Você realmente pode morrer de um coração partido após a perda de um ente querido, especialmente se o luto for avassalador, mostram novas pesquisas.
Parentes enlutados que apresentaram “altos níveis” de sintomas de luto tiveram maior probabilidade de morrer nos 10 anos seguintes à perda, em comparação com aqueles que tiveram “baixos níveis” de luto, segundo um estudo publicado na sexta-feira (25) na revista Frontiers in Public Health.
No estudo, a coautora Mette Kjærgaard Nielsen, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e seus colegas investigaram os desfechos de saúde a longo prazo de parentes enlutados na Dinamarca ao longo de 10 anos, dividindo os 1.735 participantes em grupos que apresentaram “baixos níveis” e “altos níveis” de sintomas de luto.Play Video
Durante o período do estudo, 26,5% dos parentes com altos níveis de luto morreram, comparados a 7,3% daqueles menos afetados.
Esses “altos níveis” de luto são definidos como a presença de mais da metade dos nove sintomas de luto identificados pelos pesquisadores. Entre eles estão sentir-se emocionalmente entorpecido ou achar que a vida perdeu o sentido; ter dificuldade em aceitar a perda; e sentir confusão em relação à própria identidade.
Os participantes foram convidados a preencher questionários no momento da inscrição no estudo, assim como seis meses e três anos após o falecimento do ente querido, o que permitiu aos pesquisadores coletar informações sobre seus sintomas.
Ao mesmo tempo, os pesquisadores observaram com que frequência os participantes do estudo interagiam com o sistema de saúde, descobrindo que parentes com altos sintomas de luto também utilizavam mais medicamentos antidepressivos, serviços de saúde mental e cuidados primários.
“Aqueles com uma trajetória de luto intensa parecem ser um grupo vulnerável de parentes já antes do falecimento, necessitando de atenção especial,” disse Nielsen à CNN por e-mail.
“Eles podem precisar de apoio adicional. Podem sentir sofrimento e ter dificuldades para lidar com a situação,” acrescentou, apontando para estudos anteriores que destacam o baixo status socioeconômico, a saúde autorrelatada precária e níveis mais elevados de sintomas de depressão e ansiedade como fatores que contribuem para um luto avassalador.
Mesmo considerando esses fatores de risco, os pesquisadores “fizeram um bom trabalho” ao isolar o efeito específico do luto, afirmou à CNN Sian Harding, cardiologista e professora emérita de farmacologia cardíaca no Imperial College London, que não participou da pesquisa.
Uma das “principais características” do artigo, segundo ela, é sua perspectiva longitudinal, já que “sabemos muito bem que há um efeito agudo de qualquer tipo de luto na saúde do coração.”
“Não foi uma surpresa para mim que essa forma específica de estresse, embora prolongada, tenha um efeito prejudicial no corpo. Isso pode se manifestar especialmente como doença cardíaca, mas também em outras condições,” acrescentou Harding.
Embora este estudo não tenha investigado as causas de morte dos parentes enlutados, ele está alinhado com pesquisas mais amplas que mostram o impacto que uma perda traumática pode ter na saúde física de uma pessoa.
Uma condição cardíaca conhecida como síndrome do coração partido — também chamada de cardiomiopatia induzida por estresse ou cardiomiopatia de Takotsubo — é um fenômeno agudo bem estabelecido, desencadeado por situações extremamente estressantes, como a perda de um ente querido.
O estresse prolongado causado pelo luto pode também elevar a pressão arterial, aumentar os níveis de cortisol, aumentar o risco de diabetes e prejudicar a saúde mental, explicou Harding. Ela também destacou pesquisas anteriores sobre a síndrome do coração partido que apontaram que algumas pessoas morrem no aniversário da perda.
Os resultados do estudo mais recente sugerem que os profissionais de saúde “podem ser capazes de identificar parentes em sofrimento logo no início da trajetória da doença do paciente e oferecer acompanhamento,” afirmou Nielsen.