebanho comercial do mundo, é muito importante para nós. Isso nos permite, como indústria de maneira geral, introduzir novas tecnologias e ferramentas importantes tanto na proteção quanto na produtividade do rebanho brasileiro”, disse, em nota à reportagem.
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