Existe um ditado popular que diz que ser avó é ser mãe duas vezes. No caso de Natercia Zerboni da Costa, de 88 anos, essa é uma verdade absoluta. Conhecida como Dona Natercia, ela se viu no papel de mãe novamente já na terceira idade, ao assumir a responsabilidade da criação de seus netos, Caterine e Adelson, hoje com 25 e 17 anos, respectivamente.
Sua filha virou mãe jovem e, com dificuldades para criar os filhos, Dona Natercia passou a cuidar dos pequenos em tempo integral quando tinha mais de 60 anos. “Não foi fácil, mas foi com muito amor e muito carinho e, graças a Deus, eu fui dando conta e voltei a ser mãe”, relata à CNN.
Anos depois, com os dois netos já grandes, Dona Natercia considera que fez um bom papel como avó-mãe. E Adelson reconhece isso. “Eu tenho muito orgulho de ter sido criado por ela, eu não desejo nada diferente disso”, afirma à CNN. “A minha avó foi uma mulher muito independente, que procurou seguir sempre a própria vida e fez as coisas por conta própria, e ser criado por uma mulher assim me trouxe muitas qualidades”, completa.
Hoje, como forma de gratidão, Adelson acompanha a avó em muitas de suas tarefas diárias. “Ela continua sendo uma mulher muito independente. Ela tem 88 anos e ainda dirige, vai à praia e faz exercícios sozinha. Mas nós estamos retribuindo os cuidados com a companhia e alguns auxílios, principalmente no que diz respeito à tecnologia”, conta.
Laços afetivos e companhia familiar são fundamentais para bem-estar do idoso
A convivência familiar e social e os laços afetivos são de extrema importância para a saúde e bem-estar mental do idoso. Estudos já mostraram que a solidão na velhice aumenta o risco de doenças como depressão, ansiedade e demências.
No ano passado, um trabalho publicado na revista Nature Mental Health mostrou que se sentir solitário na velhice aumenta em 31% o risco de desenvolver demências e eleva em 15% a probabilidade de comprometimento das funções cognitivas, como memória e concentração.
“A pessoa sozinha fica mais triste, começa a ter falhas de memória porque não está conversando muito, começa a ter sintomas depressivos e acaba, também, fazendo menos atividade, porque não sai de casa”, afirma Roni Mukamal, médico geriatra e superintendente de Medicina Preventiva da MedSênior, à CNN. “É um problema de saúde pública.”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera o isolamento social uma verdadeira epidemia, afetando um em cada quatro adultos. De acordo com a entidade, a solidão é capaz de aumentar em 25% o risco de morte, em 50% o de demência e em 30% o de doença cardiovascular.
“O cérebro tem uma plasticidade e funciona como um músculo: quanto mais estimulamos, mais ele hipertrofia”, afirma Mukamal. “Nós precisamos estimular o cérebro, e isso é feito não somente estudando, mas tendo curiosidade, conversando com pessoas diferentes, vivendo desafios. Tudo isso mantém as funções cognitivas preservadas”, explica.
As emoções e os laços afetivos também são importantes fatores protetores da cognição no idoso, já que geram substâncias positivas no cérebro, de acordo com o geriatra. “Quando ele convive com outras pessoas, ele se sente pertencente à sociedade”, afirma.
Esse convívio também deve ocorrer com outras gerações, assim como Dona Natercia e Adelson. “Essa troca de gerações é muito benéfica para incluir o idoso nas pautas atuais da sociedade, nas tecnologias recentes e com as mudanças que ocorrem”, avalia Mukamal. “A troca de duas gerações é fantástica porque permite um aprendizado do idoso com o jovem, e do jovem com o idoso”, completa.
É preciso oferecer apoio, sem deixar a autonomia de lado
Embora o cuidado e o apoio físico e emocional sejam importantes para a saúde e bem-estar do idoso, é preciso, também, permitir que ele exerça sua autonomia, principalmente se não houver limitações impostas por doenças ou condições neurológicas, como Alzheimer ou Parkinson.
“O idoso não é uma criança. Ele já viveu tudo o que tinha para viver, então é preciso respeitar sua autonomia”, afirma Mukamal. Para isso, é preciso chegar a um equilíbrio: manter-se vigilante e próximo do idoso, mas não inferir naquilo que ele consegue (e quer) fazer sozinho.
Para manter esse equilíbrio, alguns passos são importantes. O primeiro deles é ser proativo: não esperar que o idoso precise de ajuda para oferecer essa ajuda. Outro passo é manter-se presente e lembrar de criar uma rotina com ele, como combinar visitas semanais, e acompanhar se tratamentos médicos estão sendo feitos da maneira correta, orienta o geriatra.
É o que Adelson e Caterine fazem com Dona Natercia. “Nós fazemos companhia nos lugares a que ela tem que ir, até porque uma pessoa de 88 anos precisa de alguém disponível para qualquer necessidade ou imprevisto. Mas, honestamente, ela ainda cuida mais de nós do que nós dela”, afirma o neto.