Não tem para onde correr. É esse o sentimento descrito por produtores de grãos diante dos termômetros que batem os 40º graus no Centro-Oeste do Brasil e marcam mais de 30º no Estado de São Paulo. Ainda sob efeito do El Niño, abril foi mais um mês marcado por extremos climáticos em diferentes partes do país.
“Áreas produtoras do interior do país ainda vão enfrentar calor extremo e tempo seco no decorrer dos próximos dez dias”, alerta a meteorologista Desirée Brandt.
De acordo com as previsões da especialista, da metade até o final da próxima semana haverá uma frente fria que conseguirá avançar para as regiões Central e Sudeste, mas deve provocar precipitações no máximo entre o Paraná e o sul de Mato Grosso do Sul. Em contrapartida, no centro, oeste e norte paulistas, a área de alta pressão vai impedir a chuva.
“A combinação de tempo seco, ensolarado e com ventos de norte garante temperaturas ainda bem elevadas nestas áreas no decorrer dos próximos dias. Sem dúvidas, essa condição deve provocar estresse hídrico nas lavouras de cana-de-açúcar, de milho e demais cultivos, especialmente os que se encontram em fase de desenvolvimento e enchimento de grãos”, prevê Brandt.
Em Goiás, por exemplo, os agricultores que estão com o milho plantado em fase de desenvolvimento vegetativo confirmam, na prática, as consequências descritas pela meteorologista. Rogério Vian, que é produtor de grãos no sudoeste goiano, relata que se não chover mais nos próximos dias, a quebra da safra de milho pode ultrapassar a marca de 70% do que está plantado.
“Na minha região, faz 16 dias que não chove e o calor está começando a prejudicar as lavouras de milho principalmente. Tem áreas mais argilosas que suportam mais dias sem chuvas, as outras (menos argilosas) já estão sentindo bastante o sol escaldante”, descreve.
O produtor de soja e milho administra cerca de 750 hectares em Mineiros e Caiapônia também disse que o “corte” brusco de chuvas, que ocorreram em março até início de abril, fez com que as plantas tivessem um choque, já que estavam acostumando-se com água em abundância e, de repente, tiveram que se adaptar à estiagem extrema.
“Isso dá um estresse grande na fisiologia da planta”, atentou. “[As reações] dependem muito do estágio do milho – se já está em enchimento de grãos, se está pendoando ou se ainda não soltou o pendão. Mas uma coisa é certa, se não chover mais nos próximos dias mais de 70% do milho vai ter uma quebra bem acentuada, pois não há como colher antes, exceto se for para fazer silagem”, agregou.
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