O novo livro do escritor português Valter Hugo Mãe, “Educação da tristeza”, surgiu em meio ao luto de duas grandes perdas: a morte de seu sobrinho Eduardo, aos 16 anos, por conta de um câncer, e a morte de sua amiga de longa data, a artista plástica Isabel Lhano, aos 70 anos.
No Brasil para lançar a nova obra, e onde participou da FLIP 2025, Valter conversou com a CNN sobre o luto, o desafio de conviver com a ausência física daqueles que amamos e como a morte não pode ser vista como o fim das relações.
“Eu tenho alguma convicção de que é impossível roubarem-nos as pessoas que amamos”, disse ele. “Ainda que não estejam fisicamente aqui, aquilo que eu profundamente sinto é que elas também não estão ausentes.”
“Muito pelo contrário, nem a Isabel, nem o Eduardo, foram reconduzidos a um vazio ou a um nada. Eles são os dois abundantes na minha vida. Meu cotidiano é repleto de situações onde um e outro participam, onde eles estão presentes através de uma lembrança, através de uma espécie de ofício que ainda desempenham, há uma utilidade deles na minha vida que é constante”, acrescentou.
O luto aparece em outras obras do escritor português, mas esta é a primeira vez que ele entrega ao mundo um livro de não-ficção, contando sua experiência pessoal com o tema, que parece ser inescapável aos grandes escritores.
Segundo Valter, a escolha pela não-ficção ocorreu por acaso, ao perceber que seus textos sobre o “desaparecimento” das pessoas podiam resultar numa obra coesa. Afinal, escrever sobre a morte de pessoas queridas é, também, uma maneira de fortalecer sua presença na vida.
“Há uma fisicalidade no objeto que permite que alguma coisa esteja francamente presente, é algo que dá certo corpo às pessoas que me desapareceram“, disse.